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sexta-feira, 28 de abril de 2017

O FIM DE MARIA.

Por Geraldo Júnior

Maria Gomes de Oliveira “Maria de Déia” que ficou conhecida na história como Maria Bonita conheceu o célebre cangaceiro Lampião no ano de 1929 e no ano seguinte decidiu abandonar a vida simples e pacata que levava, para acompanhar o cangaceiro pelas veredas incertas e sangrentas do cangaço. Ao tomar essa decisão Maria imediatamente passou a ser vista como inimiga pública e a ser procurada pelas “autoridades” constituídas da época e sua atitude causou dores e sofrimentos à sua família que sofreu humilhações e torturas por parte das policias que andavam no encalço de Lampião.

Maria tinha consciência que mais cedo ou mais tarde seria morta ou capturada pelos inimigos de seu companheiro e que nesse dia cairia sobre o casal toda a ira dos seus desafetos, inclusive muitos deles com dívidas de sangue. Passou a viver uma vida sofrida entre fugas e tiroteios.

Matar Lampião era uma questão de honra para muitos daqueles que o perseguiam e Maria sabia que quando esse dia chegasse passaria pelas mesmas tribulações que seu companheiro. Por outro lado Lampião tinha a plena convicção que sua rendição e entrega às autoridades seria a assinatura de sua sentença de morte, portanto render-se estava fora de cogitação. Sem contar que uma possível prisão significaria o fim de tudo aquilo que pelo qual lutou e conquistou durante seus longos vinte anos de cangaço.

Em 28 de julho de 1938 a Força Policial Volante alagoana sob o comando do Tenente João Bezerra, auxiliado pelo Aspirante Francisco Ferreira de Melo e pelo Sargento Aniceto Rodrigues da Silva, pôs fim ao reinado cangaceiro de Lampião que, sem dar um único tiro, tombou sem vida ao lado de sua companheira Maria Bonita e outros nove cangaceiros de seu bando.

Todos os mortos na Grota do Angico (Sergipe) foram degolados e tiveram suas cabeças expostas ao público durante o trajeto realizado entre Piranhas/AL até a capital alagoana (Maceió).

No trajeto até Maceió/AL algumas das cabeças dos mortos em Angico foram descartadas devido ao avançado estado de decomposição/putrefação e as demais foram examinadas pelo Dr. José Lages Filho do IML (Maceió/AL) e posteriormente enviadas para o Museu do Instituto Médico Legal Dr. Nina Rodrigues em Salvador/BA, onde permaneceram em exposição até o mês de fevereiro do ano de 1969, após trinta anos, seis meses e nove dias expostas, quando um decreto presidencial autorizou as famílias a fazerem o devido sepultamento dos restos mortais de seus entes.

As cabeças que ficaram expostas no Museu passaram por um processo rústico de “mumificação” se assim podemos classificar, causando devido a deterioração dos restos mortais expostos, uma visão sinistra e macabra aos olhares curiosos dos visitantes do Museu.

A imagem abaixo é pertencente ao acervo do Professor Estácio de Lima (In memorian) antigo Diretor do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues e que foi a mim gentilmente cedida pelo amigo/confrade Rubens Antonio (Salvador/BA) é da cabeça de Maria Bonita, que a exemplo das demais, ficou exposta no museu.

Essa fotografia retrata o triste fim de uma jovem baiana que pagou um preço alto por sua “ousadia” e por ir contra os princípios éticos e morais de sua época, que sem pestanejar seguiu ao lado do homem mais perigoso e procurado do Nordeste, naquela época.

Muitos (as) de vocês julgarão e condenarão a atitude de Maria, mas nenhum (a) será capaz de atirar a primeira pedra, pois ninguém consegue dominar as vontades e desejos do coração que carrega no peito... mesmo que isso custe a sua vida...

...e assim aconteceu com Maria Gomes de Oliveira “Maria de Déia”... Maria Bonita do Capitão.

Geraldo Antônio de Souza Júnior (Administrador do Grupo)

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