Por Geraldo Maia do Nascimento
Nas
pesquisas que realizamos, vamos encontrando histórias ou estórias curiosas das
mais diversas espécies. Algumas bem engraçadas, outras tristes, outras apenas
diferentes. Algumas eu faço questão de reproduzir, por retratar uma época, por
nos trazer informações de como era Mossoró no passado.
Uma
dessas histórias fala do Canjerê de Nezinho 12 Anos. Canjerê, segundo o
Dicionário Aurélio Século XXI, significa “reunião de pessoas para a prática de
feitiçaria; feitiço, mandinga; cerimônias religiosas africanas; dança profana
dos negros. Em algumas regiões nordestinas denominava até casas de
prostituição. Mas no caso de Mossoró, o Canjerê de Nezinho 12 Anos era apenas
uma casa de bilhar, onde os homens se encontravam para jogar ou apenas conversar.
Era, por assim dizer, um grande centro de aglutinações de amizades, onde
políticos e grandes comerciantes se distraiam.
O
ano aqui retratado é o de 1922. Mossoró, por essa época, era então uma
metrópole dos sertões. Seu comércio vivia ainda a importância daqueles grandes
dias do seu poderio econômico que projetava o nome da cidade pelas fronteiras
dos Estados e pelas praças comerciais do Nordeste.
O
Canjerê ficava no antigo beco da Farmácia de “Seu Rosado”, olhando, ao longe,
para a curva do rio onde fica o Poço das Pedras e os tamarineiros frondosos. E
apesar de ser bem frequentado, as condições das instalações não eram lá essas
coisas. Diga-se de passagem, que o Canjerê era só um bilhar, mas que bilhar era
aquele! Seu conjunto não passava de um quadrilátero de madeira tosca, que nem
ao menos era envernizada, coberta de um pano de casimira escura. A borracha das
tabelas de tão envelhecidas, já não possuíam mais qualquer elasticidade. Os
tacos não passavam também de grosseiros varapaus, parecendo mais com cabos de
vassouras improvisados em instrumentos do nobre jogo das elites. As bolas, não
eram esféricas, pois tinham achatamentos que era verdadeiros pontos de apoio. E
para completar o quadro, não havia giz, pois o que fingia ser isso, eram umas
grandes pedras de cal trazidas do “Sitio Saco”, onde o patriarca Luís Firmino
tinha umas caieiras que abasteciam as construções da cidade.
E
o curioso é relacionar pelos nomes ou pelos apelidos as figuras que aperuavam
as partidas e faziam círculo, por perto das tabelas. Apontavam o jogo, davam
palpites e insinuavam o “efeito” que o parceiro devia dar para a bola pegar de
fino e ir até a carambola, ou indicação se era o caso de um giro, de um corte
ou de uma bola “seguir”, onde era preciso mostrar a capacidade de segurança.
Em
redor, pelos bancos, encostados nas paredes ou nas portas, as fisionomias eram
sempre as mesmas, enfeitiçadas naquele antro. Além do dono, desde cedo, lá se
encontravam José de Casimiro, que era encadernador de livros; Chico do Canto;
Zé Cruz, que vendia “pega-pinto” num ponto da Travessa Monte Primo; Elísio
Felipe, cortador de carne no Mercado Público; José Queiroz, ou como o chamavam,
José Prego; Luquinha de Manuel Pedro; Major Higino, que fora empregado no
Grande Hotel e de lá saíra, por ter descoberto que um artista, “Segatos”, que
se exibia no palco do Cinema, empregava uma bola de madeira para fingir de
ferro e muitos outros. De tantos que poderiam ser mencionados, podemos lembrar
o de Xavier Fernandes, que foi Deputado Federal pelo Rio Grande do Norte e que
foi, por largos dias o melhor e mais assíduo dos companheiros das suarentas
maratonas do velho bilhar do Beco da Botica. Sobre esse personagem há ainda um
fato curioso: ou porque jogasse melhor, ou porque tivesse mais sorte, Xavier
Fernandes vencia quase todas as partidas, mas o diabo é que ganhando ou
perdendo, ele quase sempre era quem pagava o tempo...
São
histórias saborosas de se conhecer. A denominação dos logradouros, hoje já tão
diferentes que nos custa a identificar onde ficavam. A cidade não preservou os
seus nomes originais; as pessoas comuns com suas profissões simples, mas
necessárias para a época; as casas de negócios e seus proprietários. Todas
essas histórias são pequenos retalhos, que quando juntos formam uma grande
colcha, que é a verdadeira História de Mossoró.
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Autor:
Jornalista
Geraldo Maia do Nascimento
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