Por Manoel Belarmino
Ontem, 9 de
janeiro de 2020, completou-se 88 anos do grande combate das volantes com o
grupo de cangaceiros comandado por Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião, na
Fazenda Maranduba dos Soares, no atual Município de Poço Redondo. O evento
ficou conhecido como o Fogo do Maranduba. O Sítio e o Maranduba eram duas
fazendas que, no tempo do Cangaço, pertenciam aos Soares, meus antepassados.
O Fogo do
Maranduba, ocprriso naquele dia 9 de janeiro de 1932 foi um dos três maiores
combates do Cangaço com as volantes, assim como o combate de Serra Grande em
Pernambuco e o combate de Serrote Preto em Alagoas.
Lampião
encontrava-se nas pias da Maranduba com a sua cabroeira, provavelmente no
descanso de almoço. Ali foi cercado e atacado por duas tropas das volantes da
polícia. Uma comandada pelo capitão Liberato de Carvalho da Serra Negra (que
depois chegou à patente de general do Exército Brasileiro) e a outra comandada
pelo nazareno de Nazaré do Pico Manoel Neto. Lampião reagiu com os seus
cangaceiros. O tiroteio iniciou ao meio dia se estendendo até por volta das
cinco horas da tarde. Lampião sai vencedor, mesmo com um número menor de
cangaceiros. E Liberato e Manoel Neto fogem. Oito soldados das volantes morrem
ali. Da tropa de Liberato da Serra Negra morreram Pedrinho de Paripiranga,
Manoel Ventura, João de Anizia e Elias Marques. Da tropa de Manoel Neto, dos
nazarenos, morreram ali entre os sete pés de umbuzeiro do Maranduba mais quatro
soldados das volantes: Hercílio Nogueira, Adalgiso Nogueira, João Cavalcante e
Antônio Benedito da Silva. Apenas dois cangaceiros da parte de Lampião foram
mortos nesse combate, Sabonete e Caatingueira. E o cangaceiro Quina-Quina ficou
gravemente ferido, vindo a óbito dias depois do evento Fogo do Maranduba.
Um trecho do
folheto de cordel de minha autoria intitulado O Fogo do Matanduba:
....
"Com um número bem menor
De homens ali lutando
Na fazenda Maranduba
Lampião saiu ganhando
Matou oito policiais
E a volante recuando.
....
"Com um número bem menor
De homens ali lutando
Na fazenda Maranduba
Lampião saiu ganhando
Matou oito policiais
E a volante recuando.
Liberato de
Carvalho
Das volantes da Bahia
E o Tenente Mané Neto
De vergonha e de agonia
Fogem dali com as tropas
Naquele final de dia.
Das volantes da Bahia
E o Tenente Mané Neto
De vergonha e de agonia
Fogem dali com as tropas
Naquele final de dia.
O fogo que
aconteceu
Ali naquele lugar
Durante uma tarde inteira
Em combate sem parar
De O Fogo do Maranduba
Passou assim a se chamar."
Ali naquele lugar
Durante uma tarde inteira
Em combate sem parar
De O Fogo do Maranduba
Passou assim a se chamar."
Toda vez que
vou ao Maranduba ou quando escuto um mais velho contar sobre aquele combate,
descubro um segredo ou algo que ainda não foi escrito. Vou guardando um a um. É
de ficar arrepiado. Mas não vou revelar tudo agora, até porque não cabe em um
pequeno texto como este, escrito para uma postagem na rede social.
Vejo que
atualmente ainda há uma pequena mancha de caatinga original ali no Maranduba. E
vejo também os Sete Pés de Umbuzeiros, um próximo do outro, vivos ainda,
resistindo no tempo, como testemunhas daquele grande combate. Os umbuzeiros,
todos os sete, serviram de trincheiras para os cangaceiros. Até recentemente
naquele local, próximo dos umbuzeiros, eram encontradas cápsulas e balas ainda
intactas. E ainda ali, não muito longe da Cruz dos Nazarenos, local onde foram
enterrados os volantes (grande parte naturais da Vila de Nazaré do Pico-PE) e
os dois cangaceiros, estão as pias (cavidades nas rochas) ainda armazenando
quase 500 litros de água captados das chuvas.
Todos nós, os
poço-redondenses, precisamos conhecer a nossa história, os nossos lugares
históricos e de memória. Conhecer o Maranduba, em seus detalhes, in loco, como
se deu o combate e as lendas que surgiram depois daquele combate, A Grota do
Angico, a História do Quilombo Serra da Guia, a Pia das Panelas, o Riacho do
Quatarvo, os nossos Sítios Paleontológicos, as pinturas ruprestes do Morro da
Letra, as cachoeiras, os monolitos da Pedrata, as furnas da Serra da Guia, os achados
arqueológicos, é importante para o fortalecimento das nossas raízes e da nossa
cultura sertaneja.
Com
frequência, pesquisadores, escritores, estudantes, professores e amantes da
história do Nordeste, vêm ao Maranduba em busca de mais informações daquele
grande combate que se enquadra nos três maiores combates entre cangaceiros e
volantes da história do Cangaço.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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