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domingo, 28 de agosto de 2022

A PRISÃO DOS MISSIONÁRIOS AMERICANOS

Por Beto Rueda

No dia 29 de novembro de 1930, Lampião estava descansando na casa grande da fazenda Riacho Verde do amigo José Malta, ao lado de Mata Grande, quando trouxeram a sua presença alguns sujeitos branquelos, de fala enrolada, que foram aprisionados pelos cangaceiros a meia légua da cidade. Eram missionários americanos. Havia também uma mulher. O líder era o missionário Virgil Frank Smith. Estavam acompanhados do professor de matemática Maurício Wanderley. Lampião perguntou ao missionário como era o seu nome e o que fazia. Como o americano não se expressava bem em português, o professor Maurício explicou: - O nome dele é Virgílio, capitão. É um religioso americano e está ensinando o caminho certo ao povo.

-Então somos colegas - disse Lampião. Porque eu também estou corrigindo os erros dessa gente. Diga a ele o que é que eu faço com mulher de vestido curto e cabelo cortado... E diga também que eu quero onze contos para soltá-los.

Os missionários entregaram tudo o que tinham - umas cédulas e umas moedas. Lampião devolveu as moedas:

-Toma isso que eu não sou cego para aceitar moedas de vintem. Tratem de arranjar o resto do dinheiro.

Os missionários não tinham mais dinheiro. Mas quem disse que estavam preocupados? Diziam-se felizes por terem a oportunidade de pregar o evangelho para aquelas criaturas, que também eram filhos de Deus. Começaram a ler trechos da bíblia em voz alta e cantar hinos de louvor. Lampião impacientou-se:

-Meninos, soltem esses cabras e mandem embora que eu não aguento mais essa "zuada"!! Para rezar precisa gritar tanto? Será que eles pensam que Deus é surdo???

Fonte:

IRMÃO, José Bezerra Lima. Lampião, a raposa das caatingas. Salvador: JM Gráfica e Editora, 2014. 369p.

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