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quarta-feira, 31 de maio de 2017

LAMPIÃO LEVAVA NO EMBORNAL UMA FOTO DO TENENTE JOÃO BEZERRA?

*Rangel Alves da Costa


Vasculhando baús antigos, rebuscando na poeira dos tempos algum conhecimento escondido, eis que encontro um retrato ilustrando uma notícia que me chamou bastante atenção. Retrato antigo, em preto e branco, com uma senhora e seus dois filhos, um menino uma menina. Pelas vestes, gente importante, de relevo social. Contudo, o mais instigante está na inscrição baixo da fotografia, onde se lê:
“Nos bolsos de ‘Lampeão’, depois do combate de Angicos, foi encontrado um maço de fotografias, entre elas um retrato do tenente João Bezerra, cuja tropa o abateria. A fotografia acima estava em meio aqueles documentos e é de pessoas que não foram identificadas por nenhum dos oficiais ou civis que a viram detidamente. A divulgação provavelmente resultará nessa identificação”.
Acaso seja verdadeira tal informação, ou seja, que Lampião levava consigo um maço de retratos e dentre os quais o de João Bezerra, fato que, desde já, pessoalmente reputo como duvidosa, muita indagação ainda há de surgir daquelas antigas veredas.


Por que Lampião levaria consigo um retrato de seu algoz, do comandante responsável pela sua morte? E ainda: Qual o interesse de Lampião em levar consigo fotografias de pessoas inusitadas ao contexto histórico? Por que logo uma fotografia de seu perseguidor? Por que um retrato dessa mulher com seus dois filhos?
Antes de me permitir algumas possíveis respostas, atento para uma reportagem divulgada à época do massacre de Angico, onde o Jornal O Povo, de 3 de agosto de 1938, relata acerca dos objetos conhecidos, mas que não foram encontrados com o Capitão Virgulino. Eis a manchete: “Desapareceu um anel de alto custo roubado por Lampeão”, e no subtítulo: “Também não foi encontrado o colar que o bandido trazia ao pescoço”.

Quer dizer, o jornal menciona acerca do roubo dos objetos pessoais de Lampião, porém em nenhum momento se refere ao achado tão importante e historicamente significativo nos seus bolsos ou no seu embornal. E tais fotografias certamente logo despertariam a atenção dos jornalistas. Então surgiria uma manchete do tipo: “Ao ser morto, Lampeão levava no bolso fotografia de seu algoz”.
Mas se tais fotos existiram mesmo, então outras perguntas logo surgirão, por exemplo: Lampião mantinha consigo o retrato do tenente Bezerra para reconhecê-lo melhor assim que o encontrasse? A confirmação de tal hipótese logo refuta a ideia de que eram conhecidos, até amigos, já tendo se encontrado diversas vezes.
Ora, se eram amigos, se se conheciam, não havia motivação alguma para que o líder cangaceiro carregasse no seu bolso ou embornal um retrato de um comandante da polícia volante que vivia em seu encalço. Certamente não seria por recordação de amizade ou por que alguém o teria presenteado com aquela foto.
Mas por quê? Não me recordo ter lido nada neste sentido. Comumente, quando um inimigo está no encalço de outro e não o conhece, é normal que leve um retrato. E assim será mais fácil confirmar quando do encontro. Mas se, como alguns ainda insistem em dizer, Lampião e Bezerra mantinham conluios, então por que o saudoso retrato junto ao Capitão?
E sobre o retrato daquela mulher e seus filhos? Será que Lampião estava na intenção de, como fizera em 1922 com a Baronesa de Água Branca, tomar de assalto a residência de tão proeminente figura? Ou mantinha o retrato consigo por ser uma recordação familiar ou de uma amizade distante? Nada disso pode ser confirmar.
Também muito difícil de confirmar a veracidade dos fatos envolvendo a presença de tais retratos junto ao Capitão Lampião. Acaso se confirme, há muito mais mistérios envolvendo Lampião e João Bezerra do que imagina nossa matuta filosofia.

Escritor
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