Por André Nogueira
Líder após a morte de Lampião, o alagoano ficou conhecido pela brutalidade e pouca diplomacia.
Corisco,
principal alcunha do cangaceiro alagoano Cristino
Gomes da Silva Cleto, entrou para o banditismo após ser declarado de morte
por um coronel de Água Branca, ao matar um de seus homens. O jovem alto, bonito
e forte adentrou ao grupo do Capitão Virgulino Lampião. Rapidamente, por suas
habilidades físicas (e pouco diplomáticas), ele ganhou a confiança do
sanguinário e se tornou principal líder de subgrupo de bandoleiros.
Assim, Corisco
ganhou autonomia como comandante de ações, tendo praticamente o próprio bando.
Nesse tempo, cometeu diversos crimes violentos, pelos quais era famoso. Pelas
poucas palavras, ações sangrentas e mechas douradas, ficou conhecido como o
Diabo Louro.
Brutalidade
Uma das ações
mais brutais de Corisco foi o estupro
de Dadá, ação que levou a mulher a sofrer uma hemorragia muito séria, e
quase resultou em seu óbito. Sequestrada, ela se casou com o cangaceiro e
passou a viver junto a ele, se tornando uma das mais brutais mulheres do
cangaço. Contam às histórias que Corisco aprendeu com Dadá a ser mais gentil e
delicado e a relação de ódio e imperatividade entre os dois se tornou um caso
de amor.
Corisco e
Dadá, em imagem colorizada / Crédito: Rubens Antonio
Ao mesmo tempo
em que arisco, o cangaceiro ensinou a esposa a usar armas, ler, escrever e
contar, coisa que aprendera antes de entrar para o crime aos 17 anos. Porém,
essas habilidades não impediam o líder do cangaço de ser um brutal e
sanguinolento bandido.
Filhos
Corisco e Dadá
tiveram sete filhos, mas apenas três deles sobreviveram aos primeiros anos e
foram enviados para as cidades, para que não crescessem nos bandos nômades do
sertão. Devido a algumas alianças com coronéis, ele conseguiu uma boa vida para
esses sobreviventes.
As abordagens
de Corisco corriqueiramente apelavam para a ironia. Ao mesmo tempo em que
posava de superior, ele tratava de maneira violenta, e às vezes até sádica,
suas vítimas. Lidando dessa maneira com populações pobres, Corisco e Lampião marcaram
uma virada no cangaço, que no século 19 não tinha como horizonte possível um
trato forçoso e sangrento com as vitimas da exploração sertaneja.
Há relatos de
abordagens de Corisco em que a violência é usada apenas como diversão,
principalmente contra populações indefesas. Muitas vezes, o cangaceiro não
fazia distinção entre um comboio milionário e um sertanejo pobre.
Bando de Lampião, por Benjamin Abraão / Crédito: Domínio Público
No entanto, o
caso de violência mais famoso do Diabo Louro ocorreu após o assassinato do
bando de Lampião pelas volantes em Angicos, 1938. Após uma emboscada enquanto
os bandidos dormiam, os policiais degolaram onze cangaceiros, entre eles
Virgulino e Maria Bonita. Como Corisco e Dadá estavam distantes, na Fazenda
Emendada, eles sobreviveram. Tornando-se os novos reis do cangaço, partiram
para a vingança.
Atrás dos
traidores que entregaram a localização de Lampião à polícia, Corisco descobriu
com Joça Bernardo o local da fazenda de um antigo aliado, José Ventura Domingos
e, lá, matou e degolou o fazendeiro e sua esposa, crendo completar sua
vingança. Depois, matou os filhos de José. Acontece que, na verdade, Corisco
fora enganado: o verdadeiro traidor de Virgulino fora
o próprio Joça Bernardo, que tapeou o Diabo Louro para fugir.
A informação
rapidamente se disseminou, pois Corisco enviou as cabeças degoladas ao tenente
João Bezerra.
Tentativa de
redenção
Então, as
autoridades volantes saíram em busca de Corisco. O governo Vargas aumentara a
patrulha e a estratégia contra os cangaceiros, e cada vez mais os líderes erram
derrubados. Num ataque, o Diabo foi baleado de uma maneira que sua mão direita
ficou paralisada. A partir de então, Dadá se tornou a atiradora do grupo. Suas
alianças rapidamente deixaram de existir: os coronéis não gostavam dele, que
era muito bruto.
Corisco, por Benjamin Abraão / Crédito: Wikimedia Commons
Por dois anos,
Corisco conseguiu fugir das autoridades dos estados e do Exército, sem angariar
mais confidentes. Por esse motivo, em maio de 1940, ele dissolveu o bando e
saiu sozinho com Dadá pelo sertão baiano, buscando refúgio. Cortou o cabelo,
passou a se vestir como vaqueiro e deu início a um planejamento em que
pretendia largar o banditismo e
recomeçar a vida.
Todavia, antes que isso fosse possível, eles foram novamente abordados pelas volantes: mesmo querendo se entregar, aproveitando a lei de Vargas que anistiava cangaceiros desistentes, ele declarou não ver Zé Rufino, policial que o atacara em Barra do Mendes, como digno de sua captura. Resistindo, foi metralhado na barriga, tendo seus intestinos lançados para fora. Viveu por mais dez horas, morrendo naquele mesmo dia.
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