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quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Seu castigo era pior que a morte

Lampião sangrava seus inimigos como se fossem bois, e os castrava como bodes

Depois de quase setenta anos,
 o ex-cabo Davi Jurubeba ainda sente ódio

No dia 7 de junho de 1997, o Diário de Pernambuco publicou o seguinte artigo:

O cangaceiro Lampião foi quem sistematizou no sertão nordestino, o sequestro e resgate. O rei do cangaço também se colocava à disposição dos coronéis amigos e protetores, que lhe forneciam mantimentos, armamentos e munição, em troca da utilização do seu bando como “grupo de extermínio”. Esses coronéis e os próprios cangaceiros viviam financiando a abertura de negócios. Uma pessoa que quisesse abrir um comércio recebia o empréstimo a juros. “Agora, se não pagasse, eles iriam atrás”, revela detalhes das ações do maior dos cangaceiros, o historiador da Fundaj, Frederico Pernambucano de Melo.


Frederico Pernambucano de Melo

Por causa disso, nem sertanejo que ainda hoje o detesta e o compara aos bandidos atuais. A lista de crueldades e castigos aplicados pelo cangaceiro e seu bando é extensa.


Seu punhal, com 45 centímetros de lâmina, ficou tristemente famoso: a arma era utilizada para sangrar os inimigos traidores, ou seja, era enfiado pelo pescoço de cima para baixo em direção ao abdômen da vítima, que morria com todos os órgãos vitais perfurados.
O sangramento revela o historiador Frederico Pernambucano de Melo, era uma prática herdada da cultura medieval que ainda dominava o Sertão do Nordeste. A técnica era igual à técnica de sangramento do gado, aplicada pelo colonizador do Sertão. O corte da orelha é igual ao corte que marcava o bode. A castração do homem era igual àquela realizada no bode ou no carneiro. Retirava-se a bolsa escrotal com os testículos, mantendo-se o pênis. A assepsia era feita com a colocação de cinza, sal e pimenta. “Essa técnica foi aplicada pelo cangaceiro

Virgínio está no centro, ao lado direito de Durvalina

Virgínio, chefe de um dos bandos, no camponês Manuel Luiz Bezerra. Eu entrevistei e vi como foi feito o corte. Relata Frederico Pernambucano de Melo".
Na memória dos primos Davi Gomes Jurubeba, 95 anos, e

João Gomes de Lira - faleceu recentemente aos 96 anos

João Gomes de Lira de 82, o nome Lampião é associado imediatamente a muito sangue, um ódio imenso e vários combates, Juntos, testemunharam muitos desses crimes e integraram a mesma volante que combateu Virgulino Ferreira pelo sertão pernambucano. Apesar da idade avançada, os dois guardam detalhes daquela época. Jurubeba passou oito anos na polícia: foram 15 combates contra o cangaceiro, a maioria deles na pequena Nazaré (hoje, Carqueja, distrito de Floresta, a 434 quilômetros do Recife).

 
Lampião e seu bando

Jurubeba viu um irmão e seus primos morrerem. Fica revoltado quando se fala em homenagear o rei do cangaço. “Ele e seu bando cercaram o riacho da Barra, tomaram conta do povoado ao redor, estupraram todas as moças. A mulher do médico, de quem queriam roubar, também foi estuprada, entrou em coma e morreu. Ele era bom!” questiona. “Queremos pegar um bárbaro desse e fazer festa para ele. Além disso, ele castrou civil, que recusaram ajuda, furou olhos e cortou língua”.
A relação entre cangaço e Justiça é o tema da pesquisa do juiz de Direito de Triunfo, Assis Timóteo Rodrigues, 50 anos, que lançará no próximo ano o livro Lampião e a criminologia de sua época. O trabalho é resultado de pesquisas que o juiz realiza por cidades de cinco estados nordestinos onde o cangaceiro esteve. Vasculhando os precários arquivos dos cartórios nordestinos, em busca de processos contra Virgulino Ferreira, ele chegou à conclusão que, se ele tivesse sido julgado por todos os crimes, seria a condenação a mais de mil anos de prisão. Os assaltos, roubos, extorsões e homicídios eram seus crimes mais comuns. Mas ele nunca compareceu a nenhum julgamento. Ainda segundo Timóteo, os advogados que patrocinaram as defesas de Virgulino e seus cabras, deixaram de lado o aspecto. Criminológico, e sequer trataram o cangaço como isso social.
“Os homens nomeados para a defesa de Lampião eram rábulas, sem conhecimento do Direito Penal e de outras ciências, como Antropologia, Sociologia e Medicina Legal.


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