João de Sousa Lima e
Antonio Amaury entrevistam Olindina Café
No rastro do
cangaço
Reportagem
especial conta a trajetória de João de Sousa Lima, um dos maiores pesquisadores
do cangaço
Por José
Augusto Araújo
Colaboração de
Dorisvan Lira
Teatro José de Alencar, junho de 2011, lançamento do filme “Os Últimos
Cangaceiros”. Filme sobre a trajetória e fim do cangaço, inspirado no livro
Moreno e Durvinha, escrito por João de Sousa Lima. Olhares atentos à telona,
João assiste o filme acompanhado de Aristéia Soares, ex-cangaceira, Damarys
Soares, nora da ex-cangaceira, Dinho, Nely, Inacinho e João Souto (todos filhos
de Moreno e Durvinha).
Já havia três
anos que Durvalina havia falecido e apenas um ano que Moreno seguiu sua eterna
companheira também nesse caminho. Seus filhos reviam seus pais com imensa
saudade, as lágrimas foram inevitáveis. Quatro anos antes fora mostrado no
Jornal Nacional o reencontro entre Moreno, Durvinha, Aristéia, todos
ex-cangaceiros e os dois ex soldados de volantes, Antonio Vieira (presente no
dia da morte de Lampião) e Teófilo Pires do Nascimento...
Foi essa a
primeira vez que o nome de João de Sousa Lima apareceu na imprensa nacional, e
marcou sua trajetória. Nesta reportagem especial contamos detalhes da carreira
de um dos maiores pesquisadores do cangaço na atualidade, confira.
Biografia (BOX?)
Ao norte do
estado de Pernambuco se encontra a mesorregião do sertão Pernambucano, onde a
vegetação é composta pela caatinga, o clima da região é o clima semiárido, onde
predomina as altas temperaturas e baixos índices de umidade relativa do ar. Já
mais próximo do litoral pernambucano se localiza a cidade de São José do Egito,
que fica a apenas 404 km da capital deste estado. Era nesse município que
morava o casal Raimundo José de Lima e Rosália de Sousa Lima juntos com seus
quatro filhos José de Sousa Lima, Manuel José de Lima, Maria Bernadete Lima
Santos e João de Sousa Lima.
Em meados de
1960 a economia pernambucana começava a se estruturar novamente, porém, a vida
no sertão nunca é fácil e sempre cobra seu preço. Por esse motivo, pouco tempo
depois do nascimento de seu quarto filho o casal decidiu mudar-se para no norte
da Bahia, mas precisamente para a cidade de Paulo Afonso, que havia pouco tempo
havia sido fundada e tombada como município. Esse quarto filho foi batizado de
João de Sousa Lima.
Chegando ao
novo município a família se alocou na “Rua da Frente”, próximo a Baixa Funda,
todos os irmãos de João eram mais velhos e dessa forma ele dividia seus dias
entre o estudo, na escola Casa da Criança I e na rua com seus primos que também
se mudaram para Paulo Afonso acompanhando os seus pais. Nesta época João não
imaginava que se tornaria um historiador, quanto mais o historiador renomado
que é hoje em dia.
Nasce o pesquisador
João de Sousa
Lima é antes de tudo entusiasta pelo cangaço, entusiasmo que contagia qualquer
um que o conheça. A fala segura, o cuidado com as palavras, ele é o ideal de
pesquisador, pois sempre reforça seu compromisso na busca e no relato dos
fatos. “O historiador tem compromisso com os fatos, não com as versões”,
comenta.
São cerca de
20 anos pesquisando sobre o Cangaço, luta caracterizada como revolucionária, em
que grupos armados desafiavam a autoridade do estado e teve como principal
líder Lampião (Virgolino Ferreira da Silva), ex-capitão da Guarda
Nacional. Episódio segundo ele ainda pouco explorado e cheio de distorções
tendo encontrado inúmeros absurdos.
O interesse
pelo tema começou em 1994, quando o amigo e professor Edson Barreto o
incentivou a pesquisar na região as inúmeras histórias de pessoas que viveram a
época do Cangaço. “Depois desse dia, quando travei contato com as pessoas que
haviam vivido a saga do cangaço, nunca mais consegui parar de pesquisar”, conta
João.
Praticamente
um Indiana Jones do Cangaço, no seu trabalho pioneiro sobre Lampião percorreu
mais de 12 mil km em uma moto CG (Honda) 125 cc, durante quatro longos anos
através das terras áridas do Raso da Catarina, reserva ecológica com 105
hectares. A experiência rendeu o livro “Lampião em Paulo Afonso”.
O que muitas
pessoas não sabem é que essa ligação de João pelo Cangaço também tem raízes de
sangue. Isso mesmo, ele é descendente de Antônio Silvino, chamado Rifle de
Ouro, cangaceiro conhecido por sua boa índole, que não roubava famílias nem
incomodava inocentes, só ia atrás de seus desafetos para cobrar as ofensas que
recebeu. Tanto conhecido pela boa índole que quando saiu da vida de cangaceiro
assumiu o cargo de feitor na construção de uma estrada, emprego dado pelo
presidente Getúlio Vargas.
O seu trabalho
já rendeu a publicação de 13 livros. O último deles se chama “LAMPIÃO, O
CANGACEIRO! Sua ligação com os coronéis baianos, Raso da Catarina e outras
histórias”, e foi lançado em outubro. De suas andanças pelo sertão João diz o
que lhe dá mais prazer:
“Poder
conhecer as pessoas da época, colher a história oral e real, conviver com
ex-cangaceiros, coiteiros, soldados volantes, foram momentos marcantes. Com
vários deles fiz grandes amizades, me tornei confidente. Muitos ainda estão
vivos, mesmo que beirando os 100 anos de vida. Essa é a parte mais gratificante
de tudo”, relatou o pesquisador.
Reconhecimento
Sua carreira é
nacionalmente reconhecida. Um dos episódios que remonta a construção dessa
trajetória foi contado no início dessa reportagem, quando um de seus livros,
“Moreno e Durvinha, sangue, amor e fuga no cangaço”, teve adaptação para o
cinema.
Nas mãos do
cineasta cearense Wolney Oliveira, que transformou a história desses dois
membros do bando de Lampião no filme “Os últimos cangaceiros”. A película
recebeu inúmeros prêmios no país e no exterior, entre eles o de Menção Especial
do Júri no 8° Amazonas International Film Festival (2011) e no México ganhou
como Melhor Longa-metragem Ibero-americano em 2012.
Na ocasião
ainda da obra sobre Moreno e Durvinha surgiu a oportunidade de realizar o
reencontro entre três ex-cangaceiros e dois ex-policiais da volante, o encontro
tornou-se reportagem para o Jornal Nacional e impulsionou ainda mais a
divulgação do seu trabalho.
Para ele,
outro trabalho lançado em 2011 lhe deu igual prazer. O livro “A Trajetória
Guerreira de Maria Bonita, A Rainha do Cangaço” marcou seu trabalho.
“Eu escrevi a
biografia dela, colhendo informações desde sua infância até a morte, foi o
primeiro trabalho especifico só sobre sua vida e hoje esse trabalho é uma
referência para quem estuda as mulheres e o cangaço, também foi um dos livros
que mais me deu prazer em concluir”, contou João.
Sobre a
personagem ele a descreve como “uma mulher que rompeu parâmetros de uma época
machista, andou a margem da lei, se apaixonou por Lampião e nas veredas
infinitas do sertão viveu sua mais interessante paixão”.
Historiador,
Escritor, Pesquisador, autor de 13 livros. Membro da Academia de Letras de
Paulo Afonso, onde ocupa a cadeira número 06 e da SBEC - Sociedade Brasileira
de Estudos do Cangaço.
Fomentador da
cultura
Além de
escritor e pesquisador, João de Sousa Lima é no momento Diretor de Cultura do
Município de Paulo Afonso. A frente dessa responsabilidade ele busca promover a
cultura local. Uma das primeiras inovações que trouxe foi transformar o Espaço
Cultural Raso da Catarina, outrora biblioteca em um espaço para exposições
artísticas e culturais.
"Quero
realizar alguns projetos com os artistas que vivem sua cultura que chamamos de
cultura marginalizada; dar apoio aos que nunca puderam publicar ou realizar
seus projetos por falta de apoio. Para isso, vamos buscar os Fundos Culturais
Federais e do Estado, para que possa continuar o processo de crescimento",
falou em uma entrevista o historiador.
Desenvolve
entre outros projetos o trabalho “Cultura e Arte” que levará a história para os
alunos e comunidades da Zona Rural, ministrando palestras em escolas públicas.
Apóia o grupo
“Os Cangaceiros” que há 56 anos reencena confrontos entre a volante e o bando
de Lampião. Ministra palestras em universidades, seminários e encontros
voltados para a educação e a cultura popular nordestina.
Uma de suas
ações mais notáveis ações para o resgate da história do cangaço foi o projeto
que recuperou e transformou em museu a casa onde Maria Bonita nasceu. A
residência localizada na área rural de Paulo Afonso hoje se chama Museu Casa de
Maria Bonita.
Instituições
que participa
· João
de Sousa Lima participa de algumas instituições dedicadas a pesquisa e ao
resgate e preservação da cultura, conheça algumas delas.
· É
imortal e criador da ALPA – Academia de Letras de Paulo Afonso e ocupa a
cadeira número 06.
· Sócio
permanente da SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço.
· Membro
e secretário da UNEHS – União Nacional de Estudos Históricos e Sociais, com
sede em São Paulo.
· Membro
fundador do IGH – MSPA - Instituto Geográfico e Histórico da Microrregião do
Sertão de Paulo Afonso.
· Membro
do CECA/NECTAS – Centro de Estudos da Memória do Cangaço – UNEB CAMPUS VIII.
O tesouro
Em sua casa
João guarda um verdadeiro tesouro, em suas prateleiras tem desde gramofones que
ainda tocam, até o facão que decepou a cabeça de Lampião, possui espadas que
foram usadas na batalha de Canudos, o punhal perdido por Maria Bonita em uma
situação que ela se viu ferida em meio a um combate e teve que ser carregada
para segurança.
Mas segundo o
próprio João o item mais valioso de sua coleção é o Punhal que pertenceu a
Lampião, que o presenteou a Militão Teixeira Lima, do povoado Olho D’água do
Souza. Militão repassou o punhal para seu filho, Irineu. João passou 14 anos
tentando comprar o punhal de Lampião até que um dia, para surpresa do
historiador, Irineu lhe presenteou com o punhal. Hoje João o guarda como um
tesouro inestimável.
João de Sousa
Lima é um expoente da pesquisa da história brasileira, especialmente de um
capítulo ainda negligenciado em nossos livros e escolas. Andarilho do sertão, A
marca que Lampião deixou em nossa terra fica evidente até os dias de hoje e
como a lenda de Lampião é imortal, também será imortal o trabalho de João,
responsável pela desmistificação do Capitão Virgolino Ferreira da Silva,
estudando os seus passos e quebrando as mentiras e lendas contadas acerca de
seus atos.
OLHO: “O
historiador tem compromisso com os fatos, não com as versões”
Livros
publicados
Conheça alguns
dos 19 títulos escritos por João de Sousa Lima:
· Lampião
em Paulo Afonso;
· A
Trajetória guerreira de Maria Bonita, a Rainha do Cangaço;
· Moreno
e Durvinha: sangue, amor e fuga no Cangaço;
· Maria
Bonita: diferentes contextos que envolvem a vida da Rainha do Cangaço;
· 100
Anos de Luiz Gonzaga;
· 100
Anos da Usina Angiquinho, O Rio São Francisco, Delmiro Gouveia e a CHESF;
· Na
Mala do Poeta I
· Na
Mala do Poeta II
· No
Silêncio do Ocaso.
· As
caatingas, debates sobre a ecorregião do Raso da Catarina.
· Ecologias
do São Francisco.
· Ecologia
de Homens e Mulheres do Semi-Árido
· Lampião,
o cangaceiro! Sua ligação com os coronéis baianos, Raso da Catarina e Outras
histórias.
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