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quarta-feira, 25 de novembro de 2020

O DEPOSITÁRIO DO ORGULHO BESTA

 Clerisvaldo B. Chagas, 25 de novembro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.424

A verdade e a ficção para refletir sua própria vida:

No Sertão alagoano do São Francisco, desembarcou por terra um senhor alto, vermelho, tendo à cabeça um chapéu tipo expedicionário, alguns instrumentos numa valise e máquina fotográfica à mão. Sem falar com as poucas pessoas que estavam por ali, sentou-se à sombra de frondosa mangueira e começou suas anotações em papel sobre prancheta. Mais de meia hora passou aquela figura a traçar no papel, anotar e usar a máquina fotográfica. Sentiu sede, não pediu água a ninguém, estava bem abastecido com seu cantil de metal coberto de lona. O rio, que acabara de receber água nova, estava bastante agitado combinando com o calor de mais de 39 graus.

Havia entre os raros pescadores que estavam por ali, um rapazinho vivaz e curioso. Aproximou-se daquela figura para ele estranha e, mesmo sem ser convidado, indagou:

-- Quem é o senhor.

O desconhecido respondeu empinando o nariz:

-- Sou um sábio, meu rapaz, um sábio. Um homem que sabe tudo, compreende?”

O jovem, entre a ironia e a ignorância, novamente indagou:

-- Ah! Entendi, o senhor é cartomante...

O homem não gostou, engoliu seco e falou:

 -- Para não perder a sua essência, sabedoria não dialoga com incautos, ignóbeis, lunáticos e analfabetos. Arranje-me uma canoa que eu pretendo vadear o rio. Bem remunero com o valor regional.

Dessa vez o rapaz entendeu e chamou um canoeiro dos mais antigos para fretar a canoa.  Mesmo advertido sobre uma tempestade que se aproximava, o sábio insistiu na viagem urgente. Feito o devido ajuste de preço, embarcaram ambos.

O pescador remava calado, mas o sábio começou a indagar:

-- O senhor fala inglês?

O canoeiro respondeu:

-- Nem sei o que é isso, meu senhor.    

-- Pois, então perdeu um quinto da sua vida. -- E voltou à carga:

-- O senhor conhece Geografia?

-- Não senhor”.

-- Pois perdeu dois quintos da sua vida -- Ainda insistiu o sábio:

-- Afinal, pelo jeito, não sabe ler nem escrever...

-- Sei não senhor... Respondeu o canoeiro, já bastante aborrecido.

-- Pois sendo assim, já perdeu três quintos da sua vida.

Nesse momento a tempestade aproximou-se, as águas se agitaram vigorosamente, a canoa rodopiou chegando a vez do pescador fazer a sua indagação:

-- O senhor sabe nadar?

-- Sei não, respondeu o sábio, apavorado. O canoeiro voltou-se e disse:

-- POIS PERDEU A VIDA TODA! -- Abandonou o remo e pulou nas águas revoltas do rio São Francisco.



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