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sábado, 21 de novembro de 2015

UMA MULHER COMANDOU CANGAÇO CONTRA JESUÍNO

Por Epitácio Andrade

Em seu livro clássico Solos de Avena, o escritor catoleense Alicio Barreto narra que o jovem Zé Limão ao devolver uma junta de bois que havia sido emprestada ao major José Lobo dos Santos da Fazenda Dois Riachos, na zona rural dos municípios paraibanos de Belém de Brejo do Cruz e Catolé do Rocha, ao major Brilhante, pai do famigerado cangaceiro Jesuíno Brilhante (1844-79) no Sítio Tuiuiú, zona rural de Patu, no médio-oeste do Rio Grande do Norte, cometeu o infortúnio de cumprimentar o senhor major, sem a tradicional retirada do chapéu, situação que na sociedade escravocrata consistia num ato de grande desrespeito, ofensa que Jesuíno reparou com uma sova de chibatadas no escravo insolente.

Major Zé Lobo

Esse episódio desagradou, profundamente, dona Felícia Joaquina lobo Maia, esposa do major Zé Lobo dos Santos Maia, casal proprietário do escravo Zé Limão, criado favorito de dona Felícia, entre os muitos da Fazenda Dois Riachos, aonde veio a se formar grande parte do bando de cangaceiros da Família Limão. 

Dona Felícia

Em 1871, com a morte do major Zé Lobo, Dona Felícia passa a comandar ao lado de seu filho ainda jovem Valdivino Lobo Maia, coronel da guarda nacional as ações de enfrentamento ao cangaço de Jesuíno Brilhante.  

Coronel Valdivino Lobo

O temor a Jesuíno no Sertão também estava ligado à crença de que o bandoleiro tinha o corpo fechado, ou seja, invulnerável à penetrabilidade de armas brancas e projéteis. Tal crença está ligada ao mito do catolicismo popular de que o sacerdote tem o poder de transformar a hóstia em corpo e o vinho em sangue. 

Doc: O Lugar da Morte de Jesuíno Brilhante

Foi nesse cenário mítico-religioso-fatalista que os algozes do Brilhante conferenciaram na fortaleza do coronel João Dantas de Oliveira, segundo Câmara Cascudo, afeito à magia, no sítio Patu de Fora, zona rural de Patu, a confecção de uma bala envenenada e a mobilização de uma tropa destacada na cidade de Imperatriz (Hoje Martins) que, sob o comando do sargento Preto Limão organizou a emboscada fatal que ceifou a vida do cangaceiro Jesuíno Brilhante, no serrote da Tropa, comunidade Santo Antônio, zona rural de São José de Brejo do Cruz, na Paraíba, em dezembro de 1879. 

Fortaleza do Coronel João Dantas - 1981 - Foto: Emanoel Amaral

No documentário O Lugar da Morte de Jesuíno Brilhante depois de uma encenação de uma cerimônia de fechamento de corpo conduzida pela benzedeira patuense dona Francisca de Mica, o cidadão Nonagenário Mário Valdemar Saraiva Leão, com 98 anos, narrou que Jesuíno procurava rastrear a tropa e era alertado por um de seus cabras de que quem caça cobra, caça a morte e, ao ser alvejado por uma descarga fatal, sussurrou: Valha-me Nossa senhora uma bala envenenada atravessou meu coração. 

http://epitacioandradefilho.blogspot.com.br/2015/11/dona-felicia.html

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