Por Sálvio Siqueira
A riqueza do
‘tesouro’ dos cangaceiros é, principalmente hoje, incalculável. Além dos
objetos históricos, tinha a quantia em dinheiro, o ouro e as joias.
O comandante
Ferreira de Melo, em entrevista, fala sobre eles:
“(...) Era grande a riqueza em poder dos bandidos, principalmente em face dos anéis e medalhas de ouro e prata que quase todos possuíam. Fiquei com alguma coisa, como todos ficaram, porém, quase de nada me serviu, de vez que vendi quase de graça, por preço muito aquém do verdadeiro valor. Outros souberam aproveitar e se saíram muito bem graças a Deus. Outros pertences, documentos diversos, retratos, etc, o “Rei do Cangaço”, os conduzia em uma latinha, com tampa, feita dessas latas de óleo vegetal, vendidos em toda parte. Fiquei com algumas fotografias, das quais algumas ainda figuram em meu álbum como única recordação, que se junto às tristes recordações que conservo dos idos que espero jamais venham a ressurgir. ¬– GAZETA DE ALAGOAS – 14 de dezembro de 1965.(...).” (Ob. Ct.)
Na declaração
do comandante Ferreira de Melo, notamos que os espólios, realmente, foram em
uma quantidade grande. Chama-nos a atenção quando o mesmo refere a ‘lata de
óleo vegetal’, e nela estarem guardado “documentos”, não citando que tipo de
documentação seria. Nesses documentos, estaria a resposta para as inúmeras
perguntas que pairam no ar? Neles, estaria ou estão guardados tudo aquilo que
desvendaria o tão grande mistério que ainda envolve a morte do chefe
cangaceiro? Difícil responder, pois o comandante refere que ficou com algumas
fotografias, no entanto, sobre os documentos, nada citou na entrevista, pelo
menos a que fora publicada.
"Aqui
a pulseira, atualmente pertencente a acervo particular, gravada
"Maria", identificando a esposa de Virgulino Ferreira, o Lampeão,
identificada e fotografada pelo estudioso Orlins Santana, que gentilmente
forneceu as imagens a este blog."(cangacçonabahia.com)
Outros
pesquisadores/historiadores, de renomes, dentro da historiografia cangaceira
também tiveram contatos com os comandantes da derrocada final.
Em princípios
de 1969, o pesquisador/historiador Antônio Amaury Correa de Araújo, tendo vindo
da terra da garoa, vai à cidade de Garanhuns, no Estado do Leão do Norte, fazer
uma visita/pesquisa na casa daquele que fora o comandante do ataque ao
acampamento dos cangaceiros na grota do riacho Angico, em meados de 1938, então
coronel João Bezerra.
"Aqui a pulseira, atualmente pertencente a acervo particular, gravada "Maria", identificando a esposa de Virgulino Ferreira, o Lampeão, identificada e fotografada pelo estudioso Orlins Santana, que gentilmente forneceu as imagens a este blog."(cangacçonabahia.com)
O historiador
nos relata os objetos que vira no acervo particular do comandante, aos quais dá
o nome de troféus.
“(...) Armas
curtas; vários fuzis; punhais; duas máquinas de costuras do tipo manual; um par
de algemas, um jogo de bornais; uma corrente de ouro, bastante grossa e pesada,
pendente da mesma um medalhão e um crucifixo de ouro; uma aliança larga e
pesada, de ouro puro (...).” (“ASSIM MORREU LAMPIÃO” – ARAÚJO, Antônio Amaury
Correa de.)
Mosquetão modelo 1908
O escritor
paulista, narra à beleza que viu em uma peça que pertencera ao “Rei Vesgo”.
Trata-se de um facão, muito bem trabalhado em sua lâmina e no seu cabo.
Tratando-se de uma verdadeira obra de arte. Logicamente a pergunta que todos
faziam veio à mente do pesquisador, e ele a fez ao comandante:
“(...)
Perguntamos sobre o ouro e o dinheiro que Lampião trazia consigo (...).” (Ob.
Ct.)
Mosquetão modelo 1922
Sempre que
fora inquirido sobre essas coisas, ouro e dinheiro de Lampião, conta-nos os
escritores que o coronel dava respostas evasivas, contraditórias, sentindo-se
incomodado com o assunto.
Ao ser
inquerido pelo pesquisador Dentista, João Bezerra respondeu, segundo o
historiador:
“(...) que
tinha sido carregado pelos que escaparam (...).” (Ob.Ct.)
Não estando
convencido, nem contentado, com a resposta do coronel, o autor de “Assim Morreu
Lampião”, procura seus familiares e faz a mesma pergunta. A resposta dos
familiares nos mostra a quantidade e incalculável valor do que fora os espólios
dos cangaceiros.
“(...) No
mesmo dia, porém, por familiares do nosso hospedeiro, fomos informados que o
mesmo (João Bezerra) arrecadara ouro, joias, anéis em quantidade suficiente
para encher duas pequenas bacias. Dinheiro também, parece que mais de 100
contos, quantia bastante elevada na época (...)”. (Ob. Ct.)
FACÃO
DE LAMPIÃO.
Facão curto de Lampião: Gavião guarnecido por cachorro, 1938. Coleção privada. In Estrelas de Couro - A estética do cangaço pág. 134.
Facão curto de Lampião: Gavião guarnecido por cachorro, 1938. Coleção privada. In Estrelas de Couro - A estética do cangaço pág. 134.
A ordem
expressa para acabar de vez com Lampião e seu bando, partiu diretamente do
Palácio do Catete, na Capital do País, Rio de Janeiro, pelo então Presidente da
República, Getúlio Vargas. Após ter cumprido a ordem, o comandante João Bezerra
da Silva e sua esposa, D. Cyra Brito, são convidados e aceitam para jatarem com
o Presidente Vargas e sua esposa, D. Darci. Lá estando, João Bezerra dá de
presente à primeira dama do país, joias que pertenceram a “Rainha dos
Cangaceiros”.
Ele mesmo,
João Bezerra, na época já tendo sido promovido a Capitão, no livro da escritora
Aglae L. de Oliveira, “Lampião, Cangaço e Nordeste”, na página 35, relata para
autora:
Presidente Getúlio Vargas e sua esposa dona Darci
“- Numa dessas
visitas ao Catete (Palácio do Catete, sede do Governo Federal na cidade do Rio
de Janeiro), lembro-me de que D. Darci Vargas (primeira Dama da Nação) disse,
no momento em que lhe mostrei as joias: “Que broche lindo! Capitão este é
lindo!” Eu imediatamente lhe fiz presente.”
A
pesquisadora/escritora Aglae L. de Oliveira, também nos relata, através de seu
livro “ Lampião, Cangaço e Nordeste”, uma entrevista, ou parte dela, que teve
com o comandante Bezerra.
"Aqui a pulseira, atualmente pertencente a acervo particular, gravada "Maria", identificando a esposa de Virgulino Ferreira, o Lampeão, identificada e fotografada pelo estudioso Orlins Santana, que gentilmente forneceu as imagens a este blog."(cangacçonabahia.com)
A.O. = Aglae
Oliveira
J. B. = João Bezerra
(A.O) “-
Coronel Bezerra, o sr. é acusado de ter desviado o dinheiro de Lampião?”
(J.B.) “– Sim,
estou. Dizem que o meu interesse de persegui-lo era para ficar com o dinheiro.”
(A.O.) “–
Quantas joias aproximadamente apreenderam? ”
(J.B.) “–
Davam para encher duas bacias. Eu fiquei ferido e os soldados foram donos de
tudo. Para mim os objetos dele davam azar.”
(A.O.) “– O
senhor guardou alguma coisa? Refiro-me a joias.”
(J.B.) “– Eu
tinha uma caixinha cheia. Quando os amigos mostravam desejo de possuir uma, eu
dava de presente. Minha esposa quis ficar com várias, inclusive uma tesoura de
unhas toda de ouro. Não consenti que ela usasse. ”
O ataque aos
cangaceiros ocorreu na manhã do dia 28 de julho, no riacho Angico, município de
Poço Redondo, SE, e nessa mesma manhã, a tropa sobe a correnteza do “Velho
Chico”, chegando com as cabeças dos cangaceiros abatidos, o corpo do soldado
Adrião e o que foi ‘arrecadado’, na cidade de Piranhas, AL. No dia 29 de julho,
espólios e cabeças, troféus macabros, chegam à cidade de Santana do Ipanema,
AL, na sede do II Batalhão e, somente no dia 31 do mês de julho de 1938, chegam
a Capital alagoana. Vejam bem, o que levaram para Maceió, capital das Alagoas,
e lá chegaram no dia 31 de julho, só é catalogado a mando do Comandante Geral
da PMAL, Coronel Teodoreto Camargo, no dia 9 de agosto do mesmo ano, como
mostra o boletim militar de número 176 de 09 de agosto de 1938.
O jornalista
Melchiades da Rocha solicita um inventário dos Espólios dos Cangaceiros mortos
na grota do Angico, a fim de leva-los, ou parte deles, e expô-los na Capital do
País, Rio de Janeiro.
“(...)
Coincidentemente, foi no dia 09 de agosto que foi feito o “inventário” dos
objetos de Lampião que foram entregues ao jornalista Melchiades da Rocha para
serem expostos no Rio de Janeiro (...).” (“LAMPIÃO – SUA MORTE PASSADA A LIMPO”
– BASSETTI, José
Sabino. e MEGALE, Carlos César de Miranda. 1ª edição)
Fica evidente
que boa parte das armas, o dinheiro, as joias e o ouro que estavam em posse dos
cangaceiros foram arrematados em Santana do Ipanema, AL, ou mesmo antes.
Lembremos que as cabeças chegaram a Piranhas, AL, no dia 28 e só no outro dia,
numa sexta-feira, 29 de julho de 1938, é que seguiram para a sede do II
Batalhão.
Não esperavam,
os comandantes, tanta repercussão sobre a morte dos bandidos que há muito tempo
aterrorizavam os sertões nordestinos. Autoridades de outros Estados, a imprensa
e a população geral, queriam ver os objetos que pertenceram ao bando de
Lampião. Não existindo outra forma, naquele momento, fora colocado armas e
outros objetos substituindo os verdadeiros, como forma de dar uma satisfação a
todos. E, naquele momento, teve êxito. Quanto aos objetos de valor, ouro joias
e o dinheiro, não ocorreram substituições, apenas teve-se notícias de uma joia
aqui, outra ali... E assim sucessivamente.
“(...)
baseados em documentos da Polícia Militar de Alagoas, entrevistas de
ex-militares e nos relatos do jornalista Melchiades da Rocha, podemos afirmar
que a grande maioria dos objetos de Lampião, Maria Bonita e dos demais
cangaceiros, fez o trajeto de Piranhas até a sede do II Batalhão em Santana do
Ipanema onde, desprezando-se completamente a lei, houve a divisão entre os
comandantes (...).” (Ob. Ct.)
Após tantas
informações notamos a confusão que se deu no comando militar, depois que é
concedido ao jornalista o direito de levar os objetos para ficarem em
exposição. A pressa é inimiga da perfeição, e mais uma vez, isso nos é
confirmado quando o ‘procedimento de carga’ desse Espólio fora feito. Não fora
incluído no mesmo a quantidade, tipo, nem a numeração. Segundo os autores,
Bassetti e Megale, até fora dada saída em objetos que não tinham sido
catalogados na entrada, ou seja, apreendidos.
Não somos ‘donos’ da verdade, porém, procuramos ir buscá-la aonde ela encontra-se. A história muda a cada dia, devido a descobertas de novos fatos ocorridos em cada período.
Fonte “LAMPIÃO
– Sua morte passada a limpo” – BASSETTI, José Sabino. e MEGALE, Carlos César de
Miranda. 1ª edição.
Foto Armas On-Line
História Militar Online
Lampiãoaceso.com
Cangaçonabahia.com
Jornal Extra de Alagoas
Ob. Ct.
Fonte:
facebook
Página:
Sálvio Siqueira
Grupo:
OFÍCIO DAS
ESPINGARDAS
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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