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Benjamin Abrahão Botto (Zalé, c. 1890 — Itaíba, 7 de maio de 1938) foi um fotógrafo libanês-brasileiro, responsável pelo registro iconográfico do cangaço e de seu líder, Virgulino Ferreira da Silva — o Lampião. Abrahão morreu aos 48 anos, durante o Estado Novo.[1]
A fim de fugir
à convocação obrigatória do Império Otomano para lutar durante a Primeira Guerra Mundial, migrou para o
Brasil em 1915.[carece de fontes]
Carreira
profissional
Foi
comerciante (mascate) de tecidos e miudezas, além de produtos
típicos nordestinos, primeiro em Recife, depois
para Juazeiro do Norte, com dois burros (Assanhado e
Buril) e um cavalo (de nome Sultão), atraído pela grande frequência
de romeiros.[2]
Abrahão foi
secretário do Padre Cícero e conheceu o cangaceiro Lampião, em 1926, quando este foi até Juazeiro
do Norte a fim de receber a bênção do célebre vigário e a patente de
capitão, para auxiliar na perseguição da Coluna
Prestes.[3] Ambos
estiveram na cidade em 1924, mas não se encontraram.[4] A
nomeação foi feita a mando do padre pelo funcionário federal Pedro de
Albuquerque Uchoa, segundo uma autorização dada ao deputado Floro
Bartolomeu pelo próprio presidente Artur
Bernardes - ordem que em nada adiantou, pois não foi respeitada nos
demais estados, resultando que Lampião e seu bando jamais efetuaram perseguição
a Prestes.[5] Em
1929, Abrahão fotografou o líder cangaceiro ao lado do padre.[6]
Após a morte
de Padre Cícero, Abrahão solicitou e obteve do Rei do Cangaço a
permissão para acompanhar o bando na caatinga e
realizar as imagens que o imortalizaram. Para tanto teve a parceria do cearense
Ademar Bezerra de Albuquerque, dono da ABAFILM que, além de emprestar os
equipamentos, ensinou o fotógrafo seu uso. Por ao menos duas ocasiões esteve
junto ao bando, realizando seu mister.[3]
Abrahão teve
seus trabalhos apreendidos pela ditadura de Getúlio
Vargas, que nele viu um antagonista do regime. Guardada pela família
Elihimas, de imigrantes libaneses, em Pernambuco, a película foi analisada
pelo Departamento de Imprensa e
Propaganda - DIP, um órgão de censura atuante durante o Estado Novo.[carece de fontes]
Morte
Morreu após
ser agredido com quarenta e duas facadas,[4] crime
que jamais foi esclarecido, tanto na autoria como na motivação, donde se
especula ter sido mais uma das mortes arquitetadas pelo sistema,[3] como
outras ocorridas em situação análoga, a exemplo de Horácio de Matos, embora exista a versão de que o
fotógrafo sírio-libanês teria sido alvo de roubo, apesar de com este nada de
valor haver.[2]
Filmagens do
cangaço
Abrahão, em
foto batida pelo cangaceiro Juriti, aparece cumprimentando Lampião.
Incursões à
caatinga
O trabalho de
fotografia e filmagem de Lampião e seu bando, empreendido por Abrahão, envolveu
também a ABA-Film, produtora situada no Ceará, que cedeu treinamento e parte do
equipamento necessário ao projeto.[carece de fontes]
Para a
realização das filmagens, Abrahão contou com verdadeiro trabalho de aproximação
junto ao bando, que fugia do encalço das forças volantes do Estado. O primeiro
encontro veio finalmente a ocorrer em um lugar chamado Bom Nome, onde o
cangaceiro, desconfiado, primeiro realizou ele mesmo a filmagem do ex-mascate,
em trecho que se perdeu, e só então consentiu ser filmado.[carece de fontes]
O próprio
Lampião assegurou o testemunho, em um bilhete, de que todas as suas imagens
eram produto do trabalho de Abrahão.[3]
Nota: foi
mantida a grafia utilizada, considerando-se o que Lampião era
semi-alfabetizado, tal como se acha transcrita.
“Illmo Sr. Bejamim Abrahão
Saudações
Venho lhi afirmar que foi a primeira peçoa que conceguiu filmar eu com todos os
meus peçoal cangaceiros, filmando assim todos us muvimento da noça vida nas
catingas dus sertões nordestinos.
Outra peçoa não conciguiu nem conciguirá nem mesmo eu consintirei mais.
Sem mais do amigo.
Capm Virgulino Ferreira da Silva
Vulgo Capm Lampião”
Abrahão retorna a Fortaleza, onde
este primeiro sucesso permite-lhe obter mais rolos de filmes, e voltar para
registrar o cangaceiro e seu bando, sendo que o resultado dessa segunda
incursão também se perdeu. Abrahão passou a ser considerado suspeito, pois além
das filmagens, enviava matérias aos jornais, relatando suas aventuras - o seu
conhecimento do paradeiro do bando era indício por demais forte de seu
envolvimento com este.[2]
Abandono e
resgate
Os trabalhos
de Abrahão Botto permaneceram esquecidos até serem redescobertos nos anos 1950,
quando a Fundação Getúlio Vargas incorporou o
acervo do Departamento de Imprensa e
Propaganda - DIP.[3]
Em notícia
do Correio do Ceará, de 7 de abril de 1937,
transcrevia a ordem emanada de Lourival
Fontes, diretor do DIP, que por telegrama determinava
a apreensão do filme Lampião, que se exibia em Fortaleza,
com o seguinte teor:[4]
"Secretário
Segurança Publica Estado do Ceará Fortaleza. Tendo chegado ao conhecimento do
Departamento Nacional de Propaganda, estar sendo annunciado ou exhibido na
capital ou cidades desse Estado, um filme sobre Lampeão, de propriedade de
"Aba Filme", com sede á rua Major Facundo, solicito vos digneis providenciar
no sentido de ser apprehendido immediatamente o referido filme, com todas suas
copias, e respectivo negativo, e remettel-os a esta repartição, devendo ser
evitado seja o mesmo negociado com terceiros e enviado para fora do paiz.
Attenciosos cumprimentos. Lourival Fontes, director do Departamento Nacional de
Propaganda do Ministério da Justiça."[4]
Em 1996, a
atribulada vida do fotógrafo foi o tema do filme Baile
Perfumado, dirigido por Paulo
Caldas e Lírio
Ferreira, sobre roteiro de ambos e Hilton
Lacerda.[7]
No ano 2000,
foi objeto de várias exposições, em Paris, São Paulo e Rio de Janeiro.[6]
Crítica
histórica
A historiadora
francesa Élise Jasmin (n. 1966), que realizou uma mostra na França das imagens
do Cangaço por Abrahão Botto, fruto de seus trabalhos de pesquisa, declarou em
entrevista que "Estas imagens dos bandidos no auge de sua glória e poder,
ao lado das fotos com o jogo cênico de suas mortes, fazem parte desta
espetacularização da violência que encontramos nas sociedades modernas (…)"
- e aludindo que havia por trás do trabalho de Abrahão uma intenção por parte do
cangaceiro em "…desafiar seus adversários, impor seu poder e mostrar que
seu sistema de valores, a vida que levavam, tinha um sentido para eles." -
fato refutado por Urariano Mota, para quem "As lentes de Benjamin Abrahão,
que os filmou, é que fazem o espetacular".[8]
A constatação
original da pesquisadora francesa, entretanto, persiste, sobre o uso da imagem
feita por Lampião: "foi o primeiro cangaceiro a cuidar de sua imagem, e aí
reside sua grande originalidade. Teatralizou sua vida, utilizou modos de
comunicação da modernidade que não faziam parte de sua cultura original,
principalmente a imprensa e a fotografia"[9]
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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