Por José Romero Araújo Cardoso
Em dois momentos, quando da entrada do bando de Lampião no Estado do Rio Grande
do Norte, o chefe quadrilheiro fez valer sua experiência como chefe de cangaço,
evitando deliberadamente confrontar-se com a resistência que foi organizada.
Foto acervo Sinô Mias
A passagem dos
cangaceiros em Alexandria foi desviada propositalmente, a fim de evitar
conseqüências funestas, como em Belém do Rio do Peixe, no mês de maio de 1927,
o que atrasou a marcha em mais de um mês. A resistência em Alexandria,
organizada pela briosa e destemida família Oliveira, assim como a efetivada em
Mossoró, também perfaz referência brilhante à bravura potiguar, embora não
tenha havido confronto em razão de Lampião ter ponderado sobre o que o espera
em Alexandria.
O segundo desvio proposital dos cangaceiros foi em Caraúbas. O “rei do cangaço”
conhecia a fama de quem havia estruturado a resistência. Tratava-se tão somente
do “Coronel” Quincas Saldanha, o “gato vermelho” da expressão sisuda e
respeitosa proferida pelo próprio Virgulino Lampião.
Atordoados com a fama perversa de Virgulino Ferreira da Silva e seus cabras, os
jagunços do “Coronel” Quincas Saldanha iniciaram forte tiroteio, a esmo, cujo
erro foi notado imediatamente pelo experiente sertanejo, observando que os
disparos estavam sendo feitos apenas de um lado. Quincas Saldanha ordenou
cessar fogo e notou que estava certo. Lampião tinha desviado a rota para Pedra
da Abelha, onde aprisionaria o “Coronel” Antônio Gurgel. A esperteza do chefe
dos cangaceiros era uma das razões para o “sucesso” que obteve em vinte e dois
anos de lutas no cangaço.
Em Alexandria lembraram-se de eternizar a valentia daqueles que pegaram em
armas para obstacular as ações ensandecidas dos cangaceiros. Uma fotografia
rara e inédita, de propriedade do senhor José do Patrocínio de Oliveira Maia,
natural de Catolé do Rocha (PB), residente no presente da cidade de Mossoró
(RN), é a prova iconográfica do empenho valoroso que a família Oliveira
efetivou, organizando frente de combate, a qual, conforme se pode verificar no
importante registro iconográfico, estava decidida e irresoluta.
A necessidade de fomentar obstáculo a Lampião se dava em virtude da forma
tresloucada como o bando vinha se comportando desde quando cruzou a fronteira
com a Paraíba. Em Cantinho do Feijão (PB) (hoje município de Santa Helena), o
bando cometeu verdadeiros atos de vandalismo.
O senhor José do Patrocínio, conhecido por todos por Sinô Maia, guardou a
relíquia com todo zelo, principalmente em virtude de que na fotografia aparece
o avô do dono da iconografia rara e inédita. O combatente chamava-se José
Garcia, estando assinalado na fotografia, como forma do neto demonstrar carinho
ao valente sertanejo. Sinô Maia residiu muito tempo na fazenda cachoeira, em
Brejo do Cruz (PB), servindo ao Dr. Fábio Mariz, na profissão de vaqueiro,
durante décadas.
Sinô Maia não soube informar os nomes dos outros combatentes, nem a autoria da
fotografia. Apenas guarda de recordação há muitos anos. Na fotografia, conforme
pode se notar na mesma, identifica-se a bandeira do Brasil como pano de fundo,
envolvendo simbolicamente o grupo da resistência de Alexandria na legalidade.
No âmbito histórico-iconográfico considero que o registro fotográfico da
resistência organizada em Alexandria tem a mesma importância que as fotografias
perpetuadas por Raul Fernandes em seu clássico opúsculo por título “A marcha de
Lampião – assalto a Mossoró”.
Nenhum documento sobre a arrogante invasão do bando de Lampião ao território
potiguar pode ser desprezada. O valor de uma fotografia rara e inédita sobre o
tema, é incomensurável, visto que temos de relatar de todas as formas possíveis
às gerações presentes e futuras a grandeza da bravura do povo potiguar,
sobretudo Mossoroense, que resistiu galhardamente a um dos mais absurdos atos
de agressão a seres humanos, a maioria indefesa, à lei e à ordem no Rio Grande
do Norte.
Qualquer documentação inédita que tenha ligação com o cangaço deve ser
valorizada, principalmente em razão de que a importância do fenômeno social
ocorrido nas caatingas nordestinas traduz a essência da busca pela compreensão
da dimensão regional de uma forma holística.
Fonte: Alma
do beco
http://lampiaoaceso.blogspot.com/search/label/Alexandria
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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