Por Honório de Medeiros
Entre Valério
Mesquita, à minha direita, e Eider Furtado
Em algum lugar
defendi a hipótese seguinte: os livros nos procuram; engana-se quem supõe que
nós os escolhemos.
Assim foi na
noite em que o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, o IHGRN
promoveu sua Terceira Noite do Livro, sob a liderança do seu Presidente Valério
Mesquita, contando com o apoio de nomes consagrados das letras potiguares, tais
como o Professor e ex-Presidente da Ordem dos Advogados do Rio Grande do Norte
Carlos de Miranda Gomes, o memorialista e escritor Ormuz Barbalho Simonetti, o
ex-Presidente da Academia de Letras Jurídicas do Rio Grande do Norte Odúlio
Botelho, a Presidente da Academia Cearamirinense de Letras Joventina Simões,
dentre outros.
Nas mãos eu
conduzia o "História e Acervo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio
Grande do Norte", obra especial de Maria Arisnete Câmara de Morais e Caio
Flávio Fernandes de Oliveira, e "Audiência de um Tempo Vivido", o
primeiro volume das memórias do meu querido Professor Eider Furtado, leitura
que recomendo a todos, em direção ao caixa, quando fui puxado pela manga da
camisa. A responsável pela organização do evento me perguntou: "conhece
este?"
Era o
"Patriarcas e Carreiros", de Manoel Rodrigues de Melo. Eu o conhecia,
mas não tinha lido, nem o possuía. Resolvi levá-lo, em respeito à hipótese
exposta acima. Afinal ele, o livro, me procurara.
Faço, aqui, um
interlúdio, para registrar minha alegria em reencontrar o Professor Eider
Furtado na sua habitual elegância, acuidade mental e auto-ironia sutil, marca
característica sua, carregando como poucos a experiência dos seus noventa e
poucos anos. Quando fiz o gesto de lhe entregar seu livro para obter o
autógrafo ele me olhou e disse "veio devolver?" Ri e comentei o
quanto suas aulas, na minha época de aluno, eram esperadas pela qualidade do
conteúdo e de sua verve.
Pois bem, não
resisti e folheei "Patriarcas e Carreiros" tão logo cheguei em casa,
altas horas. Que "patriarcas" seriam esses, dos quais se ocupou
Manoel Rodrigues de Melo? Ele mesmo o diz, incidentalmente, no início da obra:
o "(...) patriarca sertanejo (...) varador de sertões, fundador de currais
onde mais tarde se levantariam quase todas as cidades nordestinas".
Aí está. Ele,
Manoel Rodrigues de Melo, pelo que eu pude perceber ao folhear seu livro, traça
perfis, levanta histórias, apresenta fatos, descreve hábitos e costumes do
século XVIII e XIX e começo do século XX. E, em o fazendo, coloca à disposição
dos estudiosos uma fonte de primeira grandeza para o estudo desse personagem
fundamental no entendimento do nosso processo civilizatório nordestino.
A segunda
parte do "Patriarca e Carreiros" é dedicada ao estudo do
carro-de-boi. Pelo que eu pude entender, escrita em anos anteriores à metade do
século XX, o texto é aberto da seguinte forma, dando ideia imediata da
importância do estudo do seu objeto: "Nenhuma cidade, vila, povoação,
fazenda, sítio, margem ou leito de rio, litoral ou sertão, tabuleiro, caatinga,
arisco, subida, descida ou chão-de-serra, várzea ou vale, canavial ou simples
roçado de algodão, baixa de arroz, de capim ou de melão, vazante, cercado,
qualquer que seja o seu nome, poderá dizer que ignora a existência do carro de
boi."
Um clássico,
sem dúvida, que me puno por não ter lido antes, mas ao qual sou grato por ter
me puxado pela manga da camisa a tempo de corrigir essa desdita.
Assim, aos
poucos, o Instituto volta a cumprir seu mister após anos de obscuridade, seja
enquanto fruto da obstinação dos seus dirigentes, seja pela imanência que seu
passado evoca quando se põe enquanto permanente intermediária entre livros e
leitores, idéias e estudiosos, história e pesquisadores. Longa vida ao IHGRN!
Destino que se
revela, também, no gesto da sua funcionária ao me alertar, no momento em que me
despedia desapercebido, da Terceira Noite do Livro, para o chamado mudo que me
fazia "Patriarcas e Carreiros".
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