Dolores
Gonçalves Costa, artisticamente
conhecida como Dercy Gonçalves (Santa Maria Madalena, 23 de
junho de 1907 — Rio de Janeiro, 19 de
julho de 2008),
foi uma atriz, humorista e cantora brasileira,
oriunda do teatro de revista,[2] notória
por suas participações na produção cinematográfica brasileira das décadas
de 1950 e 1960.
Foi reconhecida pelo Guinness Book como a atriz com maior tempo de
carreira na história mundial (86 anos).[3]
Celebrada por
suas entrevistas irreverentes, bom humor e emprego
constante de palavras de baixo calão, foi uma das maiores
expoentes do teatro de
improviso no Brasil.[4]
Biografia
Originária de
família pobre, nasceu no interior do estado do Rio de Janeiro em 1905, tendo sido
registrada em 1907.
Na época era muito comum registrar os filhos mais tarde, pela falta de acesso a
cartórios e informações da importância de um registro. Era filha de um alfaiate,
chamado Manuel Gonçalves Costa e de uma lavadeira, chamada Margarida Gonçalves
Costa. Sua mãe abandonou o lar e os sete filhos ao descobrir a infidelidade do
marido. Dercy, abandonada pela mãe ainda pequena, foi criada pelo pai
alcoólatra. A menina, que foi crescendo, teve que conviver com um pai bêbado em
casa e sofreu muito com o abandono da mãe, de quem nunca mais teve notícia.
Sofria
preconceitos na infância, sendo constantemente chamada de "negrinha",
por ser neta de negros.
Para ajudar
nas despesas de casa junto com os irmãos, Dercy foi trabalhar em uma bilheteria
de cinema.
Vendo os filmes nas horas de expediente do serviço, aprendeu a se maquiar e
atuar como as artistas. Seu grande sonho era seguir carreira artística. Mesmo
não sendo ainda atriz profissional, apresentava-se em teatros improvisados para
hóspedes dos hotéis em sua cidade natal.
Aos dezessete
anos fugiu de casa para Macaé embaixo do vagão de um trem, pois queria se juntar à
uma trupe de teatro mambembe que lá estava, diversos atores de circo
experientes no qual ela poderia trabalhar, a Companhia de Maria Castro.[5]
Após um tempo
morando em Macaé e trabalhando no teatro circense, o circo teve que partir para
se fixar em outra cidade e fazer apresentações novas. Então, ela foi junto com
a Companhia de Circo para Minas
Gerais, onde estreou em 1929, em Leopoldina, integrando o elenco da Companhia
Maria Castro. Fazendo teatro itinerante, fez dupla com Eugênio Pascoal em 1930, com quem se
apresentou por cidades do interior de alguns estados, sob o nome de "Os
Pascoalinos".[4]
Dercy se
apaixonou por Eugênio Pascoal, que foi seu primeiro namorado, aos 23 anos, no
papel, e 25 na vida real. Dercy dissera uma vez em entrevista que, fora
enganada por seu primeiro namorado, Pascoal, que a violentou
sexualmente. Dercy conta que na noite em que perdeu a virgindade, usava uma
camisola feita de saco de arroz: "Tinha escrito no peito: Indústria
Brasileira de Arroz Agulhinha, arroz de primeira", contou. Anos depois, a
atriz disse que, inocente na época, não sabia o que estava acontecendo e não
entendeu por que estava sangrando. Ela foi convencida a fazer sexo e não sabia
que esse convencimento, mediante ameaça de término do namoro, configura-se como
estupro. Após alguns anos convivendo junto com ele, por causa de ciúmes
violentos por parte dele, eles se separaram.
Enquanto
excursionava com a trupe pelo interior de Minas Gerais, Dercy contraiu tuberculose,
tendo que se afastar de sua maior paixão, o circo. Um exportador de café mineiro
chamado Ademar Martins Senra a conheceu quando passava próximo à tenda do circo
e se encantou por ela, apesar de ter ficado com pena da pobre moça doente. De
bom coração, pagou todas as contas do sanatório para a internação da atriz, que
não tinha dinheiro suficiente para custear o tratamento.
Depois de
curada, em 1934,
tendo largado o circo, teve um romance com o exportador de café mineiro Ademar
Martins, mesmo ele sendo casado. Desse relacionamento de 2 anos, nasceu sua
única filha, em 1936,[6] Dercimar.[7]
Sua filha,
Maria Dercimar Gonçalves Senra,[8] ainda
é viva. O nome Dercimar é uma mistura do apelido de Dolores, Dercy, com o nome
do pai dela, Ademar. Ademar descobriu que Dercy engravidou e,
mesmo casado, decidiu assumir o filho fora do casamento e colocou Dercy em uma
casa decente para se viver e ficou a ajudando nas despesas. Quando o bebê
nasceu, Ademar registrou a criança e às vezes ia visitar Dercy e a neném. No
entanto, não podiam morar juntos pelo fato de ele ser casado e o romance deles
ser secreto. Um dia, porém, não apareceu mais, o que fez Dercy sofrer muito,
além de ter que criar a filha sozinha. Ela, então, voltou a trabalhar em
teatro.
Especializando-se
na comédia e
no improviso, participou do auge do Teatro
de revista brasileiro, nos anos 1930 e 1940,
estrelando algumas delas, como "Rei Momo na Guerra", em 1943, de autoria de
Freire Júnior e Assis Valente, na companhia do empresário Walter
Pinto.
Na década
de 1960 iniciou sua carreira-solo. Suas apresentações, em diversos
teatros brasileiros, conquistavam um público cheio de moralismo. Nesses
espetáculos, gradativamente introduziu um monólogo, no qual relatava fatos
autobiográficos. Paralelamente a estas apresentações, atuou em diversos filmes
do gênero chanchada e comédias nacionais.
Na televisão,
chegou a ser a atriz mais bem paga da TV
Excelsior em 1963, onde também conheceu o executivo José Bonifácio de Oliveira Sobrinho,
o Boni. Depois passou para a TV Rio e já na TV Globo,
convenceu Boni a trabalhar na emissora, junto de Walter
Clark. De 1966 a 1969 apresentou na TV Globo um programa de auditório de
muito sucesso, Dercy de Verdade (1966-1969), que acabou
saindo do ar com a intensificação da censura no país após o AI-5. No final dos anos 1980,
quando a censura permitiu maior liberalismo na programação, Dercy passou a
integrar corpos de jurados em programas populares, como em alguns apresentados
por Silvio Santos, e até aparições em telenovelas da Rede Globo.
No SBT voltou
a experimentar um programa próprio que, entretanto, teve curtíssima duração.
Sua carreira
foi pautada no individualismo, tendo sofrido, já idosa, um desfalque nas
economias por parte de um empresário inescrupuloso — o que a fez retomar a
carreira, já octogenária.
Recebeu,
em 1985,
o Troféu Mambembe, numa categoria criada
especificamente para homenageá-la: Melhor Personagem de Teatro.
Em 1991, foi enredo
("Bravíssimo - Dercy Gonçalves, o retrato de um povo") do desfile
da Unidos do Viradouro, na primeira apresentação
da escola no Grupo Especial das escolas de samba do Carnaval do
Rio de Janeiro. Na ocasião, Dercy causou polêmica ao desfilar, no último carro,
com os seios à mostra.
Sua biografia
se intitula Dercy de Cabo a Rabo (1994), e foi escrita por Maria Adelaide Amaral.
Dercy de Verdade é o título dado
à minissérie sobre a vida da atriz, que também foi escrita por Maria Adelaide
Amaral e direção de Jorge Fernando. A minissérie estreou no
dia 10 de janeiro de 2012 e teve 4
capítulos.
Em 4 de
setembro de 2006, aos 99 anos, recebeu o título de cidadã honorária da cidade de São Paulo, concedido pela câmara de vereadores desta capital.
Centenário
No dia 23 de
junho de 2007,
Dercy Gonçalves completou cem anos com uma festa na Praça Coronel Braz, no
centro do município de Santa Maria Madalena (sua cidade natal), na região
serrana do Rio de Janeiro. Na festa, Dercy comeu bolo, levantou as pernas
fazendo graça para os fotógrafos, falou palavrão e saudou o povo, que parou
para acompanhar a comemoração. Embora oficialmente tenha completado cem anos,
Dercy afirmava que seu pai a registrou com dois anos de atraso, logo teria
completado 102 anos de idade.[9]
Foi este
também o mês em que Dercy subiu pela última vez num palco: foi na comédia
teatral Pout-PourRir (espetáculo criado e dirigido pela dupla Afra
Gomes e Leandro Goulart), onde comemorou "Cem Anos de Humor", com
direito à festa, autógrafos de seu DVD biográfico e um teatro hiperlotado por
um público de fãs, celebridades e jornalistas. À noite, inesquecível para quem
estava presente, onde Dercy foi entrevistada por uma personagem interpretada
pelo ator Luís Lobianco, ainda deixou para a história duas frases memoráveis. É
perguntado à atriz se ela tem medo da morte, e Dercy, sempre de forma
irreverente responde: "Não tenho medo da morte, a morte é linda... (ela
repensa) ...mas a vida também é muito boa!", e no fim, após cortar o bolo
com as próprias mãos e atirar nos atores, diretores e plateia, faz o público
emocionar-se ainda mais, dizendo: "Eu vou sentir falta de vocês. Mas vocês
também vão sentir a minha".
Morte
Dercy
Gonçalves morreu no dia 19 de julho de 2008, aos 101 anos de
idade,[nota
1][1] no Hospital São Lucas, em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro. Ela foi
internada durante a madrugada. A causa da morte teria sido uma complicação
decorrente de uma pneumonia comunitária grave que evoluiu para uma sepse pulmonar
e insuficiência respiratória.[10] O estado do Rio de Janeirodecretou luto
oficial de três dias em memória à atriz.[11] Encontra-se
sepultada em sua terra natal em Santa Maria Madalena. Na
mesma semana, Afra Gomes e Leandro Goulart e o elenco de Pout-PourRir prestaram,
em cena, uma última homenagem à Dercy.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Dercy_Gon%C3%A7alves
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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