Por Geraldo Menezes Barbosa
GAZETA DE NOTICIAS.
Faz muito
tempo, mas aconteceu. Vale a pena lembrar. Após abastecer meu veículo, a margem
da BR 116, descobri sentado, no restaurante, ao lado do seu motorista, o famoso
Luiz Gonzaga, de boné e óculos escuros, tendo o olhar voltado para estrada.
Estava absorto, talvez lembrando sua terra no Exu ou estimulado pelo cheiro da
carne assada que vinha do alpendre.
Luiz trazia
no rosto desenhos profundos de um homem amargurado, emagrecido, ombros
caídos, em nada se assemelhando aquele biotipo amorenado, monumento vivo de
braços valentes repuxando os pulmões da sanfona, estremecendo a plateia no
melhor ritmo do reinado do baião daqueles velhos tempos.
Aproximei-me
dele para tocar-lhe o ombro, em sinal de identificação amiga dos nossos bons
momentos da Rádio Progresso de Juazeiro, nos shows delirantes programados
- Luiz Gonzaga! Que bom revê-lo! Nunca mais andou pelo Juazeiro?
Minha saudação
de alegria teve uma resposta melancólica. Erguendo a cabeça, o sanfoneiro
fitou-me buscando uma identificação que não conseguia e balbuciou triste:
- Como vai o senhor?
Resposta
anônima e diferente a um passado bem recente, quando nos abraços no acerto de
contas dos contratos e na alegria de suas noites de sucessos. Desconversei
qualquer coisa e fui saindo entristecido. Seu motorista, ao lado, sinalizou-me
com um olhar de decepção confirmando que seu patrão já não era o mesmo.
Prossegui
viagem profundamente constrangido por aquele encontro. Sentir que o rei estava
próximo de morrer. Já não expressava a simpática eloquência comunicativa de
festa interior, quando dissertava o linguajá do baião em livre palestra
regionalista, sem a necessidade de olhar para o teclado. Luiz exibia ali um
fantasma amargurado de corpo e alma. Havia perdido a alegria de viver, vítima
da falta de saúde, decepções e sem esperança por um amanha propício.
Nunca
imaginei ver aquele "monarca nordestino" condenado a um abandono de
si próprio, sem a capacidade de sonhar. Ele que distribuiu tantos sonhos de
amor por esse mundo a fora. Que encantou os terreiros e palcos. Acelerei o
carro na certeza de ter visto, pela última vez, o mais eloquente folclorista do
Brasil.
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Triste, saudoso e profundo o que escreveu o Sr. Geraldo Menezes Barbosa... Ao mesmo tempo, um reconhecimento pelo que é o saudoso e sempre presente, nas suas canções, Luiz Gonzaga, o rei do Baião.
ResponderExcluirKydelmir Dantas
Mossoró - RN.