Por Geraldo Maia do Nascimento
No dia 19 de
março de 1915, há exatos 102 anos, dava-se a inauguração oficial do primeiro
trecho da Estrada de Ferro de Mossoró, entre Porto Franco e esta cidade. A
locomotiva “Alberto Maranhão” chegou a estação, o mesmo prédio que hoje é
conhecido como Estação das Artes, sendo recebida por autoridades e pelo público
em geral, em grande festa. Era a realização de um antigo sonho que se
realizava. Quando se fala do início da construção da Estrada de Ferro de
Mossoró, costuma-se atribuir a Jonh Ulrich Graff o pioneirismo pela ideia
do projeto, já que o mesmo conseguiu, em 26 de agosto de 1875, através da Lei
nº 742, concessão para construção de uma estrada de ferro ligando Mossoró a
Petrolina, na Bahia. Esse projeto, no entanto, não chegou a se concretizar.
Hoje temos evidências de que a primeira tentativa de construção de uma estrada
de ferro ligando Mossoró ao porto de descarga dos navios data de 1870, ou seja,
cinquenta anos antes da concessão de Ulrich Graff e que não foi à única. Outras
concessões foram dadas antes de 1875. Essas evidências foram apontadas pelo
engenheiro Luiz Saboia, que em 1953 começou a escrever um livro com o título
“Subsídios para a História da Estrada de Ferro de Mossoró”. Esse livro nunca
foi concluído, ficando os seus originais inacabados na Tipografia Escóssia. Em
1991 o professor Jerônimo Vingt-un Rosado Maia tomando conhecimento desse
material, e consciente da importância das informações ali reunidas, solicitou
permissão da família e publicou o material, da maneira que se encontrava, pela
Coleção Mossoroense, série B – número 1113 – 1991. Por esse trabalho tomamos
conhecimento que “a lei provincial nº 646, de 14 de dezembro de 1870,
autorizava o presidente da Província a contratar com os engenheiros José Luiz
da Silva e João Carlos Greenhalgh, ou com quem mais vantagens oferecesse, a
construção de uma estrada de ferro que ligasse a cidade de Mossoró ao porto ou
ponto de descarga dos navios que entrassem no rio.” O projeto não foi
realizado. Dois anos depois, em 1872, João Pedro de Almeida pleiteou, junto ao
Governo Geral, a concessão de uma estrada de ferro que ligasse o porto de
Mossoró à cidade de Souza, na Província da Paraíba. O seu pedido foi feito na
Regência de S. A. a Princesa Imperial Regente Isabel, que solicitou do
Presidente da Província do Rio Grande do Norte parecer sobre a conveniência
dessa estrada de ferro. Não temos informações sobre a resposta, mas deve ter
sido negativa, já que a solicitação caiu no esquecimento. Em 1875 coube ao
comerciante estrangeiro Jonh Ulrich Graff a solicitação dessa concessão, obtendo
permissão através da Lei nº 742, para a construção de uma estrada de ferro
ligando Mossoró a Luís Gomes, no limite com a Paraíba. Mais por falta de
recursos, o projeto caducou. Em 1888 foi à vez de Chrockatt de Sá Pereira de
Castro, que no dia 25 de maio daquele ano fez uma brilhante exposição do seu
plano ao Clube de Engenharia, no Rio de Janeiro, sujeitando o seu projeto a
aprovação das maiores capacidades técnicas de então. Não conseguiu a
documentação necessária para embasar os seus argumentos, portanto o projeto não
teve prosseguimento. Em 1889 coube a Francisco Solon encabeçar o movimento pela
construção da estrada de ferro de Mossoró. Chegou mesmo a criar uma empresa
para tal fim, a firma J. Bastos & Cia., da qual fazia parte Francisco Solon,
Joaquim Olintos Bastos, Joaquim Etelvino e Francisco Cascudo, pai do
historiador Luís da Câmara Cascudo. Essa empresa, por conveniência, teve seu
nome mudado para “Companhia das Estradas de Ferro do Nordeste do Brasil” e por
imposição dos banqueiros internacionais mudou para “Companhia das Estradas de
Ferro do Rio Grande do Norte”. Mas as exigências dos bancos internacionais
tornaram impraticável a aquisição de empréstimos, fazendo com que mais uma vez
a concessão caducasse. “O decreto estadual nº 51, de 22 de setembro de 1890
concedia a João Pereira da Silva Monteiro, Francisco Lopes Ferraz Sobrinho e
Augusto Severo de Albuquerque Maranhão, negociantes e capitalistas residentes
na Capital Federal e neste Estado ou a companhia por eles organizada, privilégio
por 50 anos, para a construção, uso e gozo de uma estrada de ferro de um metro
entre trilhos que, partindo de Areia Branca, na embocadura do Rio Mossoró,
dirija-se ao ponto mais conveniente da Serra de Luís Gomes, passando pelos
municípios de Mossoró, Caraúbas, Apodi, Port’Alegre, Martins, Pau dos Ferros e
Luiz Gomes”. Não conseguiram levar avante o projeto. Outras tentativas foram
feitas até que em 1912 Mossoró viu finalmente o seu grande sonho ser iniciado.
Mas a conclusão dessa história contaremos na próxima semana.
17/03/2017
Geraldo Maia do Nascimento
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