Por Valdir José Nogueira...pesquisador/escritor
Há homens
predestinados a deixar para a história, um legado de coragem, de sacrifício, de
amor e vocação à causa pública, aliado à determinação de seus ideais, com uma
fé inabalável em Deus.
O Legendário
belmontense Capitão Luiz Mariano da Cruz encontrou nas décadas de 20 e 30 do
século passado, um cenário desolador em decorrência do banditismo, que culminou
com o aumento desordenado da criminalidade na região sertaneja.
Intensificava-se naquela época o ciclo do cangaço, tempo difícil e inseguro
para muita gente.
Os cangaceiros
aterrorizavam as cidades, realizando roubos, extorquindo dinheiro da população,
sequestrando figuras importantes, além de saquear fazendas. Esses grupos eram
integrados, na maioria das vezes, por jagunços, capangas e empregados de
latifundiários (detentores de grandes propriedades rurais). Esse movimento está
diretamente relacionado à disputa da terra, coronelismo, vingança, brigas de
famílias etc.
São José do
Belmonte, hoje a próspera cidade do sertão central de Pernambuco, sendo uma
região de fronteira, despontava como um verdadeiro arraial nas hostes do
cangaço, por aqui Lampião, o rei do cangaço, deixou também seu rastro de
sangue, morte e destruição, quando junto a um numeroso grupo de cangaceiros no
dia 20 de outubro de 1922, invadiu a cidade para eliminar o próspero
comerciante Luiz Gonzaga Gomes Ferraz. Durante o ataque, os cangaceiros também
sofreram a heroica resistência do destacamento de polícia local sob o comando
do bravo sargento Sinhozinho Alencar (José Alencar de Carvalho Pires) que
contou naquela difícil situação apenas com oito praças. E dentre esses soldados
lutou bravamente o jovem Luiz Mariano da Cruz, na ocasião com 22 dois anos de
idade.
Pertencente a
uma das tradicionais famílias belmontenses, o capitão Luiz Mariano da Cruz
nasceu na fazenda Cacimba Nova no dia 08 de dezembro de 1899, filho do Sr.
Manoel Mariano de Menezes e de dona Maria Francisca de Jesus. Luiz Mariano,
durante sua vida se destacou como um aguerrido policial na perseguição a
Lampião e seu bando. Inicialmente, perseguiu-o no seu torrão natal, após, junto
com o nazareno e lendário Tenente Manoel Neto, se embrenhou nas caatingas
baianas e Raso da Catarina, onde teve dezenas de combates, tendo saído ferido
em alguns, inclusive, tendo que se submeter a tratamento na cidade de Salvador,
em face da periculosidade dos ferimentos sofridos. Na sua história militar,
Luiz Mariano também foi delegado de polícia da cidade de Itabuna na Bahia e em
Petrolina, Pernambuco.
O bravo e
afamado soldado Luiz Mariano, já capitão reformado, volveu os seus olhos
inteligentes para a produção nativa do catolé, existente abundantemente na
lendária Serra do Catolé, localizada nos limites do município de São José do
Belmonte, sua terra natal, com o Estado da Paraíba. Luiz Mariano comprava toda
a produção de catolé aos moradores da região, e comercializava com a empresa
Alimonda Irmãos S.A. na cidade do Recife (PE). Esta empresa, fundada no ano de
1930, dedicou suas primeiras três décadas, à produção de sabão. O catolé de São
José do Belmonte era destinado para esse fim, diante da visão empreendedora do
Capitão Luiz Mariano. O pó da palha do catolé era também comercializado com
empresários da cidade de Salvador (BA), e destinava-se ao fabrico de vinis, na
época os famosos “discos de 78 rotações”.
Quis o
destino, que no dia 21 de maio de 1943, numa das suas costumeiras viagens de
negócios, transportando uma grande carga de catolés de São José do Belmonte
para o Recife, o caminhão tombou em Ipanema, município de Pesqueira (PE),
causando a morte aos 42 anos de idade do bravo e inesquecível capitão Luiz
Mariano da Cruz.
O mesmo foi
casado em 1918 na cidade de Custódia – PE com Maria Bezerra (Liquinha). Desse
casamento houve um filho o coronel José Mariano Bezerra (Zequinha), nascido no
dia 14 de janeiro de 1928. Este senhor foi casado com Zuleima Ferraz Bezerra
filha do coronel José Alencar de Carvalho Pires (Sinhozinho Alencar) e de
Albertina Ferraz Alencar.
Porém, foi
durante o combate contra o banditismo que o nome do Capitão Luiz Mariano ficou
gravado na história. Durante esse período de terror, o capitão Luiz arregaçou
as mangas, apurou crimes, prendeu bandidos, capturou bandos de cangaceiros e
ladrões de cavalos, sem dispor à época, de armas, viaturas e helicópteros,
enfrentando dificuldades de toda ordem. Dispunha na verdade, de seu velho “38”
e de uma reduzida, mas eficiente equipe de policiais de sua irrestrita
confiança. Mais das vezes sua viatura era o lombo de um bom cavalo, para as
estradas batidas de poeiras e veredas do sertão. Foi um policial astuto e muito
valente. Enfrentou todas as adversidades da natureza, como o surto de
infestação de várias doenças tropicais, como as terríveis febres, sobrevivendo
heroicamente. Foi um trabalhador incansável, um líder nato, um policial
polivalente.
A cidade de
São José do Belmonte no passado denominou uma de suas ruas com o nome deste
grande vulto de sua história. Todavia hoje a maioria dos seus habitantes
desconhece a trajetória deste bravo belmontense, policial de brio, homem
honrado e probo, símbolo da concretização de um ideal, que certamente servirá
de luz, como um farol, a guiar as futuras gerações de oficiais e praças da
bicentenária e histórica Corporação que é a Polícia Militar de Pernambuco.
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