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segunda-feira, 14 de junho de 2021

“NO ENCALÇO DO MEU TRISAVÔ”

Por Cícero Aguiar Ferreira 

Como já postei algumas vezes aqui, estou empenhado em um projeto que intitulei “Tamborizeiro”, ninguém me pediu que o fizesse, mas tenho esse compromisso comigo mesmo. Ciente das dificuldades de escrever, porque ninguém mais que eu, sabe das minhas limitações intelectuais. Minha escolaridade é pouca, sou um simples Técnico em Contabilidade, nunca fiz uma faculdade, só quem conhece minha história sabe que até pra chegar a esse humilde grau de escolaridade, foram muitos os obstáculos. Quando falo isso, não é para angariar solidariedade ou me vitimizar, ao contrário, é apenas para mostrar o quão está sendo complicado conduzir esse trabalho.

José Pereira de Aguiar

Uma figura sempre me chamou a atenção, José Pereira de Aguiar, e nesse momento do trabalho, estou debruçado nas pesquisas sobre ele. De uns meses para cá, tenho tido, que ao meu ver um certo sucesso, tenho encontrado documentos sobre ele do ano de 1860 até 1908, e creio que vou trazer um importante apanhado de informações da figura que foi o Cel. José Pereira de Aguiar do Tamboril. Estou ciente que poucos vão se interessar, até mesmo alguns de seus descendentes diretos, provavelmente a velha geração como meu avô por exemplo, iria gostar e até se surpreender com o que trago.

José Pereira de Aguiar do Tamboril foi uma figura de grande relevância no seu tempo, a decadência e a pobreza que ficaram os seus filhos que moravam no Tamboril, foi o que me incentivou a tentar compreender o porquê disso. Acredito que já tenho algumas respostas, e até mesmo porque que o Tamboril passou mais de um século esquecido pelo poder público. Quem é tamborizeiro da minha geração ou de uma anterior a minha, sabe do que falo. Uma coisa já adianto, os filhos do cel. que viveram no Tamboril não usufruíram em nada da posição e da influência que ele exercia em Belmonte.

Eu tenho uma visão que este desfavorecimento, de certa forma nos torna mais altivos, mesmo com as adversidades, sobrevivemos, não herdamos nenhum tipo de benesses, a não ser as confusões das pequenas glebas de terras. Por não sofrer de vitimismo, por ser pobre materialmente, mas por poder andar de cabeça erguida, para mim é uma grande riqueza, e por isso fiz essa poesia que de certa forma retrata esse sentimento que tenho. Em breve, essa poesia sairá em um livro com a participação de poetas de várias partes do Brasil.

"Alma sertão"

Sou do Poço da Braúna.

Lugar simples, de um povo simples.

Sim, é Sertão, é Nordeste, é Brasil.

Sou da última classe, dos esquecidos?

Não. Acredito no divino, tenho fibra.

Sou rude, mas tenho alma, decência.

Descendo das caravelas, sou porão, convés, sou nativo, é a minha origem.

Como outros, não pisei o conforto das suntuosas cabines, herdei a caatinga, e vivo nela.

Carrego os meus calos, não sou cativo da usura.

Por aqui caminho, sem os tesouros, carrego o bornal simplório que ornamenta a minha dignidade.

Sou apenas Zé, e isso me basta.

Cicero Aguiar Ferreira

18/04/20

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