Publicado em 10/07/2014 por Rostand Medeiros
Localização
estratégica de Natal, nas rotas aéreas entre as Américas e os continentes
africano e europeu, chamou atenção dos pioneiros da aviação. Cidade foi base
para aventuras e rotas comerciais.
Autor –
Rostand Medeiros
Publicado
originalmente no jornal Tribuna do Norte, Natal, Rio Grande do Norte, edição de
domingo, 26 de janeiro de 2014. Mas o presente artigo que apresento está
completo e não foi colocado desta maneira no jornal por questões de
espaço.
Não existem
dúvidas que a história do voo é a história de um sonho: o sonho dos homens de
voarem através dos céus como pássaros. Não existem dúvidas que a história do
voo é a história de um sonho: o sonho dos homens de voarem através dos céus
como pássaros.
Pintura do
holandes Jacob Peter Gowi, denominada “A queda de Ícaro”. Do século XVII, se
encontra no Museu do Prado, Madrid e retrada o antigo sonho do homem de voar
através da história da fuga de Ícaro e Dédalos.
Este sonho vai
se concretiza utilizando tecnologias revolucionárias, que culminam na invenção
do avião. Este momento da história inaugura o período onde os humanos não
estariam definitivamente mais ligados à superfície da Terra. Foi o início de
uma viagem onde a pura alegria de voar capturou a imaginação de muitos. Logo a
vontade ir além do horizonte crescia. Seguir pelo vasto céu azul, atravessar
milhares de quilômetros de terra, superar montanhas e, da mesma forma como
fizeram os antigos navegadores, cruzar os oceanos passou a ser o objetivo e o
desejo nas mentes dos primeiros aviadores. Para muitos este desejo era
pura aventura, busca de reconhecimento, notoriedade, ou simplesmente porque
deveria ser feito. Mas para outros aviadores havia um lado prático; a busca de
pontos estratégicos para encurtar distâncias entre os continentes e ganhar
dinheiro voando.
E é neste
ponto que Natal, uma pequena capital localizada na porção nordeste do Brasil,
vai despontar para o mundo da aviação como um dos mais importantes e
estratégicos pontos de apoio para aquele novo empreendimento da aventura
humana.
A primeira
indicação do RN como ponto de apoio
Pouco depois
das primeiras aeronaves deixarem o solo, o desejo dos aviadores de vencer as
distâncias, principalmente sobre os oceanos, era noticiado em Natal. Na edição
de 5 de abril de 1910, do jornal natalense A República, vemos a reprodução de
um artigo de uma revista inglesa onde era debatido o futuro da aviação.
Mapa do Rio
Grande do norte e dos estados vizinhos no início do século XX
Entre posições
positivas e negativas, já era exposto que o seu desenvolvimento logo iria
proporcionar a “travessia entre o Velho e o Novo Mundo pelo ar” e que isso
poderia se fazer em “75 horas”. Mas o debate, a propagação das ideias e o
desenvolvimento da aviação são drasticamente interrompidos com o início da
carnificina que foi a Primeira Guerra Mundial.
5 de abril de
1910, Jornal “A República”
Apesar disso,
é inegável que o fim do conflito impulsionou de maneira extraordinária a
aviação. Mesmo com a precária estrutura e potência dos motores dos aviões
existentes, o grande número de máquinas e pilotos excedente permite o início da
exploração de novos horizontes e até mesmo de rotas aéreas comerciais. Em 23 de
outubro de 1918, poucos meses após o fim da Primeira Guerra, o jornal A
República reproduziu uma reportagem do jornal “O Estado de São Paulo”, onde o
Comandante José Maria Magalhaes Almeida, adido naval brasileiro na Itália e
futuro governador do Maranhão, declarou que ao realizar uma visita oficial a
fábrica de aviões do industrial Giovanni Battista Caproni, este comentou que
tinha o “grande sonho de voar através do Atlântico”.
Gianni
Caproni, de terno, na nacele de um de avião fabricado pela sua empresa
.
O italiano,
conhecido como Gianni Caproni, coletou de Magalhaes Almeida informações sobre a
nossa costa. O plano de Caproni era para uma travessia aérea em um “colossal
hidroplano, entre Serra Leoa (África) e Rio Grande do Norte ou Pernambuco”.
Provavelmente esta foi a primeira vez que uma pessoa com forte atuação no meio
aeronáutico mundial apontava a importância estratégica da costa nordestina para
a aviação.
23 de outubro
de 1918, jornal “A República”
Apesar da
elite potiguar fazer questão de propagar nos jornais locais qualquer notícia
positiva sobre o nosso estado produzida lá fora, acredito que ninguém levou a
sério a informação do Comandante Magalhaes Almeida.
Provavelmente
colocaram a possibilidade de um aeroplano Caproni chegar a nossa região voando
sobre o Oceano Atlântico apenas no campo dos sonhos.
A 1ª aeronave
em céus potiguares
Mas, lá fora,
a aviação progredia.
A primeira
travessia aérea do Atlântico Sul foi concluída com sucesso em 17 de junho de
1922, pelos aviadores portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral, como parte
das comemorações do primeiro centenário da independência do Brasil. Os lusos
realizaram a travessia oceânica cobrindo uma distância de 1.890 milhas com
muitas dificuldades, onde tiveram que utilizar três aeronaves.
Sacadura
Cabral e Gago Coutinho em 1922
Os aviadores
portugueses não passaram por Natal e seguiram de Fernando de Noronha direto
para Recife.
Apesar da
frustração por não receberem a dupla Coutinho/Cabral, no dia 21 de dezembro de
1922 os potiguares viram pela primeira vez uma aeronave sobrevoar sua terra.
Era um hidroavião biplano Curtiss H 16, batizado como “Sampaio Correia II” (o
primeiro fora destruído em Cuba, sem ferimentos nos aviadores). A tripulação
era de cinco pessoas. O piloto era o oficial da marinha americana Walter Hinton
e o copiloto era Euclides Pinto Martins, um cearense de Camocim, que havia
morado no Rio Grande do Norte e aqui tinha muitos amigos.
O norte
americano Walter Hinton e o cearense Euclides Pinto Martins, piloto e copiloto
do hidroavião “Sampaio Correia II”, a primeira aeronave a voar sobre o Rio
Grande do Norte
O “Sampaio
Correia II” tocou as águas do rio Potengi as 12:45, atracando no Cais Tavares
de Lyra, diante da aclamação popular e muitas homenagens prestadas pelas
autoridades do Estado. Pelo fato de Pinto Martins ser conhecido em Natal, muita
gente pensou que o cearense iria ficar aqui algum tempo com seus amigos,
participando de inúmeras homenagens típicas da época. Mas o “Sampaio Correia
II” partiu no dia posterior a sua chegada, ás sete da manhã, sem dar muitas
satisfações ao povo natalense.
Entretanto Hinton
e Pinto Martins não deixaram a terra potiguar tão rapidamente como desejavam.
Perceberem falhas em um dos motores da aeronave e tiveram de amerissar no mar,
próximo a comunidade de Baía Formosa. Analisado o motor descobriram que algumas
engrenagens estavam irremediavelmente danificadas e tinham que ser
substituídas. Só conseguiram o conserto das peças em Pernambuco, mais
exatamente em Recife.
O hidroavião
decolou dias depois de Baía Formosa rumo a Recife. Existe a informação
que a saída da aeronave foi realizada com muitas dificuldades e, aparentemente,
gerou uma nova pane que os forçou descer em Cabedelo, já na Paraíba. Ao final o
“raid” do hidroavião de Hinton e Pinto Martins demorou 75 dias para ser
concluído no Rio de Janeiro.
Pássaros de
aço que passam e não param
Apesar do
Comandante Magalhães Almeida haver apontado para o italiano Caproni que as
terras potiguares era um ótimo ponto estratégico na eventualidade de uma
travessia aérea do Oceano Atlântico, os potiguares ficaram um tempo sem
testemunhar a passagem de aviões. Só veriam outra aeronave no ano de 1926.
Mapa do
trajeto do hidroavião espanhol “Plus Ultra”
Primeiramente
houve uma grande expectativa no mês de fevereiro com a possibilidade da
chegada em Natal do hidroavião espanhol “Plus Ultra”, comandando por
Ramon Franco, irmão do futuro ditador espanhol Francisco Franco Bahamonde. Mas
este e sua tripulação repetiram a rota dos lusos Gago Coutinho e Sacadura
Cabral e seguiram de Fernando de Noronha direto para Recife, aparentemente
sobrevoando o território potiguar sem tocá-lo.
Os argentinos
do Raid Nova York-Buenos Aires, passaram por Natal e pararam em na praia de
Barra de Cunhaú, município de Canguaretama. Na imagem aspectos da chegada desta
aeronave no Rio de Janeiro
Nas primeiras
semanas de julho de 1926 um hidroavião de fabricação italiana, com uma
tripulação argentina e batizado como “Buenos Ayres”, era por aqui aguardado.
Eles realizavam um “raid” de Nova York a capital argentina. Mas a aeronave com
seus três tripulantes, comandados por Eduardo Oliviero, após vários acidentes
no trajeto entre Havana e a região norte do estado do Pará, apenas sobrevoou
Natal no dia 11 de julho, as 11:20 da manhã.
Mas tal como
aconteceu com o “Sampaio Correia” não deixou rapidamente o Rio Grande do Norte.
Devido a uma forte tempestade tiveram de amerissar na região de Barra de
Cunhaú. Os aviadores receberam total apoio do coronel Luiz Gomes, chefe
político da cidade mais próxima, Canguaretama, e só seguiram viagem na manha de
13 de julho.
O ano em que
tudo mudou
Em fevereiro
de 1927 chega a notícia que um hidroavião bimotor italiano, modelo Savoia-Marchetti
S 55, estava atravessando o Atlântico em direção a capital potiguar. A aeronave
havia sido batizada como “Santa Maria”, tinha como piloto o herói de guerra
Francesco De Pinedo, tendo como companheiros o capitão Carlo Del Prete, e o
sargento Victale Zachetti.
Francesco De
Pinedo – Fonte – http://www.aeronautica.difesa.it
Haviam partido
do porto de Elmas, Itália, em 13 de fevereiro, bordejaram a costa oeste
africana até Porto Praia, capital da atual República de Cabo Verde. Somente no
dia 22 alçaram voo em direção a Natal. Mas em Fernando de Noronha houve
problemas com a quantidade de combustível e De Pinedo teve de fazer um pouso de
emergência. Foi apoiado pelo Cruzador “Barroso”, da Marinha do Brasil. No dia
24 de fevereiro, pelas 7 horas decolavam para Natal.
Foi com um
estrondoso repicar dos sinos das igrejas que Natal recebeu a notícia da partida
daquela nave do arquipélago. Logo o comércio, as repartições públicas, as
escolas fecham suas portas e uma multidão calculada em 10.000 pessoas, vai se
aglomerar desde o Cais da Tavares de Lira, até a então conhecida praia da Limpa,
onde atualmente se localizam a áreas do prédio histórico da Rampa, o Iate Clube
de Natal e as dependências do 17º Grupamento de Artilharia de Campanha.
O “Santa
Maria” – Fonte – http://www.aeronautica.difesa.it
No alto da
torre da igreja matriz, na Praça André de Albuquerque, escoteiros estão
posicionados, vasculhando os céus com binóculos e lunetas em busca do
hidroavião. No mastro ali existente tremulam as bandeiras italiana e
brasileira. Finalmente, às nove e vinte da manhã, um ponto é avistado para além
da praia da Redinha, ao norte da cidade. Os escoteiros estouram rojões,
novamente os sinos das igrejas repicam e navios ancorados no porto apitam
ruidosamente, deixando Natal em polvorosa.
O hidroavião
sobrevoa a cidade, segue em direção a região do atual bairro de Igapó,
retornando na direção do porto. Vai baixando devagar, extasiando a todos ao
amerissar tranquilamente no sereno rio Potengi.
Apesar de toda
pompa e circunstancia com que o aviador foi recebido em Natal, De Pinedo
parecia cansado, com aspecto carrancudo. Mesmo sem externar maiores emoções
típicas dos latinos, em um banquete oferecido pelo governo estadual, De Pinedo
ergueu um brinde de agradecimento à acolhida efetuada pelos natalenses, à
figura heroica do aviador potiguar Augusto Severo e comentou entre outras
palavras que “Natal seria a mais extraordinária estação de aviação do mundo”.
De Pinedo foi
o primeiro aviador a se pronunciar publicamente sobre a positiva condição que
Natal possuía para a aviação mundial, sendo este pronunciamento repetido em
diversos jornais nacionais e estrangeiros.
Um italiano
realizava o sonho de outro italiano, Giovanni Battista Caproni, da travessia
aérea do Oceano Atlântico entre a África e o Brasil, tendo a costa potiguar
como ponto de apoio.
A vinda de De
Pinedo a Natal tornou conhecida a capital potiguar no cenário da aviação
mundial e mostrou ao co-piloto e navegador Carlo Del Prete, que nesta cidade
havia um ponto seguro para receber qualquer aeronave que desejasse se aventurar
a cruzar o vasto Oceano Atlântico.
Raids que eram
uma festa e entraram para a história
Vinte dias
após a passagem do “Santa Maria”, a cidade de Natal recebe outro “raid”
histórico. Era um hidroavião bimotor, modelo alemão Dornier DO J Wall, batizado
como “Argos”. A nave pertencia ao governo português, era pilotado por José
Manuel Sarmento de Beires, um major do exército, que tinha como auxiliares os
militares e patrícios Jorge de Castilho e Manuel Gouveia.
Da esquerda
para direita temos Sarmento de Beires, Castilho e Gouveia, os portugueses do
“Argus”
Seu feito foi
haver realizado a travessia Atlântica à noite. Decolaram de Bolama, na atual
Guiné Bissau, às 17 horas do dia 12 de março de 1927 e pousaram em Fernando de
Noronha na manhã do dia 18, uma sexta feira, por volta das 10:15. A parada no
arquipélago foi rápida e às 12:55 o hidroavião português já evoluía várias
vezes sobre Natal. Depois amerissaram no rio Potengi e prenderam seu hidroavião
em boias defronte á pedra do Rosário.
Foram
recebidos com muita atenção pela população de Natal. Os aviadores lusos
estiveram em várias recepções. A mais importante foi no palacete do comerciante
Manoel Machado, o mais abonado da cidade naquela época e nascido em Portugal.
No domingo, dia 20 de março, pelas oito da manhã o “Argos” partiu. Em Recife,
em uma entrevista ao Diário de Pernambuco, Beires declarou que “Natal era um
excelente ponto para aviação”.
Hidroavião da
esquadrilha Dargue
No mesmo dia
da partida do “Argos”, mas por volta das quatro da tarde, de uma maneira um
tanto surpreendente para grande parte da população de Natal, surgem sobre as
dunas do Tirol três hidroaviões monomotores pintados de azul escuro e amarelo.
Estes realizaram um voo a 300 metros de altitude sobre a Natal de pouco menos
de 40.000 habitantes e amerissaram tranquilamente no rio Potengi. Era a
esquadrilha comandada pelo Major Herbert Arthur Dargue, que havia partido dos
Estados Unidos ainda no ano anterior e percorria toda a costa da América
Latina.
Oficialmente a
esquadrilha era denominada Pan-American Goodwill Flight, sua equipe original
era composta, além do major Dargue, de três capitães e seis primeiros tenentes.
Todos vinham acomodados em cinco hidroaviões modelo Loening OV-1 e cada
aeronave havia sido batizada com o nome de uma grande cidade americana.
Este Loening
OV-1, o “San Francisco”, que esteve em Natal em 1927, está preservado no
Smithsonian’s National Air and Space Museum, em Washington D. C.
Haviam partido
de Kelly Field, no Texas, no dia 21 de dezembro de 1926 e progrediram de forma
relativamente lenta em direção sul. Tinham como missão levar mensagens de
amizade dos Estados Unidos para os governos e os povos latino-americanos,
promover a aviação comercial dos Estados Unidos na região e forjar rotas de
navegação aérea através das Américas. Extra oficialmente esta esquadrilha voava
para “mostrar a estrela” abaixo de suas asas. Ou seja, demonstrar aos países
abaixo da fronteira sul dos Estados Unidos a capacidade e alcance de seu
aparato aéreo militar.
Major Herbert
Arthur Dargue. Morreu durante a Segunda Guerra Mundial
Sobrevoaram a
costa do Oceano Pacifico desde o México a Argentina, sempre em meio a muitos
festejos. Em Buenos Aires, durante uma apresentação no aeroporto de Palomar,
dois hidroaviões se chocaram em voo e caíram. Um capitão e um primeiro tenente
morreram no desastre. Deste ponto as aeronaves da marinha americana seguem em
direção norte, acompanhando a costa Atlântica da América do Sul. Em decorrência
do acidente trágico na Argentina voam de forma discreta, sem festividades nas
suas paradas. Além disso, os jornais de Natal haviam sido informados que estas
aeronaves não amerissariam no rio Potengi, seguindo de Recife direto para São
Luís do Maranhão. Por isso houve tanta surpresa na capital potiguar no domingo,
20 de março de 1927.
General Ira C.
Eacker, comandante da 8th Air Force, a grande força de bombardeiros americanos
baseados na Inglaterra durante a II Guerra, era um dos membros da Esquadrilha
Dargue e esteve em Natal em 1927
A viagem do
Pan-American Goodwill Flight como ficou conhecido, foi amplamente divulgado na
época, com cobertura de primeira página em todos os principais jornais dos
Estados Unidos e de outros países, durante quase todos os dias do trajeto
aéreo. Em outubro de 1927 a conceituada revista National Geographic dedicou 51
páginas para o épico voo. Na edição de 22 de março de 1927 do jornal A
Republica, o Major Dargue foi entrevistado pelo engenheiro agrônomo Octavio
Lamartine, filho do político Juvenal Lamartine, que por realizar uma
especialização na Universidade de Geórgia, Estados Unidos, dominava
perfeitamente o idioma inglês. O oficial aviador americano declarou entre
outras coisas que “Natal era um ponto ideal para a aviação”. Para ele a posição
geográfica da cidade, o clima e a condição do rio Potengi para os hidroaviões
apontavam que a capital potiguar viria a ser “Necessariamente uma base
intercontinental de aviação mundial”.
No centro da
foto vemos o general Muir S. Fairchild, membro da Divisão de Planos
Estratégicos em Washington durante a II Guerra e outro membro da Esquadrilha
Dargue em Natal no ano de 1927
Em pouco mais
de 15 anos, com a implantação da grande base americana de Parnamirim Field, as
palavras do Major Dargue se tornaram verdadeiras.
Interessante
comentar que dois dos comandados de Dargue que estiveram em Natal, o então
Capitão Ira Clarence Eaker e o Primeiro Tenente Muir Stephen Fairchild, se
tornaram oficiais generais de extrema relevância durante a Segunda Guerra
Mundial. O primeiro foi comandante da 8º Força Aérea de bombardeiros, onde
muitos dos seus quadrimotores B-17 e B-24 passaram por Natal a caminho de bases
na Inglaterra, de onde atacavam com suas bombas o coração do Terceiro Reich. Já
o outro foi um renomado membro da Divisão de Planos Estratégicos em Washington,
um dos grandes planejadores das ações aéreas americanas e que certamente deve
ter opinado sobre a construção de uma grande base aérea em Natal durante aquele
conflito.
Um voo que
nunca chegou e outro que marcou
Os próximos
“raids” a passarem por Natal é uma grande marca na história aeronáutica
brasileira e da aviação mundial. Enquanto isso, o que não faltava nos céus de
todo o planeta eram aeronaves realizando “raids”.
O aviador
norte americano Charles Lindbergh. Ele esteve em Natal na década de 1930,
realizando um Raid em um hidroavião monomotor, junto com a sua esposa
Pretendendo a
travessia do Atlântico Norte estava os franceses Nungesse e Coli, com o seu
avião batizado “Pássaro Azul”. Da Inglaterra os Tenentes Carr e Gilman
preparavam o voo que ligaria a Inglaterra a Índia. Da Espanha chegavam notícias
da volta ao globo pretendia por Ruiz Alba e Padelo Roda e voando de New York para
Paris, buscando ganhar um prêmio no valor de 25.000 dólares, havia um
desconhecido piloto chamado Charles Lindbergh.
O “Jahú”-
Fonte – Coleção do autor
O Brasil
estava em uma extrema expectativa com o voo através do Atlântico Sul do
hidroavião brasileiro “Jahú”. Era um aparelho Savoia Marchetti S-55, de
fabricação italiana, comandado por João Ribeiro de Barros, paulista da cidade
de Jaú. Tinha como companheiros João Negrão, Vasco Cinquini, e o Capitão Newton
Braga. Em meio a inúmeros problemas, que incluíram inclusive sabotagem, o
“Jahú” decolou às quatro e meia da manhã, do dia 28 de abril de 1927, de Cabo
Verde. Os natalenses e pessoas de várias cidades dormiram nas calçadas dos
jornais, aguardando notícias. Somente no dia seguinte, soube-se que o “Jahu”,
pelas 17:30, amerissou a 100 milhas de Fernando de Noronha. Natal aguardava com
ansiedade o brasileiríssimo “Jahú” e, enquanto ele não vinha, foi noticiado que
outro voo estava programado para chegar a Natal e desta vez a nave viria
pilotada por um nobre francês: o capitão Pierre Serre de Saint-Roman, filho do
Conde de Saint-Roman e sua ideia era vir a América do Sul para percorrer 52
cidades do continente e a primeira seria Natal.
O aviador
francês Pierre Serre de Saint-Roman, aquele que nunca chegou a Natal
Os momentos
iniciais do voo de Saint-Roman foram atribulados. Talvez por ele possuir apenas
250 horas de voo como experiência anterior a um salto sobre o Atlântico. Talvez
pelo seu avião Farman F.60 Goliath, um biplano bimotor, batizado como
“Paris-Amérique-Latine” e concebido originalmente como bombardeiro, não ser a
nave ideal. Em todo caso, ele e mais dois companheiros decolam de Saint-Louis
(Senegal), no dia 5 de maio de 1927, às seis da manhã. Em Natal muitos imaginam
que Saint-Roman vai chegar primeiro que o “Jahú”, mas o “Paris-Amérique-Latine”
e seus tripulantes jamais foram vistos novamente. Somente no dia 29 de junho,
restos do avião de Saint-Roman foram encontrados entre o Maranhão e Pará, bem
distantes da rota planejada pelos aviadores desaparecidos.
Apesar da
competitividade reinante entre os voos do “Jahú” e do “Paris-Amérique-Latine”,
percebe-se lendo os jornais da época que Natal sentiu o desaparecimento do
avião francês.
O “Jahú”, um
hidroavião Savoia-Marchetti S.55, o último de seu modelo no mundo, atualmente
se encontra no Museu de aviação da TAM, em São Carlos, São Paulo – Fonte –http://www.panomario.com
Mas logo ele
seria esquecido com a triunfal chegada do “Jahu”.
Os pilotos
brasileiros partiram de Fernando de Noronha no dia 14 de maio e por volta das
13 horas ouviu-se o crescente ronco dos motores e uma silhueta vermelha surgiu
no horizonte vindo do mar. A chegada desta aeronave a capital potiguar foi algo
marcante na população local.
Dois meses
depois, em 18 de julho de 1927, Natal foi surpreendida com a chegada de uma
aeronave de rodas, um autêntico avião. Ele era francês, biplano monomotor, do
tipo Breguet, e pertencia a uma empresa comercial francesa chamada Latecoère.
Percorriam o litoral brasileiro em busca de locais para construção de campos de
aviação para uso comercial, através de um convênio com o governo brasileiro
para fazer o transporte do correio internacional.
Paul Vachet no
centro da foto
O problema era
que o biplano só poderia aterrar em um campo de pouso, que não existia ainda na
cidade e o piloto Paul Vachet, acompanhado de Dely e Fayard, aterrissou na
praia da Redinha.
Com eles,
começou a aviação comercial em Natal e a aventura de voar, aos poucos, foi
ficando no passado.
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S.55, São
Luís do Maranhão, São
Paulo, Segunda Guerra
Mundial, Vasco
Cinquini, Victale
Zachetti,Walter
Hinton
Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand medeiros
http://tokdehistoria.com.br/2014/07/10/a-aviacao-pioneira-nos-ceus-potiguares-dos-primeiros-raids-ao-inicio-da-aviacao-comercial/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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