Por Luna MarkmanDo G1 PE, em Exu
(Foto: Luna Markman / G1 PE)
Residência do Barão de Exu também fica na propriedade. Moradores da região se orgulham de contar toda a história do Rei do Baião.
Carros do Mato Grosso do Sul, Tocantins, Piauí, Ceará, Maranhão, Goiás, São Paulo, Espírito Santo e vários outros cantos do Brasil se dirigiram, na manhã desta quinta-feira (13), para uma fazenda emblemática em Exu, no Sertão de Pernambuco, a Araripe. É que ela ainda guarda construções que marcaram a vida de Luiz Gonzaga, como casas nas quais viveram os pais Januário e Santana, a Igreja de São João Batista, a residência do Barão de Exu. Um monumento ainda mostra o local onde nasceu a criança que se tornaria o Rei do Baião, há exatos cem anos.
A Fazenda Araripe fica a 12 quilômetros de Exu. Uma estradinha de areia e cascalho, envolta de caatinga seca, distante 800 metros da entrada do terreno, leva ao local onde Luiz Gonzaga nasceu, no dia 13 de dezembro de 1912. Era dia de Santa Luzia, mês do Natal, nascimento de Jesus. Daí a explicação do nome escolhido para o caboclinho, Luiz Gonzaga do Nascimento, segundo filho do sanfoneiro Januário e da agricultora Santana. O padre que batizou o menino sugeriu chamá-lo de Luiz por ter nascido no dia de Santa Luzia; Gonzaga porque o nome completo de São Luiz era Luiz Gonzaga; e nascimento, porque dezembro é o mês do nascimento de Jesus.
O bancário Edson Massariol conheceu o lugar acompanhado do pai Pedro Massariol, que já tinha estado em Exu, em 2008. "Sou fã de Luiz Gonzaga desde 1952, quando eu tinha 18 anos e ele se apresentou na praça da minha cidade, Colatina, no Espírito Santo. Eu já tinha escutado ele pelo rádio. A primeira vez foi como a sensação de comer uma coisa gostosa", brincou Pedro. Quando soube da comemoração do centenário, quis que o filho visitasse esse pedaço do Sertão. "Admiro muito a poesia, o talento de Gonzagão. E o Nordeste todo é muito diferente do nosso estado, apesar da seca, é muito bonito", falou Edson.
Dona Raimunda mora onde viveu Chiquinha Gonzaga, irmão velho Lua. (Foto: Luna Markman / G1 PE)
Saindo da estradinha de terra, entrando na única "rua" da Fazenda, com poucas casas em cada lado da via, uma de cor lilás chama atenção. O movimento é tão grande lá dentro quanto nas calçadas, cheias de turistas. Ali viveu Chiquinha Gonzaga, irmã do velho Lua. Hoje, é dona Raimunda de Souza, de 77 anos, quem habita o lugar, mais duas filhas e dois netos.
Ela fala, bastante orgulhosa, que seu pai, Jesus de Souza, era primo de Januário. Naquela época, primo de pai era tido como tio. E Santana foi madrinha dela. "Se eles eram boas pessoas? Ave Maria, demais. Eles tinham muita consideração por nós, um povo bom mesmo", lembrou dona Raimunda, monstrando as fotos dos célebres parentes penduradas nas paredes de reboco.
Agora, a lembrança que não sai da mente dela é a da chegada de Gonzagão, em 1946, após anos no Rio de Janeiro. Prestes a completar 18 anos, Luiz fugiu de casa após desavença com a a mãe para o Crato, no Ceará, onde ingressou no Exército. Pulou de quartel em quartel pelo Brasil, até chegar na capital carioca, onde também iniciou sua carreira artística, tocando sanfona. Só quando ingressou na gravadora RCA e tocou no rádio, considerou-se um artista "de verdade". Então, achou que era hora de regressar a Exu.
"Eu lembro como se fosse hoje. Tinha uns 13 anos. Luiz chegou de madrugada, mas a gente só soube de manhã. Eu tava na roça e mãe me buscou, dizendo que era para eu me arrumar. Fui na casa dele, fui apresentada a ele, que tava todo vestido de branco, sentado em um banco de [madeira] bodocó e a sanfona. Foi festa o dia todinho. Só de pensar que ele morreu, encho os olhos de água. Apesar de ser rei, ele tratava todo mundo igual", contou dona Raimunda, sem largar o braço da repórter. Ela gosta de contar essa história...
Casa de Januário e Santana, pais do Rei do Baião, foi o cenário da famosa volta do sanfoneiro para a terra natal, cantada em "Respeita Januário". (Foto: Luna Markman / G1 PE).
A cena de Luiz Gonzaga voltando para Exu já era famosa por causa da abertura da música "Respeita Januário", onde o sanfoneiro descreve o retorno. Muita gente também conheceu essa passagem por meio do filme "Gonzaga - De Pai Para Filho", de Breno Silveira. A casa de Januário ainda está na Fazenda Araripe, pintada de amarelo. Muita gente posa para fotos lá.
Os visitantes também registram imagens do casarão do Barão de Exu, que era dono das terras onde a cidade nasceria, no século 19. Ele também construiu a Igreja de São João Bastista, onde os restos mortais dele estão enterrados. A Igreja, inclusive, inspirou Luiz Gonzaga na canção "São João do Carneirinho". No terreno, ainda é possível ver a casa construída para Januário viver a partir de 1951. Hoje, o local é um restaurante.
A Fazenda Araripe amanheceu em festa nesta quinta, com um palco montado para receber 12 artistas de todo o Nordeste. Os estudantes cearenses Elisa Barbosa e Txai Costa aproveitaram o forró. "Está tudo muito animado aqui. Vou ficar até domingo [16], para ver a missa. Estou achando tudo lindo, a cultura, as sanfonas, o povo. Coisas que eu só ouvia falar", comentou Elisa.
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tópicos: Exu
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