Por Geraldo Maia do Nascimento
O Padre Longino foi o primeiro sacerdote mossoroense a celebrar missa na então Capela de Santa Luzia de Mossoró. Mas não foi esse fato que o tornou famoso na região, fazendo com que sua história fosse contada por gerações seguidas. Foi sua bravura, sua maneira diferente de ser.
Francisco
Longino Guilherme de Melo nasceu na Fazenda Cumurupim, no Arraial de Santa
Luzia do Mossoró, sendo filho de um rico fazendeiro da Ribeira, o capitão Simão
Balbino Guilherme de Melo.
No
dia 2 de fevereiro de 1827 chega o mesmo a Mossoró, vindo de Olinda, onde se
ordenara. Toda a população da Ribeira estava presente para assistir a primeira
missa cantada pelo novo sacerdote, primeiro mossoroense a se ordenar. Os
habitantes da Ribeira viam no novo sacerdote uma nova era de luz e prosperidade
para Mossoró. Não sabiam eles como estavam longe da verdade.
Padre
Longino mostrou bem cedo que não havia nascido para vestir batina e sim uma
farda militar. Por causa de desentendimentos, passa a ter vários inimigos,
principalmente João Ferreira Butrago, homem de má índole e assassino. Para se
vingar do padre, forma um bando de marginais. O Padre Longino, por sua vez,
mandou vir capangas do sertão, os quais reunidos a alguns de seus parentes,
formaram também um outro grupo armado, pronto para enfrentar os inimigos. E
Mossoró passa a assistir uma série de batalhas, uma verdadeira guerra entre os
dois grupos. Diz a tradição que dentre os muitos encontros armados entre os dois
grupos, salientaram-se dois que são considerados como os mais sangrentos, nos
quais o grupo do padre tomara a defensiva, repelindo os Butragos com perdas de
algumas vidas.
Várias
emboscadas foram armadas para o padre pelos Butragos, sendo que o mesmo sempre
conseguia escapar, graças a sua astúcia.
O
comportamento guerreiro do padre fez com que a população o desprezasse e jamais
assistisse um ato religioso celebrado por ele.
Em
1842 foi criada a Freguesia de Santa Luzia; em 1844 foi nomeado Vigário Colado
desta Freguesia o Padre Antônio Joaquim Rodrigues.
Em
1845 o Padre Francisco Longino retira-se de Mossoró, indo morar por algum tempo
pelo interior da Província do Ceará, internando-se mais tarde pelas Províncias
do Piauí e Maranhão.
Com
a saída do Padre Longino, os Butragos, que já não moravam mais no povoado,
acalmaram-se também e a paz volta a reinar em Mossoró. E por muito tempo não se
ouviu falar do padre bandoleiro. Até que em 1872, depois de vinte e sete anos
de ausência, volta a Mossoró o Padre Longino, velho, cansado e quase cego. E
pra sua surpresa, encontra uma grande quantidade de cavaleiros, que tomando
conhecimento de sua vinda, vão esperá-lo na entrada da cidade, curiosos para
conhecer o Padre Longino, personagem viva de tantas histórias de bravura. A
curiosidade ambiente era tão grande que uma multidão se acotovelava para vê-lo.
O Padre Antônio Joaquim o acolheu fraternalmente, com a piedade unânime da
população. Embora muito mudado pelo tempo, o gênio era o mesmo. Quando lhe
perguntaram: - Então o senhor cegou?... Longino respondeu, feroz: - É verdade.
Ceguei. Ceguei de ver gente ruim...
Desde
que deixara Mossoró, o Padre Longino tornara-se vigário de várias freguesias do
Piauí, indo algumas vezes à cidade de São Luís do Maranhão, onde encontra-se
com o Bispo da Diocese. E foi num desses lugares, no centro do Piauí, que
travou conhecimento com uma tribo de índios e dedicou-se a catequiza-los. Conseguiu
batizar toda a tribo, educando-os no trabalho agrícola.
Chegando
em Mossoró, Padre Longino ainda encontra alguns dos seus inimigos vivos, entre
os quais João Ferreira Butrago, que já contava com mais de noventa anos. Este,
em conversa com o Padre Antônio Joaquim, teria dito que não procuraria ofender
ao Padre Longino, porém, se tivesse oportunidade de o encontrar, levando uma
arma de fogo, daria um tiro no mesmo. Quanto ao Padre Longino, morou por algum
tempo em Mossoró, residindo na Rua da Palha, onde serviu como capelão e mais
tarde, em Areia Branca. Adoecendo, volta a Mossoró em 1876, morrendo nesse
mesmo ano já em idade muito avançada. Foi sepultado na capela do cemitério
público.
\"Aos trinta de março de mil oitocentos e setenta e seis, sepultou-se na Capela do Cemitério de São Sebastião, filial a esta Matriz de Mossoró, o Reverendo Francisco Longino Guilherme de Melo, idade setenta e quatro anos, envolto em hábito preto e pelo Reverendo João Urbano de Oliveira encomendado. Do que mandei fazer este assento a assino. (a) Vigário Antônio Joaquim Rodrigues.
Publicado no jornal \"O Mossoroense\" de 03/02/2013
\"Aos trinta de março de mil oitocentos e setenta e seis, sepultou-se na Capela do Cemitério de São Sebastião, filial a esta Matriz de Mossoró, o Reverendo Francisco Longino Guilherme de Melo, idade setenta e quatro anos, envolto em hábito preto e pelo Reverendo João Urbano de Oliveira encomendado. Do que mandei fazer este assento a assino. (a) Vigário Antônio Joaquim Rodrigues.
Publicado no jornal \"O Mossoroense\" de 03/02/2013
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Autor:
Jornalista
Geraldo Maia do Nascimento
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