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domingo, 13 de outubro de 2024

QUEROBINO

 Clerisvaldo B. Chagas, 10 de outubro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.124

Os mais velhos falavam em Santana do Ipanema, que o homem mais mentiroso da região era tal Querobino. Segundo uns poucos, esse indivíduo teria trabalhado no DNER – Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, Residência Santana. Mentia por lazer. Muito embora no meu tempo o maior de todos era o Lulu Félix< mas deixemos o Lulu para um outro trabalho. Pelo que contam, Querobino era mais ou menos como o Lulu, chegava de mansinho nas rodas de conversa e terminava soltando as deles, muitas vezes a pedido da plateia sequiosa. Lembro com clareza apenas uma das suas inúmeras mentiras soltas no mundo. Certa vez fora caçar e ficara numa espera aguardando bando de cardinheiras que iriam chegar à bebida. Naquele momento teve a ideia de pegar muitas cardinheiras de uma vez. Dirigiu-se a um lajeiro próximo e passou leite de jaca em toda a superfície do lajeado. Aguardou até a hora certa quando as aves migratórias começaram a chegar e posarem no lajeiro. Sentavam e ficavam grudadas. Quando ele viu que o lajeiro estava repleto de aves presas., correu para lá com um saco. Mas...  Qual não foi a surpresa! As cardinheiras, ao pressentirem que seriam capturadas fizeram tanta força para se despregarem que carregaram o lajeiro pelos ares.

O homem se tornou um personagem muito querido e solicitado nas palestras entre amigos. Estava bastante famoso na região sertaneja. E num tempo em que não havia televisão, as mentiras de Querobino divertiam jovens e adultos que procuravam rir de graça.

Certa feita o homem se aproximou de uma roda grande de pessoas que falavam de inúmeros assuntos sérios. Vendo Querobino chegar tristonho e sem falar com ninguém, disseram: “Querobino, rapaz, que bom você ter chegado, conte aí uma mentirinha”. E o homem com ares de tristeza: “Hoje não posso, acabo de perder a minha mãe e estou fazendo uma vaquinha para o seu enterro. Naquele momento a turma começou a lhe dá os pêsames, metendo a mão no bolso e enchendo-lhe às mãos de dinheiro. Querobino agradeceu a todos e foi saindo. Alguém se lembrou de perguntar com o homem já distante: “Querobino, quando é o enterro? E ele:

“ Não sei! Vocês não me chamaram para contar uma mentirinha!

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