Seguidores

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

A CIDADE E O RIO

Por Geraldo Maia do Nascimento

O Rio Mossoró corta a cidade ao meio, formando ilha, se mostrando em sua plenitude. Nasce nos limites do Rio Grande do Norte com a Paraíba, em São Brás, Município de Luís Gomes, e faz um percurso de 300 Km aproximadamente, sendo o maior rio do Estado. Não há como entrar na cidade sem o ver. Atravessa-a de sudoeste a nordeste. Antes era rio livre; travesso. Corria majestoso em suas enchentes, formando grandes redemoinhos, cortando barrancos às suas margens, arrastando troncos de árvores em suas águas barrentas e veloz. Travessuras essas que fizeram com que os nativos que aqui habitavam o chamassem de mô-çoroc, vocábulo indígena que significa “fazer roturas, rasgar, abrir”. Esse vocábulo, segundo alguns historiadores, teria dado nome a cidade.               


Para evitar os males das enchentes, foi feito um desvio do leito do rio, entre os anos de 1877 a 1880. Mas acontecia também do rio secar, preocupando a população. Foi assim em 1905, quando o Rio Mossoró parou de correr por trinta meses, fato assombroso e preocupante. Mais uma vez veio a intervenção do homem. Em 1917 o engenheiro Pedro Ciarlini (Pietro Luigi Maria Del la Palude Ciarlini), veio para Mossoró com a incumbência de estudar e construir obras contra as secas, entre as quais barragens no Rio Mossoró. Foram construídas sete barragens submersíveis, espalhando-se por quase três quartos do seu percurso no Município. Com isso o rio não mais secava. Era o resultado de várias tentativas para solucionar o problema de água de Mossoró. Mas as coisas não funcionaram como haviam sido previstas. A qualidade da água represada não atendia as condições de água potável, servindo apenas para outros gastos.      
          
Antes da construção das barragens, e quando as chuvas permaneciam por mais tempo, era possível navegar no rio. Foi assim que em 27 de janeiro de 1866 o vapor Maranguape, da Companhia Pernambucana, chegou ao local Roncadeira, bem próximo ao Porto da Jurema, distante apenas 18,0 Km de Mossoró. A rota pelo rio ligava a cidade à orla marítima. 
              
O escritor mossoroense Raul Fernandes descreve a cidade de Mossoró nos idos de 27. E sobre o rio ele diz: A cheia do rio constituía um evento na vida dos mossoroenses. A notícia da cabeça-dágua, na cidade de Pau dos Ferros, difundia-se célebre. Chovia em todo o sertão e no Piauí. O inverno estava pegando. Não tardaria em Mossoró. Aguaceiros torrenciais caíam sobre as várzeas de massapê, carregando o que encontrava ao rio. Vazantes ficavam submersas. Nessa época, as barragens do rio já estavam prontas. Na continuação da narrativa, Raul Fernandes diz: O sangramento por cima da barragem, em cascata, fazia um ruído contínuo e surdo. Peixes, na luta pela sobrevivência, pulavam contra a correnteza. Tentavam transpor o paredão. No salto, eram apanhados em landuás. Atravessava-se o rio em botes, canoas e bateiras a remo. Canoeiros pechinchavam o preço das passagens. Levavam passageiros de uma a outra margem. Ecoavam, no espaço, lânguidos mugidos de boiadas ao serem forçadas a atravessar a nado, as água turbulentas. Vez por outra se ouvia o soar grave dos búzios, de alguém insulado, a pedir socorro. Ao romper do dia, o cenário cotidiano das lavandeiras, dava movimentado colorido a orla fluvial. 
               
Mas a cidade precisava crescer e para isso fazia-se necessário a construção de pontes sobre o rio. Com a construção das pontes, mal se percebe a ilha de Santa Luzia que passou a ser uma extensão da cidade. Os problemas das enchentes, que vez por outra causava calamidades na cidade, foram resolvidos com a dicotomização do rio, através da abertura de um novo canal. E o rio, antes travesso, ficou calmo. Preso entre suas barragens permanece imóvel, sendo poluído constantemente, olhado de cima por todos que passam pelas pontes. Rio verde, sem vida, sem liberdade, cuja tristeza é ressaltada todas as tardes quando reflete, melancolicamente em suas águas, a rotina do por do sol.  

http://www.blogdogemaia.com/detalhes.php?not=70

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário