*Rangel Alves da Costa
Entristecido, ouço a canção que diz:
“Vim tanta areia andei, da lua cheia eu sei, uma saudade imensa. Vagando em verso eu vim vestido de cetim, na mão direita rosas vou levar. Olha a lua mansa a se derramar, ao luar descansa meu caminhar, seu olhar em festa se fez feliz, lembrando a seresta que um dia eu fiz. Por onde for quero ser seu par...”.
Andança, andança... Nunca mais caminhei levando rosas na mão, versos na boca e cantigas no olhar. Nunca mais caminhei com o coração assim tão cheio de saudade, com os braços ávidos para abraçar, com a boca esperançosa de um beijar.
É que a solidão afastou do caminho toda flor. É que a tristeza de mim os versos levou. É que a solitude me deu um silêncio de pedra e um espinho de jardim outonal. Somos pétalas e sempre imaginando na dureza da rocha.
Que dureza essa que se esvai em pó? Não. Não quero a rigidez da montanha se o amor me tornou aquele resto de outono, aquela folha de outono. Entristecido pelo amor que tanto queria, mas...
Que ilusão terrível é essa do impossível amar. Ou até do possível amar. Mas do que adianta tanta amar sem desta fruta nem um beijo, nem o sumo nem um sabor? Eu queria morder, beber, sentir, viver...
Depois de amar e de tanto amar e de repente ter apenas o passado como alento. E ainda ter no lábio aquele tremor, ainda ter na boca aquele sabor, ainda ter no corpo todo o estupor febril da busca e do encontro.
E ontem senti saudade. E hoje senti saudade. E tanta saudade eu ainda sentirei. Saudade de amar, apenas. Mas não há amor na saudade, não há querer somente na distância.
O amor é laço e nó, é dois num só, é corrente que não se aparta. Mas para quem ama e é correspondido, e não o apego incompreendido.
O que é amor, então? Insisto em perguntar. O que é amar? Insisto em buscar respostas. O que é ser feliz no amor e no amar? Não. Não. Jamais conseguirei responder.
Mas ainda não descansei, ainda não desisti, ainda não joguei ao longe as flores e os versos que tenho, ainda não abdiquei de querer abraçar e beijar.
Quem sabe um dia, talvez. Cinderelas não existem nem Contos de Fada. Nenhuma bela mulher esqueceu seu sapatinho perto de mim.
Oh que mundo real! Oh que mundo cruel onde o amor é lâmina e o amar é fel! Mas haverei de amar. Haverei de ser compreendido no amar e assim poder, enfim, entregar minhas rosas, os meus versos, o meu beijo, o meu olhar.
E, então, cantar: “Por onde for quero ser seu par...”.
Escritor
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