Por Benedito Vasconcelos Mendes - (Continuação)
7. Artesanatos de Linha e de Fio de Algodão
De um modo geral, as mulheres sertanejas são dotadas de muitas prendas artísticas, principalmente, quanto às artes ligadas aos trabalhos de coser, bordar e tecer.
Os internatos dos “Ginásios de Freiras”, existentes nas cidades maiores do interior do Nordeste, recebiam as moças das fazendas e das cidades menores, para estudar e ser educadas nas artes domésticas, que incluía os afazeres do lar (arrumação da casa, copa e cozinha) e as técnicas relacionadas à confecção de peças de vestuário, alfaias e de roupas de cama, mesa e banho. No sertão nordestino, as redes e outras peças feitas de tecido de algodão cru, geralmente, eram confeccionadas na própria fazenda. A sala da frente da casa grande, quando não era usada como sala de aula, sérvia como oficina de fiar e tecer. O fio de algodão era feito com pequenos fusos girados pelas mãos hábeis das fiandeiras, à semelhança do processo indígena de fiação ou nas tradicionais rocas de fiar.
O algodão em caroço (pluma mais caroço) era trazido do armazém e descaroçado no pequeno descaroçador manual, feito de dois cilindros de madeira, que giravam em sentidos contrários. A pluma era penteada com a carda (espécie de escova de fios de aço), para facilitar o trabalho da fiandeira. Com o fio, preparava-se as medas em um pequeno e rústico equipamento de madeira, conhecido como meadeira.
REDES
O tecido era produzido no rústico tear manual, de formato retangular, muito semelhante ao primitivo tear dos índios. Havia também, em algumas fazendas, o tear de pedal, máquina bem maior, mais aperfeiçoada e mais produtiva, feita de madeira com pentes de aço. A parte da rede que recebe os punhos era confeccionada separadamente,
em um pequeno apetrecho denominado tear de monocabo. Os punhos eram preparados em um cavalete de madeira ou usando o dedão do pé da artesã. As varandas da rede eram feitas de crochê.
RENDAS
Chama-se rendas, os tecidos de malhas abertas feitos com fios de algodão, fios de linho ou fios de seda, entrelaçados a mão, formando desenhos. As rendas são usadas para enfeitar ou confeccionar peças de vestimenta feminina, alfaias, toalhas de mesa, colchas, lençóis de cama, panos de prato, guardanapos e panos de bandeja. A renda de almofada, também conhecida por renda de bilro, renda de praia ou renda do Norte, é confeccionada sobre uma almofada, onde os bilros, manejados habilmente pela rendeira, fazem o entrançado das linhas, reproduzindo na peça de renda, o desenho, previamente, preparado com furos em uma tira de papelão, presa em cima da almofada. A almofada consiste de um saco de algodãozinho cheio de pluma de algodão, ou cheio de capim seco ou de folhas secas de bananeira. A marcação dos pontos do desenho é feita por grandes espinhos de xique-xique. Existem muitos e belos padrões de renda de bilro, usados nas mais diferentes peças do vestuário feminino (bico de renda para anágua, camisola e calcinha), enfeites para guardanapo e toalha de mesa, fronhas, viras para lençóis, colchas de cama, panos de bandeja e para muitas outras peças de tecidos.
RENDA FILÉ
A renda filé é confeccionada com o auxílio de uma grade retangular de madeira, circundada por pregos, que são distribuídos de maneira que fiquem equidistantes, que são usados para a feitura dos nós, nos cantos de cada quadrado da renda.
RENDA DE CRIVO
A renda de crivo é feita em grades de madeira de vários tamanhos, em um tecido de uma só cor, para ser desfiado e depois preparados os crivos, que são orifícios com acabamento nas bordas.
LABIRINTO
A labirinteira, utilizando a mesma grade da rendeira de crivo e também um tecido de cor uniforme, geralmente linho, risca o tecido com o desenho desejado e depois desfia e faz os pontos, originando belos labirintos, geralmente usados em vestuário feminino e para roupas de cama e mesa.
CROCHÊ
A crocheteira, dotada de grande habilidade manual, usando uma longa agulha com um gancho na ponta, fazia a mão, ricas peças ornamentais, para o vestuário feminino (blusas, saias e vestidos), varandas para redes de dormir, sapatinhos para recém-nascidos e muitas outras peças de crochê, de uso geral no Nordeste brasileiro.
BORDADO
A bordadeira executa dois tipos de bordado: bordado à mão e bordado à máquina.
O bordado à mão é feito com agulha de coser manual. Primeiramente, desenha-se com lápis, as figuras (flores, Ramos e outros desenhos) e os diversos tipos de ponto são executados com agulha e linha fina, no tecido preso ao bastidor de madeira. Para empurrar a agulha com a linha, a bordadeira usa o dedal de metal, no dedo indicador. Um tipo de bordado à mão muito apreciado no Nordeste é a renascença. Nele, o desenho principal é feito com uma delicada fita de tecido, presa por finos pontos, com linha muito fina. No bordado à máquina, o tecido depois de riscado a lápis e preso ao bastidor é levado à máquina de costura para preencher os pontos com linha de bordar.
COSTURA
A costureira faz roupas femininas dos mais diversos modelos. As medidas do corpo da cliente são tiradas e transferidas para moldes de papel de embrulho. O tecido riscado com giz de cera é depois cortado. A roupa é alinhavada e depois provada no corpo e, após os ajustes finais, o vestido é costurado e o acabamento feito. Entende-se como acabamento, as operações de pregar botões, fazer casas, aplicar detalhes e abanhar.
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