por Paulo Goethe
Antes de
Lampião, ele era o cangaceiro mais famoso e seu apelido mais conhecido foi
“Rifle de Ouro”. Nascido no dia 2 de dezembro de 1875, em Afogados da
Ingazeira, Manoel Batista de Morais entrou para a história nordestina como
Antonio Silvino. Durante 16 anos, driblou a polícia, praticou saques e
assassinou inimigos, mas era tratado pelos poetas populares como um “herói” por
respeitar as famílias.
O personagem
voltou a ficar em evidência porque em 28 de novembro completaram-se 100 anos da
sua celebrada captura. A data foi marcada pelo lançamento do livro Theophanes
Ferraz Torres - O centenário da prisão do cangaceiro Antônio Silvino e o
julgamento do século, escrito por Geraldo Ferraz de Sá Torres, descendente
direto do militar responsável pela detenção do cangaceiro e que depois se bateu
com Lampião.
Ainda jovem,
Manoel Batista de Morais integrou o bando liderado por seu tio, Silvino Aires
Cavalcanti de Albuquerque. Com a prisão deste em Custódia, assume o comando e
muda o nome e sobrenome, homenageando o parente.
Antônio
Silvino entrou para o cangaço aos 21 anos de idade, com o irmão, Zeferino,
depois da morte do pai, Batistão do Pajeú, em plena feira de Afogados da
Ingazeira, em dia 3 de janeiro de 1897. Procurado pela polícia, Batistão ousou
entrar na cidade no dia mais movimentado da semana e foi alvejado por um tiro
de bacamarte disparado por Desidério Ramos, desafeto e contratado pelo coronel
Luís Antônio Chaves Campos, chefe político local.
Silvino e o
irmão juraram vingar a morte do pai, assaltando e matando todos os que
colaboraram com o mandante do crime. “Para o sertanejo não havia justiça. Se um
parente era morto, de imediato lhe sobrevinha o ‘direito’ de pôr termo à vida
do assassino. Por vezes, essa vingança implicava em cruzar um punhal à cintura,
portar rifle e munição, usar um chapéu de couro de aba batida. A cada crime não
punido pelas instituições policiais e judiciárias, em regra, lançava-se a
semente de um futuro bandoleiro profissional”, narra Sérgio Augusto de Souza
Dantas em Antonio Silvino: o cangaceiro, o homem, o mito, uma das mais
completas biografias sobre o “Rifle de Ouro”.
Mesmo tendo
participado de um ataque à usina Filonila, em 1899, no qual resultou na morte
de uma menina de 13 anos, filha do coronel Antônio dos Santos Dias, a fama de
Antonio Silvino apenas cresceu como “bandido cavalheiro”. Em 1903, o Jornal
Pequeno, do Recife, publica a sua foto. No ano seguinte, Francisco das Chagas
Batista lança o cordel A canção de Antônio Silvino, que teve grande vendagem.
A
invencibilidade de Silvino terminou no dia 28 de novembro de 1914, quando
ocorreu o seu último tiroteio com a polícia. Atingido no pulmão direito,
resolveu se entregar. Da cadeia de Taquaritinga seguiu, dentro de uma rede, até
a estação ferroviária de Caruaru, onde um trem especial da Great Western o
levou para o Recife. Uma multidão o aguardava na Casa de Detenção, atual Casa
da Cultura.
“Fora
destronado o Átila bronco que, durante dois decênios, apavorara a gente matuta
do meio-norte e assoalhava não ser passarinho que morasse entre grades… Por
trinta anos ia se fechar atrás dele o portão da Penitenciária de Recife!”,
assinala, em seu estilo característico, o cearense Leonardo Mota, autor de No
tempo de Lampião, publicado ainda em 1931.
Antonio
Silvino tornou-se o detento número 1.122, condenado a 39 anos e quatro meses de
prisão. Em 4 de fevereiro de 1937, depois de vinte e três anos, dois meses e 18
dias de reclusão, foi indultado pelo presidente Getulio Vargas. Na foto de sua
saída da prisão publicada no Diario de Pernambuco aparece um senhor de cabelos
brancos, de chapéu e bengala abaixo do título: "Antonio Silvino foi,
hontem, restituido ao convivio da sociedade". O ex-rei do cangaço morreu
em 30 de julho de 1944, aos 68 anos de idade, em Campina Grande, na casa
humilde de uma prima, sem deixar nada para inventário, além da própria história.
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