Por Guilherme Machado Historiador
Durvalina
Gomes de Sá, Josina Maria da Conceição Souto ou Durvinha. Todas esses nomes
levam a mesma pessoa. Nascida na Bahia, em 1915, precisamente em Paulo Afonso,
Durvinha nutria forte paixão por Virgínio, cunhado de Lampião e que pertencia
ao bando.
Um ano depois
da emboscada policial em Angicos (SE), em 1938, que resultou na morte de
Lampião, Maria Bonita e nove cangaceiros, um bebê com 30 dias foi entregue ao
padre Frederico Araújo, de Tacaratu, no sertão de Pernambuco, a cerca de 450
quilômetros a oeste de Recife. Um bilhete anônimo, ilustrado com garranchos que
imitavam letras, identificava os avós e a mãe, Durvalina Gomes de Sá. Durvalina
era Durvinha, cangaceira do bando de Lampião. Com a morte do chefe, caíra na
clandestinidade. Fugia da polícia rompendo a caatinga, ora na Bahia, ora em
Pernambuco, sempre ao lado do companheiro, Antonio Inácio da Silva, o
cangaceiro Moreno. O menino - primeiro dos seis filhos do casal - foi
registrado como Inácio Carvalho Oliveira, sobrenome da família que o adotou
quando estava com 6 anos, após a morte do padre. Adulto, Inácio mudou-se para o
Rio. Entrou para a Polícia Militar. Tornou-se segundo tenente. Em 2005, com 66
anos de idade e já reformado, soube enfim que os pais estavam vivos e formavam
o último casal sobrevivente do cangaço. Moravam em Belo Horizonte e se chamavam
Jovina Maria da Conceição e José Antonio Souto, nomes registrados em carteiras
de identidade e com os quais buscaram afastar os fantasmas do passado. Toda
esses fatos foram contados ontem por parte dos protagonistas, no encerramento
do 1º Congresso Nacional do Cangaço: Cultura e Memória, realizado no Museu da
República, mais um prédio futurista projetado por Oscar Niemeyer na Esplanada
dos Ministérios, em Brasília. Durvinha, de 92 anos, estava lá, para narrar seus
feitos; Moreno, de 96 anos, sofreu uma queda pela manhã e teve de ser levado
para o Hospital de Base. "Me sinto tão culpada. Ele caiu porque foi pegar
um sapato meu. Nós dois já não enxergamos quase nada." A informação do
hospital é de que Moreno está bem e deve ser liberado hoje. O crachá da
cangaceira registrava o nome da identidade, Jovina Maria da Conceição. Inácio,
porém, não a chama assim. Para ele, é Durvalina ou Durvinha. Do pai, nem
conseguiu se lembrar o nome todo na identidade. "Acho que é José Antonio,
e tem um sobrenome aí que não sei. Para mim, ele é o Antonio Inácio da Silva ou
o Moreno." Inácio disse ter por hábito visitar Tacaratu quase todo ano.
FUGA Durvinha nasceu em 1915 no povoado de Arrasta-pé, em Curral dos Bois, hoje
Paulo Afonso (BA). Ainda mocinha abandonou a casa dos pais para correr atrás do
cangaceiro Virgínio, cunhado de Lampião. Não sabe quantos anos tinha. "Não
havia registro. Era tudo na bruta. A gente se juntou. Não chegamos a ir ao
padre". Disse que teve dois filhos com Virgínio, dos quais nunca mais teve
notícias depois dos tempos do cangaço. Virgínio foi morto em 1936. "No
bando não podia haver viúvas. Pelas leis lá, ou elas se casavam com outro
cangaceiro ou eram mortas. Moreno se propôs a ficar comigo", disse
Durvinha. Com ele teve outros seis filhos: Inácio, que só conheceu há dois
anos, e outros cinco, todos morando em Belo Horizonte. Durante as fugas pela
caatinga, o jeito era pegar um pedaço de rapadura aqui, um punhado de farinha ali,
driblar a fome e a polícia. "Morria de medo de ser degolada, como
Lampião." No filme Baile perfumado (1996), direção de Paulo Caldas e Lírio
Ferreira, aparecem imagens do bando de Lampião feitas entre 1935 e 1936 pelo
libanês Benjamin Abrahão. Numa delas, Durvinha dança com Moreno, embora
estivesse na companhia de Virgínio. Noutra, avança sobre a câmera com o
revólver na mão. Durante os combates, ela levou um tiro na coxa esquerda.
"A carne rasgou de fora a fora. Os cangaceiros me salvaram jogando um litro
de pimenta." Durvinha disse que só teve uma razão para aderir ao cangaço:
a paixão por Virgínio.
Observação: A
fotografia é fonte do livro! O Cangaceiro do escritor João De Sousa
Lima de Souza Lima. Esta fotografia foi pouco explorada pela internet.
https://www.facebook.com/guilherme.machado.75992484502
http://blogdomendesemendes.bogspot.com
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