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quarta-feira, 29 de novembro de 2017

A LENDA DE JURATAÍ

Clerisvaldo B. Chagas, 29 de novembro de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.791

“Muito tempo atrás, no fundo da floresta Amazônica, havia um pássaro chamado Jurutaí. Uma noite Jurutaí olhou para cima, através do ar quente, e viu a Lua. Ela estava completamente redonda. A luz prateada brilhou sobre a face de Jurutaí com se a Lua estivesse se esticando para tocá-lo. E Jurutaí se apaixonou.

RIO AMAZONAS. FOTO: (GEOGRAFIA SAAD).

Jurataí se apaixonou pela Lua e quis ir até onde ela estava. Assim voou até o topo da árvore mais alta que podia ver. Mas a Lua ainda estava longe. Ele voou até o cume de uma montanha. Mas a Lua ainda estava longe. Então ele voou até o céu. Jurutaí bateu as asas, subindo, subindo até o ar ficar rarefeito. Mas a lua estava muito longe.
O pássaro continuou voando para cima até as asas doerem, os olhos arderem e parecer que cada respiração só enchia seus pulmões de vazio. Queria prosseguir, mas era muito difícil. A força de suas asas chegou ao fim e de repente ele começou a cair. Rodopiava, através do ar negro, e batia asas céu abaixo. Ele caiu de volta nas folhas úmidas e perfumadas das árvores. E se empoleirou ali, piscando ofegante para a Lua. Ela estava distante demais para que ele a alcançasse. Assim, tudo o que Jurutaí podia fazer era cantar para ela.  Ele cantou a mais bela canção que pôde. Uma canção cheia de tristeza e amor, que se espalhou pela floresta.
A lua olhou para baixo, mas não respondeu. E lágrimas encheram os olhos de Jurutaí. Suas lágrimas rolaram pelo chão da floresta. Encheram vales e escorreram em direção ao mar. E dizem que foi assim que o rio Amazonas surgiu.
Ainda existe um pássaro que se chama Jurutaí que vive na floresta Amazônica, hoje em dia. Às vezes, na lua cheia, ele olha para o céu e canta. E ouvi falar de povos indígenas que acendem fogueiras quando a lua cheia brilha e cantam e dançam para fazer o Jurutaí cantar. Eles sabem que cantar a mais bela canção que se conhece é a melhor maneira de se livra da tristeza. E acreditam que deveríamos acender fogueiras no coração quando o jurutaí dentro de nós se cala”.
·         Recontada por Sean Taylor. Cobra-grande: história da Amazônia. Trad. Maria da Assunção Rodrigues. São Paulo: edições SM. 2008.p. 8-9.


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