Por Marcos Damasceno
Marcos
Damasceno e Manoel Severo
Para uma
tentativa de compreensão histórica e de se reconhecer o legado e a construção
do Cangaço, em todos os tempos e por parte de todos os seus personagens, mesmo
que variando aqui e acolá as motivações, mas num mesmo contexto social, eis um
olhar sociológico: antes de qualquer coisa, o Cangaço foi um protesto social. E
todo protesto social no Brasil sofreu e sofre a desqualificação por parte da
visão oficial ou por parte da sociedade; ora coagida, ora manipulada.
Historicamente
houve o processo oficial de elevar o nome do opressor, do exterminador, do
semideus do poder. Por outro lado, ocultou-se, desarticulou-se,
desqualificou-se e ridicularizou-se a história popular. Fomos presas fáceis
desse olhar, até mesmo nos bancos das escolas. Hoje somos salvos disso e temos
um novo olhar a partir de trabalho de grandeza histórica, popular e acadêmica,
como o Cariri Cangaço. A importância da pesquisa e do debate da história do
Cangaço e de outras histórias relacionadas. Somar-se o academicismo com o
conhecimento popular.
Arte de
Eduardo Lima
Vejamos: a
história do Cangaço e de seus personagens por muitos anos e em muitas
iniciativas de registro foi escrita e contada pela versão oficial, na
representação dos comandantes de volantes policiais e dos coronéis políticos.
Ainda pela oralidade popular, por pessoas muitas vezes coagidas ou
manipuladas.
Lampião
frouxo? Bandido? Fora da lei? Criminoso? Bandido social? Herói? Enfim, ir aos
extremos ou ter uma visão rasteira ou superficial do tema não é o caminho. Tudo
isso é o menos importante. O mais importante é o seu exemplo de luta e as
motivações de sua causa. Alguns livros, por exemplo, falam em imparcialidade,
mas desde quando o autor decide o sumário elege assuntos e censura outros. Ele
enquadra o roteiro. Justiça dos fatos? Só se tomarmos dois cuidados: sem
revanchismo e sem romantismo. Um olhar sociológico do assunto.
Os cangaceiros
eram destemidos, estratégicos, motivados. Eles tinham bandeiras sociais, nas
entrelinhas. Lampião foi fiel à sua luta até a morte. Nunca foi preso. Há
convicção humana nisso. O que o motivava? Há mistério? Talvez não. Numa
pesquisa criteriosa vamos compreendendo os detalhes de cada ação, de cada
escolha e de cada decisão. O próprio protesto é uma bandeira por si só. Quer um
dado? Foi o Cangaço e os movimentos messiânicos de Caldeirão e Pau de Colher os
responsáveis por grandes investimentos governamentais ocorridos posteriormente
na região Nordeste, no Governo Vargas e por governos seguintes.
Marcos Damasceno, pesquisador e escritor
Dom Inocêncio, Piauí.
http://cariricangaco.blogspot.com.br/2016/05/opiniao-cangaco-um-olhar-sociologico.html
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