Um fascinante capítulo da história do cinema documental brasileiro foi escrita no Ceará e a esse respeito, até hoje, ainda há muito que se descobrir. Estou me referindo à ABA FILM, empresa especializada no ramo da fotografia e do cinema, idealizada pelo fotógrafo Ademar Bezerra de Albuquerque (1892-1975).
A ABA FILM foi criada em 1934. Ademar Bezerra de Albuquerque era bancário, trabalhava do London Bank, e com apenas 18 anos montou seu próprio laboratório fotográfico em Fortaleza. Seu interesse se voltou para o registro do cotidiano e da cultura do Ceará.
Em 1925, Ademar Albuquerque fez o primeiro filme sobre Padre Cícero: O Juazeiro do Padre Cícero. O documentário contém imagens da cidade de Juazeiro do Norte, a devoção ao
Padre Cícero, a feira, o movimento das ruas. Registra também imagens de Missão Velha, Crato e Barbalha. O filme foi lançado no Cinema Moderno em Fortaleza no dia 8 de dezembro. Nesse curta metragem é possível ver Padre Cícero caminhando nas ruas de Juazeiro do Norte e tendo ao seu lado personalidades políticas e atrás de si uma pequena multidão.
A produção do filme foi registrada em dois artigos do Jornal do Comércio. Durante as filmagens em Juazeiro do Norte, Ademar Bezerra de Albuquerque foi apresentado ao imigrante libanês Benjamin Abraão Botto, secretário particular do Padre Cícero. Neste encontro Ademar Albuquerque não só emprestou farto material fotográfico, como introduziu Benjamin nas artes da fotografia e do cinema. Em 1926, na ocasião em que Lampião visitou a cidade de Juazeiro do Norte, Benjamin Abraão tentou, sem sucesso, filmar o cangaceiro e seu grupo. No entanto, seguiu à procura de Lampião até fazer o único registro em filme numa localidade chamada Bom Nome.
Realizado em 1936, o filme Lampião foi censurado pelo Estado Novo que se preocupou com a transformação do filme numa apologia ao cangaço. Benjamin Abraão foi morto em 1938, num crime até hoje não esclarecido. Nos anos 50, o material de Benjamin Abraão foi recuperado pela Fundação Getúlio Vargas que o incorporou a seu acervo.
Dica de leitura: Firmino Holanda, Benjamin Abrahão, edições Demócrito Rocha, Fortaleza, 2000.
Site interessante: www.memoriadocinema.com.br/cinemacearense.html
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