Clerisvaldo B. Chagas, 22 de novembro de 2024
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.151
Sim, todos
aqueles personagens que moravam perto do rio Ipanema, naquela rua sem
calçamento, repleta de barro de louça, sabiam de sobra o que era a pobreza e a
miséria. Alípio, Tributino, Mário Nambu, Zefinha, Antônia, Abelardo, Arnaldo,
jisus, a prostituta Tina e a vasculhadora de casa Maria Lula. Estamos falando
dos anos 50-60, em Santana do Ipanema. Oscar Silva já havia escrito um romance
Maceió-Sertão, mas havia sido há mais de trinta anos passado: “Água do Panema”.
Estou lamentando que nem eu, por não ter pensado nisso antes, e nem outro
escritor da terra, fez um romance com os personagens acima, narrando o
cotidiano daquele lugar. Falei várias vezes em crônicas e vou lembrar novamente
Maria Lula. Todos moravam defronte do curral de gado do senhor José Quirino.
Na última casa
da rua, casa pequena e de taipa, Maria Lula vivia sozinha. Olhos azuis, alta,
forte, branca galega, parecia uma alemã. De modo grosseiros, não era bonita.
Sempre estava indo ao Ipanema, lavar a roupa e apanhar água para beber.
Transportava pote de barro com água de cacimba, ou no ombro ou na cabeça, com
rodilha. Era convidada pelas casas de pessoas abastadas, para vasculhar a casa,
usando vassoura de palha e vara comprida. Vez em quando, Maria Lula tomava uma
bicada de “cana”, o que a deixava mais vermelha do que chapéu de mestra de
pastoril. Maria Lula também podia abastecer alguém com água do pote.
E bem que um romance de amor naquele terreno escorregadio de inverno, seria interessante: Maria Lula, vasculhadora; Mário Nambu cantor; Tributino, pescador; Zefinha, engomadeira; Antônia, lavadeira; Alípio, ébrio e ex-jogador do Ipanema; Jisus, carregador de sacos; a vizinhança: Genésio, sapateiro, Zé Preto e Joaquim, manganheiros, Silvino Sombrinha, consertador de guarda-chuva; Santana e Carrito, bodegueiros; Tina, prostituta; Caçador, policial civil; Zé Limeira, fazedor de malas; Nego Tonho, muito novo.... Veja que romance supimpa! Quem sabe... Quem sabe... Quem sabe!
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