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sexta-feira, 18 de julho de 2014

“O ESTADO DE SERGIPE” – 28/06/1936


Exumados os despojos de José Baiano e seus sequazes enterrados num formigueiro. A cabeça do facínora temido! – o estado dos cadáveres – quase criança e já perigoso delinquente – o regresso da caravana

“O Estado de Sergipe” ouve o major Osvaldo Nunes, chefe de polícia. 

Sabedores do regresso do major Osvaldo Nunes, zeloso chefe de Polícia do Estado, que anteontem fora ao teatro da luta na qual os bandidos perderam a vida, tratamos de procurar a distinta autoridade, que nos recebeu com a lhaneza de trato que lhe é peculiar.

Sua Senhoria disse-nos, preliminarmente: - Não esqueça de explicar no seu jornal que o Governo de Sergipe e as autoridades policiais tinham conhecimento da ação que há meses se preparava para extinção do grupo de cangaceiros chefiado por José Baiano, pois as volantes, quase sempre pressentidas, só podem oferecer combate aberto, ao qual os bandidos ordinariamente fogem.

E acrescentou a ilustre autoridade: - Todos sabem que o desaparecimento de um grupo de cangaceiros é um benefício para a coletividade, diante do que esses homens, que expuseram a própria vida para eliminar os ferozes bandoleiros, só mereciam a ajuda eficiente dos poderes públicos.

Inquirimos então ao major chefe de Polícia:

- Havia vestígios da luta no local?

- Claro. Galhos quebrados, chão revolvido, tudo indicava a luta de vida e morte ali desenrolada, na qual só a arma branca foi utilizada.

- Não houve dúvida na identificação dos bandidos? – Perguntamos, do que obtivemos a seguinte resposta:

- Nenhuma. A identificação principal, que era a de José Baiano, foi perfeita, não só pelos sinais característicos do facínora, e conformação craniana, como pelo confronto feito com a fotografia do mesmo.

- E é intenção do governo premiar o esforço dos valentes sertanejos?

- Sim, disse-nos Sua Senhoria, no entanto por ora nada posso dizer de positivo.

Terminando a rápida entrevista, o major Osvaldo Nunes teve as seguintes palavras:

- O governo está providenciando com urgência o reforço policial das localidades mais assoladas pelo banditismo, apesar das dificuldades oriundas do pequeno efetivo da tropa, especialmente Alagadiço, Carira, Pinhão e outros pontos distantes, de difícil comunicação.


Conforme dissemos em nossas edições anteriores, às 5 horas da manhã de anteontem, uma caravana composta do major Osvaldo Nunes, chefe de Polícia, seu assistente militar, tenente Ulisses Vieira, comandante Rivaldo Brito, senhor Raimundo Carvalho, oficial de gabinete do governador Eronides de Carvalho, tenente Afonso Mota e Oscar Pinho, Dr. Carlos Menezes, médico legista da Polícia, os sertanejos Antônio Pereira e Pedro Guedes, que tão saliente papel tiveram na dizimação do bando de José Baiano, fotógrafo Artur Alves Costa, escoltados por um contingente composto de 15 soldados da milícia estadual, viajou de automóvel para o local onde se dera o desforço que redundou no aniquilamento total do perigoso grupo de bandoleiros chefiado pelo célebre José Baiano, a fim de proceder às medidas julgadas necessárias pela lei para comprovação do ocorrido, entre as quais, a exumação dos cadáveres dos quatro facínoras desaparecidos.

A estrada, devido às últimas chuvas, retardou um pouco a chegada a São Paulo, que se deu às oito e trinta horas. Aí, após servirem-se de um lanche reconfortador, descansaram os servidores da lei até as 10 horas, rumando em seguida para Alagadiço, que alcançaram às 12 horas, onde se apearam e continuaram a marcha a pé, em vista das dificuldades que a estrada oferecia para a passagem dos veículos.

O LOCAL DA TRAGÉDIA

Às 12 e meia precisamente chegavam o chefe de Polícia e seus companheiros à Lagoa Nova, onde se deu a luta que resultou no benefício social da extinção de José Baiano e seus caibras.

ISOLANDO O LOCAL

O comandante Rivaldo Brito ordenou providências para que o local fosse isolado, valendo-se para este fim da tropa volante que, sob o comando do sargento Epaminondas, viera de Carira e se juntara, à saída de Alagadiço, aos 15 homens do contingente.

EXUMADO OS CADÁVERES

Após o isolamento, o Dr. Carlos Menezes mandou que dois trabalhadores das cercanias abrissem a cova onde jaziam os bandidos, no que foi coadjuvado pelos sertanejos Antônio de Chiquinha e Pedro Guedes, que apontavam onde devia ser feita a escavação. Verificou-se que os bandidos haviam sido enterrados num formigueiro, por ser de areia frouxa, mais fácil portanto para ser cavada...

A CABEÇA DE JOSÉ BAIANO

Logo mais, a picareta de um dos homens trouxe a descoberto a cabeça separada do tronco, do bandido José Baiano, ainda perfeitamente reconhecível, apesar de cheia de areia. O doutor Carlos Meneses lavou a cabeça do facínora temido, que tantos males concebera e praticara, transparecendo então uma fisionomia morena, cabelos crescidos e encaracolados, boa dentadura, onde faltava apenas um dente, que foi incontinenti fotografada. Prosseguindo a escavação, surgiu o corpo de um bandoleiro, tipo atarracado, alvo, que entrara recentemente no grupo. Também foi fotografada. O segundo corpo a surgir foi o de um bandido corpulento, claro, aquele, no dizer de Antônio de Chiquinha, que mais reagiu na luta e que semimorto, ainda quis empunhar o fuzil. O terceiro corpo estava em adiantado estado de desagregação, e era de um rapazinho há tempos integrante do grupo. Por último apareceu, decepado, o tronco de José Baiano, revelando uma forte compleição física. Trajava mescla azul, camisa de quadrinhos da mesma cor e culote.


Após fotografar os despojos sinistros de um a um o médico ordenou o batimento de uma chapa dos corpos em conjunto.

HORRÍVEL MAU CHEIRO

Devido aos vários dias já decorridos desde a consumação do trágico episódio, os despojos exalavam horrível odor, tornando a atmosfera quase irrespirável, apesar da água de colônia e outros perfumes e desinfetantes que os presentes utilizavam a fim de assistir aos trabalhos.

GRANDE AFLUÊNCIA AO LOCAL

Durante o decorrer da diligência policial, chegavam, continuadamente, grupos de curiosos procedentes das cercanias e até de Itabaiana, São Paulo, Alagadiço e Carira.

O REGRESSO

A caravana policial regressou incontinenti, chegando a esta cidade cerca das vinte e uma horas e alguns minutos.
Fonte: facebook

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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