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domingo, 8 de julho de 2018

IMIGRANTES: UMA PARANOIA DE SEREM INIMIGOS


Por Luiz Serra

O imigrante bem tratado transmite a quem recebe um galardão de convivência na aldeia global. Em um dado tempo da história recente, o tratamento dado a imigrantes na Guerra foi muito cruel. A se lembrar os campos de concentração de alemães, italianos e japoneses, com suas consequências inomináveis detalhadas em livros e filmes.

Meu saudoso pai, Antônio Serra, foi imigrante de Portugal para o Brasil. Embarcou em 1940, aos 23 anos, no porto de Lisboa em um navio que fez história: o vapor Serpa Pinto, e viajava na 3ª classe por drástica reserva financeira. Uma viagem que levaria uma semana levou quase um mês pelas abordagens dos submarinos alemães, lembro-me de ele me contar das peripécias e riscos enfrentados pelo jovem imigrante.

Livro sobre o Serpa Pinto - terravista.blogspot

O Serpa Pinto foi um transatlântico que singrou o Atlântico durante a Segunda Grande Guerra. A história do paquete acabou em livro, O Navio do Destino, Rosine de Dion, pela editora Record.

O célebre transatlântico pertencia à Companhia Colonial de Navegação (lusa) e transportou durante todo o conflito mais de 100 mil passageiros.

Durante a viagem foi abordado em alto mar por um navio de guerra inglês e mais na costa da África por um submarino alemão. Apesar de Portugal ter se tornado neutro na guerra, as embarcações beligerantes queriam verificar quem estava a bordo. No caso do submarino alemão, os militares checaram a lista de passageiros atrás de passageiros ingleses ou judeus.

Submarino da classe U alemão - humansatsea.com

Contou-me meu pai da angústia que passaram durante os alarmes da possível presença nas proximidades de submarino U-Bolt alemão, quando então as máquinas eram paradas e o navio ficava por várias horas à deriva. Num dos episódios de parada os alemães ameaçaram afundar o navio e que os quase 600 passageiros deveriam embarcar em botes salva-vidas. Após o sufoco de algumas horas decidiram liberar o navio. Numa delas enfrentavam mau tempo e o navio oscilou desmedidamente e as malas acompanhavam o movimento ruidosamente.

Finalmente, após quase um mês o navio aportou no Rio de Janeiro. Meus tios o receberam para sua nova vida no Brasil. Anos após foi um comerciante do ramo de móveis e ofereceu emprego a muitos brasileiros.

Aqui a reprodução de artigo que assinei para o Blog Ponto de Vista, do jornalista potiguar e escritor Nelson Freire.

SEPARAR FILHOS DE PAIS: UM ATO DE LESA-HUMANIDADE

Penso que não importa se nessa era Trump tenha-se praticado tal ignomínia irreparável para o ser humano, até mesmo, se em governos anteriores, nos EUA, também se tenha configurada a mesma prática. Importa que os ensinamentos históricos e as decepções registradas em livros e nas telas da arte não fizeram, em boa parte, a humanidade evoluir societariamente. Não estamos falando de uma republiqueta isolada e apartada das leis, em um recôndito do globo, mas de uma poderosa nação, construída com suor e significativo aprendizado histórico, e que investe maciçamente em educação.

O Brasil igualmente revela estatísticas que espantam o mundo. Anunciam-se dezenas de milhares de assassinatos por ano, que não param de amenizar, nem ao menos estabilizar. Ao contrário, cidades antes pacíficas e atraentes já possuem as suas “gangues da marcha à ré”, ou de tráfico de drogas ou ainda de assaltos a banco na modalidade “novo cangaço”. Parecem capítulos de uma novela de terror.

Pintura de um porto século XVIII - alfradique

Mas relembrando um pouco as razões da expressão: crime de lesa-humanidade. Foi ditada nos tempos do pós-Guerra, e na referência aos ditames de Nuremberg, em 1950 e, sequencialmente, aprovados pela ONU. Mundo afora os mesmos princípios foram acolhidos pelos diversos tribunais penais internacionais, referendando a pressão para que os países membros da Organização das Nações Unidas investiguem tais crimes e procedam a punições cabíveis.

Neste âmbito de alcance aos crimes contra a humanidade, e na ótica das conclusões de Nuremberg, pode-se chegar os assassinatos em série; os casos de perseguição por motivos religiosos, políticos ou raciais, em tempo de paz ou de guerra, e conexos a estes estados; a deportação; os fatos de extermínios, e classificados internamente como tal, nos tribunais afeitos a cada nação.

No assunto em tela, estampado na mídia, na crise da imigração irremediável para tantos seres, e como tal tratada pelo mandatário norte-americano, a imagem ferina aos princípios elementares da dignidade humana fez crescer assustadoramente o clamor pela remediação do sofrimento daquelas inocentes crianças que mal compreendem por que as estão vivenciando.

O papel da imprensa é extremamente valioso no decurso da denúncia que atingiu mentes e corações por todo o mundo. No Brasil as notícias infames dos assassinatos crescem avassaladoramente e nos colocam praticamente dentro da cena dos crimes, que excedem em crueldade. Crimes em nosso país que, de tão desmedidos, podem perfeitamente serem classificados como atos vis de lesa-humanidade.

https://www.facebook.com/luiz.serra.14/posts/10211877009303054

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