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sábado, 18 de fevereiro de 2023

A COLUNA PRESTES NO RIO GRANDE DO NORTE - I

Por Tomislav R. Femenick – Membro do Instituto Histórico e Geográfico do RN.

A Coluna Prestes era formada por militares rebeldes, principalmente pelos de São Paulo e do Rio Grande do Sul. Seus principais líderes foram Luís Carlos Prestes, Juarez Tavola e Miguel Costa. Em 1924 alguns deles já tinham tentado fazer uma revolução, tomando o Forte de Copacabana, mas fracassaram. Formados em pelotões, a Coluna percorreu cerca de vinte e cinco mil quilômetros pelo interior do país, fazendo uma “guerra de movimentos” e enfrentando as forças do governo. No final de 1926, com a metade dos homens dizimados pela cólera e sem condições de continuar a luta, se refugiou na Bolívia.

Porém no início daquele ano, no dia 3 de fevereiro, tropas rebeldes da Coluna Prestes realizaram o seu primeiro ataque no Rio Grande do Norte, contra a cidade de São Miguel. A luta foi travada por 70 revoltosos, militares treinados, contra quatro soldados da polícia do Estado e 28 atiradores (pistoleiros?), “num tiroteio que durou das quatro horas da tarde até ao crepúsculo, com um rebelde morto e dois legalistas feridos. Um destes [...] caiu nas mãos dos rebeldes e foi degolado”. A população mais abastada de São Miguel fez uma verdadeira debandada da cidade, quando se noticiou que outros mil rebeldes estavam se dirigindo para lá. No dia seguinte a cidade foi saqueada pelos integrantes da Coluna Prestes, que invadiam residências e lojas “arrebentando móveis e destruindo objetos que não podiam usar ou transportar. [...] Partiram no mesmo dia em que chegaram, depois de queimar o [Cartório de] Registro de Título e Documento” (SILVA, 1966; MACAULAY, 1977). De São Miguel foram para Luiz Gomes, onde repetiram o saque, invadiram e destruíram lojas e residências, levando tudo o que podiam, e novamente incendiaram o Cartório local.

Antes desses ataques, várias cidades do Estado se viram ameaçadas de invasão pelos tenentes rebeldes. No dia 31 de janeiro, quando o jovem Padre Luiz Ferreira da Mota (o célebre Padre Mota que depois viria a ser vigário geral, prefeito e deputado estadual) tomava posse como o novo vigário de Mossoró, correu a notícia de que os revoltosos da Coluna Prestes estavam na iminência de atacar a cidade. Em ata paroquial, o Padre Mota registrou o impacto que a notícia de um provável ataque da Coluna Preste a Mossoró teve entre a população da cidade. Dizia ele:

“Neste mesmo dia, espalhou-se pela cidade o terror da notícia de que os revoltosos se encaminhavam para nossas fronteiras, noticia que foi divulgada pela manhã, e logo começou o êxodo da população. Quando me dirigia para a Matriz, às 8 e meia, para a posse, fui, com surpresa, avisado do que se passava e sobretudo de que certas pessoas de autoridade e responsabilidade já haviam abandonado, precipitadamente, a cidade. Diante desta situação, resolvi fazer um apelo de tranquilidade ao público, para melhor se resolver a situação e convocar uma sessão de todas as autoridades e pessoas de responsabilidade, o que fiz de púlpito, com palavras repassadas de fé no patrocínio de nossa Virgem Padroeira, Santa Luzia, e também de confiança no patriotismo do nosso povo. A sessão realizou-se no mesmo dia, a 1 hora da tarde, no edifício do Colégio Diocesano, com grande comparecimento de povo e nela tomaram-se medidas que são do domínio público. Daí por diante, nos dias de aflição e apreensão para o nosso povo, sempre tomei a dianteira de todas as manifestações cívico-patrióticas pela defesa da nossa cidade, procurando, sobretudo despertar o ânimo do povo, aconselhando a calma, prudência e permanência na cidade, para guarda dos acontecimentos. Aprouve a Deus que tudo se passasse sem desgraças e atropelos para nosso povo; os rebeldes tomaram outro rumo e nossa população voltou à paz do costume, que a caracteriza. Todos [nós] reconhecemos, nesta salvação de tamanho flagelo, [que foi] o dedo de Deus que nos protegeu, por intercessão da nossa querida Padroeira Santa Luzia. Em reconhecimento de tão grande graça, cantou-se um ‘Te Deum’ solene, em ação de graças, no domingo, 21, pelas 5 horas da tarde” – Texto transcrito do livro do tombo da igreja de Santa Luzia, em Mossoró-RN.

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