Por José Mendes Pereira
O título desta
pequena crônica não é meu e todos os leitores sabem quem é o criador dele, é o
cantor Geraldo Nunes, mas eu não estou colando, apenas tomei-o emprestado para
a minha pequena historinha. Não tenho hábitos de colar nada dos outros.
Todas as noites
quando o Chico caminhava para o quarto e começava a preparar as coisas que
levava para o seu trabalho dona Maria sua esposa já o esperava debaixo da cama,
mesmo com dificuldades, ela via os pouquinhos objetos sendo colocados dentro da
sacola que com o Chico seguiria para o seu atrapalhado ganha pão: um cachimbo
já bem velho e queimado em um lado da borda, um pedaço de fumo em corda,
fósforos, uma caixa de velas parafinadas, uma toalha, um alicate, um
martelo..., mas jamais dona Maria descobriu para que serviriam aqueles
utensílios. Viveu mais de 20 anos com o marido que tinha obrigações noturnas, e
jamais o Chico contara a esposa qual era a sua profissão. Quem perguntava qual
era a sua profissão ele calmamente respondia dizendo:
- Para se
viver não é preciso ter profissão definida.
- E como o
senhor se mantém se não tem profissão definida?
- Mantenho o
meu padrão de vida através daqueles que deixam saudades nos corações dos
seus...
Com esse tipo
de resposta o Chico deixava todos querendo descobrir a sua profissão, já que
era dono de uma bela casa, carro na garagem e andava bem vestido, os seus pés
eram enfiados em calçados dos mais sofisticados, e ninguém jamais o viu
trabalhando. Seria o Chico um ricaço enrustido, um ladrão noturno, um
conquistador oportunista que tomava de alguma mulher?
Na sua garagem
permanecia um carro novo e com alguns dizeres impressos nas laterais das
portas: “Para se viver vive-se até de saudades alheias”.
Muitos dos
seus vizinhos já usavam as suas maldades contra o Chico afirmando que ele não
era um homem do bem, e sim, um caloteiro, ladrão ou até mesmo um sujeito
grã-fino além do normal, só que em nenhum momento o Chico demonstrava essas
qualidades ou boas ou ruins. Todos os enterros de gente da alta sociedade em
Mossoró o Chico estava presente, enfiado na sua elegância e com choro de
crocodilo, demonstrava a sua tristeza sobre o desaparecimento daquele infeliz
rico.
Mas nem tudo
se oculta por muito tempo. Um dia a verdade embutida vem sem menos avisar.
Aconteceu que faleceu um dos ricaços da cidade e foi conduzido ao cemitério
mais próximo. O Chico estava lá, visto por toda aquela gente que acompanhava o
morto. Apesar da velhice o Chico aparentava um homem ainda jovem, e com toda
elegância era capaz de vez por outra um olhar solto em direção a alguma mulher
bonita. O Chico era uma espécie de homem conquistador.
No dia
seguinte, em uma visita às pressas a viúva foi tirar um terço para alegrar a
alma do seu falecido, e lá, percebeu que o túmulo tinha sido violado. Comunicou
somente à polícia para que ela tentasse descobrir quem teria violado o túmulo
do seu marido. E ao abri-lo, a polícia percebeu que o defunto estava sobre o
chão, porque o caixão fora roubado.
Sigilosamente,
todas as noites, a polícia ficava dentro das dependências do cemitério para ver
se descobria o sujeito que vinha violando túmulos por ali. E com alguns dias
passados, ela prendeu o ladrão de caixões. Era o Chico que era cheio de hábitos
não louváveis. Quando falecia alguém dono de bons valores ele acompanhava o enterro
para saber o local que aquele morto seria sepultado, e ao anoitecer, o Chico
estava lá para roubar o caixão valioso e vender ao papa defunto, porque os dois
mantinham grande acordo no que se referia a caixões valiosos. Por último, a
dupla ladra de caixões estava engaiola pela sua culpa, sua culpa e pela sua
máxima culpa.
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