Por: Geraldo Maia do Nascimento
Como
pesquisador do tema “cangaço” tenho viajado, juntamente com outros companheiros
da SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, por quase todos os
recantos do Nordeste que de alguma maneira tiveram participação nesse
movimento. Nessas viagens conhecemos vários museus dedicados a esse tema,
alguns bem interessantes, mas em nenhum deles encontrei uma seção sequer que
mostrasse a luta das volantes (tropas móvel da polícia, constituídas para
combater os cangaceiros). Em todos eles a figura principal é a de Virgulino
Ferreira da Silva - Lampião, o mais famoso dos cangaceiros.
Mossoró teve o
seu envolvimento com o cangaço em 1927, quando a 13 de junho a cidade era
invadida por numeroso grupo de cangaceiros chefiados pelo próprio Lampião. Não
contavam, os cangaceiros, com a fibra do povo de Mossoró. A cidade se preparou
e expulsou a bala os facínoras. Esse evento constituiu-se num marco da história
do cangaço. A audácia de Lampião em atacar uma cidade do tamanho de Mossoró,
com mais de vinte mil habitantes, com várias fábricas de beneficiamento de
algodão, agência do Banco do Brasil, estrada de ferro, etc., fez com que os
governantes de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e até do Ceará se
mobilizassem para perseguir esse grupo, de modo que com as volantes em seus
encalços, Lampião foi obrigado a atravessar o rio São Francisco, o velho Chico,
passando para a Bahia com o grupo bastante reduzido, esfarrapados e famintos. E
aí começa outro capítulo da história do cangaço, ficando essa parte do Nordeste
livre desse mal.
Assaltar uma
cidade do tamanho de Mossoró era algo que Lampião ou qualquer outro chefe de
cangaço não imaginava. Toda a ação desses grupos era sobre pequenas cidades e
povoados, muitos de uma rua só. Mas um fato ocorrido na região veio a alimentar
a esperança de sucesso, por parte de Lampião. Isso ocorreu quando em 10 de maio
daquele mesmo ano, a cidade de Apodi, distante apenas 76 Km de Mossoró, era
atacada por um grupo de cangaceiros chefiados por Macilon, por encomenda do
Cel. Isaias Arruda, do Ceará, que era coiteiro de Masilon e também de Lampião.
Apodi não era
tão pequena naquela época. E Massilon, com apenas cinco comparsas, arrasou a
cidade. E foi ele e o Cel. Isaias Arruda que convenceram Lampião a atacar
Mossoró. Alegavam que, se com um pequeno grupo Massilon tinha dominado Apodi,
juntando o grupo dele com o de Lampião teriam êxito em Mossoró.
Mas uma
empreitada dessa monta precisava de muitos preparativos, como aquisição de
munição, traçar rotas, etc., e Lampião não conhecia o Rio Grande do Norte. Não
tinha nenhum coiteiro aqui que pudesse dar apoio aos seus planos. Tinha que
contar com as informações passadas por Massilon, esse sim, conhecia bem a
região, pois havia sido tropeiro em Mossoró. Mas enquanto preparavam o ataque,
as notícias iam chegando a Mossoró. E o Cel. Rodolfo Fernandes, então Prefeito
da cidade, acreditou na possibilidade dessa invasão e preparou a cidade para a
defesa. Providenciou armas, munição, traçou o plano de defesa, juntamente com
os oficiais da polícia local, solicitou as pessoas indefesas que deixassem a
cidade, para evitar mortes desnecessárias, de modo que naquela tarde de 13 de
junho de 1927, quando os cangaceiros chegaram, tiveram que enfrentar uma
verdadeira “chuva de balas”, resultando com a morte do cangaceiro Cochete e com
ferimento de diversos outros cangaceiros, inclusive de Jararaca, que ferido no
tórax e na parte superior da perna, foi preso no dia seguinte e justiçado uma
semana depois.
O
Memorial da Resistência vem resgatar toda essa história, com ênfase para os
“Heróis da Resistência”, aquele cidadão comum que, em não podendo contar com
apoio de forças oficiais, se viu obrigado a pegar em armas e com risco da
própria vida defender a cidade. Esse é o grande diferencial do que podemos
chamar de museu do cangaço de Mossoró. Claro que para se falar da defesa, tinha
que se falar do atacante. Por isso que o Memorial é constituído de vários
prédios: Um dos prédios mostra o que foi o movimento cangaço e os principais
cangaceiros. Em outro prédio conta a história da defesa da cidade com bastantes
detalhes. Existe ainda um prédio que mostra como era Mossoró em 1927, para que
o cidadão possa compreender os motivos que levaram Lampião a atacar a cidade.
Todos os painéis que compõem o acervo são auto-explicativos e seqüenciais, de
modo que não precisa de guia para se entender a história. Basta ter tempo
disponível para circular entre os prédios e conhecer um dos capítulos mais
emocionantes da história de Mossoró.
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Autor:
Geraldo Maia do Nascimento
Fonte:
http://www.blogdogemaia.com
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