Por Geraldo
Maia do Nascimento
Alto, ossudo,
dinâmico e valente. Foi uma das figuras marcantes na vida social e política de
Mossoró. Era querido e respeitado. De memória prodigiosa, “conhecia como
ninguém o passado mossoroense, cujos relatos, dias distantes, datas e
localizações, repetia com o poder de sua extraordinária memória, que tornava
sua conversa um centro de interesse e permanentes atrações”, nas palavras do
memorialista Raimundo Nonato. Essa é a descrição que encontramos da figura de
Romão Filgueira.
Francisco
Romão Filgueira nasceu em Mossoró/RN a 09 de agosto de 1860, sendo filho
legítimo de Antônio Filgueira Secundes e D. Maria Emília de Souza.
Muito
jovem iniciou-se na vida prática com uma mercearia no mercado. Depois, fiscal
da Câmara até 1880. Viajante comercial entre Mossoró e Recife. Encarregado das
salinas de Alexandre de Souza Nogueira. Em 1885 voltou a municipalidade, tendo
ocupado cargos de Tesoureiro, Procurador e Fiscal Geral, até 05 de janeiro de
1938, quando requereu aposentadoria.
Casou-se
em 1883 com D. Benedita de Souza Filgueira, sua prima, nascida a 27 de
fevereiro de 1865 e falecida a 20 de agosto de 1946.
Morou
praticamente toda a sua vida na casa da Praça da Redenção, nº 220, que fora
construída pelo seu pai, Antônio Filgueira Secundes, em 1867. Ali nasceram
todos os seus filhos, num total de 16, sobrevivendo apenas 9: Silvério de Souza
Filgueira, Maria Filgueira de Melo, Joaquina Filgueira Nogueira, Benedita
Filgueira Filha (Ditinha), Júlia Filgueira Lopes (Julinha), João Batista Sousa
Filgueira (Joãozinho), Augusto de Souza Filgueira, Alberto de Sousa Filgueira
(Albertinho) e Francisco Romão Filgueira Filho. Aquele solar foi abrigo de
muitos abolicionistas, teatro de sessões secretas, palco de decisões
importantes pela abolição e, por tudo isso, tem um lugar reservado na história
do grande feito mossoroense. É praticamente o último prédio existentes onde
morou um abolicionista. Deveria ser tombado e transformado em Museu da Abolição.
Conhecia
como nenhum outro o passado mossoroense. Viu a seca de 1877, a maior e mais
trágica do Nordeste, nos seus quadros mais drásticos. Assistiu o ato de elevação
da Vila de Mossoró ao predicamento de Cidade, através da Lei nº 620, de 9 de
novembro de 1870. Ajudou o mestre Paulino a construir a estátua da Liberdade,
na sua Praça, inaugurada em 30 de setembro de 1904. E assim, ano após ano, foi
vendo e sentindo a evolução e o progresso de Mossoró.
O
Major Romão, como era conhecido, com apenas 23 anos de idade e seguindo o
exemplo do seu pai, entregou-se de corpo e alma ao grande movimento cívico em
prol da libertação dos escravos. Foi um elo entre a Maçonaria e muitos
próceres. Levou muitos negros foragidos até o Porto de Santo Antônio, a fim de
serem embarcados para o vizinho Estado do Ceará, para evitar que os seus donos
os encontrassem e que voltassem à condição de escravos. Foi um soldado atento e
vigilante, bravo, idealista, um dos articuladores de tudo o quanto se fez em
Mossoró em prol da libertação dos seus escravos.
Iniciou-se
na Maçonaria em 13 de maio de 1885, na Loja “24 de junho”. Ocupou todos os
cargos da Loja, sendo elevado ao Veneralato para o período julho de 1905 a junho
de 1906. Foi eleito Venerável efetivo, Grau 30. Em sessão realizada em 24 de
junho de 1941, foi condecorado com o título de Benemérito, pelos grandes
serviços que prestou à sua Loja.
Romão
Filgueira faleceu no dia 7 de setembro de 1958, em sua casa, na Praça da
Redenção nº 220. Na manhã daquele dia, já muito doente, acordou ao som dos
clarins, no momento em que as escolas desfilavam pela Praça da Redenção. De
súbito, sentou-se na cama e interrogou aos presentes com um gesto. Queria saber
o que estava acontecendo lá fora. Ficou sabendo que era o desfile em
comemoração ao 7 de setembro. Ficou pensativo e depois voltou a deitar, ouvindo
o som da Banda de Música que tocava lá fora, intercalado com os oradores que
falavam sobre o grande feito da Independência. Às 18,00 horas, quando os clarins
silenciaram, Francisco Romão Filgueira fechou os olhos para sempre.
Em
seu livro “ZONA DO POR DO SOL”, Pongetti, Rio de Janeiro, 1964, o escritor
Raimundo Nonato registra o falecimento de Francisco Romão Filgueira aos 98 anos
de idade, com as seguintes palavras: “Figura de larga projeção em todos os
círculos de atividades e movimentos da cidade da zona Oeste, o Major Romão
Filgueira descendia de ilustre e tradicional família daquela terra, onde viveu
durante quase um século, irmanado nas lutas e nas iniciativas do progresso do
Município a que emprestou o melhor de suas energias e dos seus esforços”.
Todos os
direitos reservados
É permitida a
reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação,
eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e o autor.
Fonte:
http://www.blogdogemaia.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Caro Mendes e nobre historiador Geraldo Maia, como o Major Romão, a querida Cidade de Mossoró produziu importantes figuras. Mossoró é uma Terra de belíssimas histórias e de corajosos homens.
ResponderExcluirAntonio Oliveira - Serrinha