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quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

NO PRIMEIRO DIA DO ANO, UM BANHO NO SÃO FRANCISCO

*Rangel Alves da Costa

Hoje, primeiro dia de 2020, acordei cedo e fui dar uma volta na cidade de Poço Redondo, no sertão sergipano, meu berço de nascimento e onde de vez em quanto me demoro alguns dias.
Por volta das oito da manhã, e ainda portas e janelas fechadas, poucas pessoas caminhando pelas ruas e avenidas, talvez um reflexo das festanças da virada de ano. Sentei na lateral de canteiro de praça e fiquei imaginando um monte de coisas.
Olhava para um canto e outro, mas nada interessante a fazer. O tempo passava e a mesmice continuando. Então decidi ir até as beiradas do Rio São Francisco, na povoação ribeirinha de Curralinho, distante apenas 14 km da sede municipal, e lá apreciar não só as belezas da natureza como as águas do Velho Chico.
Providenciei um carro, convidei um casal de amigos, e em poucos instantes já estava na estrada de chão em direção a antiga e primeira povoação de Poço Redondo. Curralinho, por incrível que pareça, já foi maior, bem mais desenvolvida, mas hoje apenas uma acanhada e humilde povoação.
O grandioso de hoje em Curralinho é apenas o Velho Chico que passa. Aliás, foi o rio quem sempre deu vida e fez progredir aquela povoação. Mesmo que as grandes embarcações não passem mais e o comércio pelas águas tenha perdido sua pujança de outrora, ainda e o rio que mantém viva e belo aquele lugarejo ribeirinho.
Até as margens do São Francisco, todo o percurso é feito pela Estrada Histórica Antônio Conselheiro. E assim porque foi velho beato e seus seguidores que abriram, cortando os sertões, no ano de 1874, a estrada que continua de chão batido.
Em meio aos sertões, ladeados pela vegetação catingueira e cactácea, enfim o veículo desceu a última ladeira até divisar mais uma obra de Antônio Conselheiro na região: a Igreja Nossa Senhora da Conceição de Curralinho. Ao avistá-la, então a certeza que Curralinho é ali.


Mesmo sem a pujança de antigamente, Curralinho ainda se mostra como uma povoação de singela beleza. A rua da frente, defronte ao rio, por exemplo, possui calçadas altas (para impedir o avanço das águas em épocas das cheias do rio) e belos exemplares arquitetônicos em algumas moradias.
Mais abaixo, margeando o rio, bares e restaurantes oferecem o necessário aos momentos prazerosos juntinho das águas. E águas estas que agora estão bom volume e muito diferente de pouco atrás, quando a magreza do rio estava visível em toda sua extensão. Mas hoje as águas não dependem mais das chuvas, e sim do homem controlando a vazão das hidrelétricas e principalmente  da barragem de Sobradinho.
As margens estavam lotadas, completamente cheias de visitantes. Era de se esperar assim, pois aos finais de semana, feriados e datas como as de hoje, o primeiro dia do ano, um grande número de pessoas procuram as águas do Velho Chico para os banhos doces e deleitosos.
Não minha intenção entrar nas águas e me deixar banhar em profusão. Até fui deixando o tempo passar enquanto eu caminhava observando a beleza das águas, das serras e montes de lado a outro, mas também as pessoas em mesas de bares e dentro das águas. Mas não houve jeito. De repente e eu já estava caminhando em direção à beirada.
E que banho maravilhoso. Indescritível sentir-se envolvido pelas águas históricas do Velho Chico. Mergulhar e sentir-se abraçado pela natureza molhada. Sair um pouco das águas para depois retornar. E assim fazer muitas vezes, pois uma sensação maravilhosa de estar ali.
E assim, cortando os sertões em direção às aguas do velho Chico, foi o meu primeiro dia do ano. E que maravilhoso início de ano.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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