Por Ivanildo
Alves Silveira
Participou do
massacre a Brejão da Caatinga (BA), em 04 de julho de 1929, quando quatro
soldados e um cabo da polícia baiana foram mortos; Participou do assalto a Queimadas
(BA), em 22 de dezembro de 1929, quando sete praças da polícia baiana foram
barbaramente assassinados; Participou da invasão a Mirandela, distrito de
Pombal, no dia 25/12/1929, onde morreram dois civis e um soldado. Era
descendente dos Índios Pankararé, que habitam o Raso da Catarina.
Breve
histórico: Cangaceiros descendentes de índio
No centro do
Raso da Catarina, na tribo dos Pankararé, os índios admirados diante do impacto
causado pela ostensividade e profusão de cores das vestimentas dos cangaceiros
e mais ainda, fascinados pela exuberância dos aparentes cordões de ouro, dos
anéis e alianças, sem contar os abarrotados bornais recheados de dinheiro, além
das realizações dos permanentes bailes e tanto ainda pela liberdade do livre
transitar, sem serem presos às duras rotinas diárias, cederam aos encantos da
nova vida e vergaram sobre seus corpos as vestimentas inconfundíveis, trazidas
por Lampião.
A esse mundo
diferenciado, índios Pankararé entregaram-se em boa quantidade á vida do
cangaço. Os mais famosos a participarem do cangaço foram: Gato, Inacinha,
Antônia, Mourão, Mormaço, Catarina, Açúcar, Balão, Ana, Julinha, Lica e Joana.
Não se tem, na
história do cangaço, outro homem que tenha sido tão sanguinário, cruel e frio,
como foi esse cangaceiro. Além de Gato, duas irmãs dele seguiram os subgrupos
do cangaço: Julinha, amante de Mané Revoltoso e Rosalina Maria da Conceição,
que acompanhou Francisco do Nascimento, o cangaceiro "Mourão".
Não podemos
perder de vista, a forma como cada cultura pensa e elabora determinados fatos
históricos. Assim, a percepção que os indígenas têm da participação dos seus
"parentes", no cangaço, em muito, difere-se das dos não-indígenas.
Hoje, o cangaceiro "Gato" aparece nos relatos dos Pankararé do Raso
da Catarina, como uma força espiritual, por eles chamados de "santo do
Gato", com um lugar específico assegurado á sua memória.
Mourão além de
ser cunhado, era também primo de Gato e acabou sendo morto por ele, depois que
Mourão e Mormaço acabaram uma festa acontecida no Brejo do Burgo, onde deram
alguns tiros, colocando a população em pavorosa fuga, sendo Gato cobrado por
Lampião, para que desse conta da arruaça realizada pelos membros de sua
família, resultando que a festa havia sido na casa de um dos fiéis coiteiros do
cangaço.
Gato perseguiu
os dois cangaceiros indo encontrá-los pegando água em um barreiro, localizado
em um coito no Raso da Catarina. Gato fuzilou os dois sentenciados de morte.
Gato, por
pouco, não matou a própria mãe por ela ter feito comentários sobre as constantes
aparições dos cangaceiros nas proximidades de sua casa. O cangaceiro dirigiu-se
até a casa da mãe, com a finalidade de cortar a sua língua, sendo dissuadido
por alguns familiares do macabro intento, sem deixar de mostrar prá mãe dois
facões que portava na cintura, dizendo: "Este é o cala a boca corno, e
este é o bateu cagô"
Sob o estigma
da ferocidade de Gato recai, ainda, a morte de seis membros de sua família, em
represália a um sumiço de bodes e cabras que estavam acontecendo e sendo
creditado a Lampião.
Outra vez,
Lampião entregou o caso a Gato, e ele perseguiu os envolvidos, indo encontrar
em uma casa de farinha, Calixto Rufino Barbosa e Brás, ceifando friamente a
vida dos dois e seguindo até a casa de Valério, na Fazenda Cerquinha, onde assassinou
Luiz Major, seus filhos Silvino, Antônio e o sobrinho Inocêncio. Um duro
castigo como pagamento de uma dívida sem provas.
Da chacina,
saiu ferida uma criança que conseguiu fugir por intermédio de uma prima de
Gato. O jovem faleceu recentemente e trazia na face a marca de um corte feito
pela lâmina afiada do punhal do cangaceiro.
Gato foi
casado com Antônia Pereira da Silva. O casamento aconteceu nas Caraíbas,
fazenda de Dona Sinhá, no Brejo do Burgo. Tempos depois, o cangaceiro carregou
a índia Inacinha, prima de Antônia.
A cangaceira
Antonia não aceitou os argumentos do marido quando ele propôs ficar com as duas
e por ele foi espancada. Antônia fez queixa a Lampião, prometendo ele que iria
resolver o problema, porém ela não esperou a resposta e, durante a noite,
aproveitando a escuridão e sonolência dos amigos, deixou o coito onde estavam
arranchados e fugiu, indo para a proteção de um tio, capitão reformado da
polícia, que residia na margem do Rio São Francisco, pelo lado baiano, e com
ele permaneceu até o término do cangaço.
Gato encontrou
a morte quando invadiu a cidade de Piranhas/AL, quando tentava resgatar sua
companheira Inacinha, baleada e presa, pela volante do Ten. João Bezerra. Gato
saiu baleado desse tiroteio, e foi morrer dois ou três dias depois, sem ter a
chance de ver o seu filho que Inacinha carregava no ventre, ao ser presa.
Inacinha,
apesar do tiro que sofreu, conseguiu dar á luz seu filho e tempos depois
retornou para Brejo do Burgo, onde se casou com Estevão Rufino Barbosa. A
ex-cangaceira morreu em 1957, de câncer, depois de ter lutado contra a doença,
sem ver resultados, fugiu do hospital e mandou um mensageiro ir avisar ao
marido que queria morrer em casa. Estevão selou uma junta de burros e foi
atender ao último pedido da companheira. Em casa, Inacinha sofreu por alguns
dias até descansar, deixando a eterna lembrança, no coração do homem que por
ela ainda verte suas lágrimas. Estevão, ainda vive no Brejo do Burgo
FONTE: - João
de Sousa Lima co-autor do livro "AS CAATINGAS" organizado por Juracy
Marques.
https://www.facebook.com/groups/ocangaco/permalink/1506455149367598/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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