por José Gonçalves do Nascimento
“O homem era
alto e magro... sua pele era escura, seus ossos proeminentes e seus olhos
ardiam como fogo perpétuo. Calçava sandálias de pastor e a túnica de azulão...
era impossível saber sua idade, sua procedência, sua história...”.
Este, o perfil
de Antônio Conselheiro na visão poética de Mario Vargas Llosa.
Antônio
Vicente Mendes Maciel (mais tarde conhecido como Antônio Conselheiro) nasceu no
dia 13 de março de 1830, em Quixeramobim, então província do Ceará. Quando
jovem, frequentou uma das poucas escolas existentes na região. Ali estudou
Português, Aritmética, Geografia, Latim e Francês. Por esses tempos, já
demonstrava interesse pela leitura da Bíblia.
Após longos
anos de intensa peregrinação, aporta Antônio Conselheiro em Canudos, antiga
fazenda de gado, situada às margens do rio Vazabarris. As terras ali eram
úmidas e férteis, devido às águas do grande rio, o que proporcionava boa
agricultura. A vegetação à base de arbustos e favelas favorecia a criação de
bode. A pele deste animal chegou a ser exportada para o exterior. Em quatro
anos apenas (1893-1897) o arraial aglomerou de 10 a 15 mil pessoas, sendo uma
das maiores concentrações populacionais do estado da Bahia. Canudos era uma
comunidade solidária. Ali cada um possuía de acordo com suas necessidades.
Havia escola e serviço de saúde. O povo vivia decentemente e não dependia dos
"coronéis".
Não demorou
muito e Canudos começou a abalar a velha e ultrapassada estrutura rural. A
“Canaã do Povo” corria perigo. Em novembro de 1896, tem início a perseguição
contra a comunidade de Antônio Conselheiro. Com o propósito de construir uma
igreja maior em Canudos, o peregrino negocia compra de madeira em Juazeiro. O
material comprado e pago, não foi entregue no prazo determinado. A construção
não podia ser interrompida. Os canudenses, então, tomam a iniciativa de irem,
eles mesmos, a Juazeiro,a fim de conduzir a madeira até Canudos. A notícia
chega à cidade san-franciscana e soa como um alarme aos ouvidos do juiz daquela
comarca, Dr. Arlindo Leoni, antigo desafeto do Conselheiro. O magistrado
alarmou por toda a cidade e vizinhança que os canudenses estariam preparando um
saque à feira de Juazeiro. Era a oportunidade que Leoni esperava, para acertar
contas com Antônio Conselheiro.
RESISTÊNCIA ÀS
EXPEDIÇÕES
Sob pretexto
de que a cidade de Juazeiro estava prestes a ser invadida por moradores de
Canudos, Arlindo Leoni requisita do governador da Bahia, Luiz Viana, proteção
policial, a fim de conter a suposta invasão. O juiz é atendido, e para Juazeiro
é enviada a primeira expedição militar, que é derrotada pelos canudenses no
combate de Uauá.
Imediatamente
é organizada a segunda expedição que, sob o comando do major Febrônio de Brito,
tinha 543 praças, 14 oficiais e três médicos. Essa expedição também não logrou
êxito. Foi batida pelos sertanejos, que se valiam de armas rústicas, como
espingardas, facões, machados.
Para comandar
a terceira expedição contra Canudos, escolheram “a maior estrela do
florianismo” – na expressão de José Antonio Sola – o coronel Antônio Moreira
César, já famoso por ter liquidado a Campanha Federalista de Santa Catarina.
Dita expedição reunia 1.300 homens. Também foi derrotada pelos seguidores de
Antônio Conselheiro. Moreira César morreu no início dos combates.
A quarta
expedição, destinada a fechar o cerco contra Canudos, foi dividida em duas
colunas. Uma coluna partiu de Sergipe, a outra de Monte Santo. A primeira,
comandada pelo general Savaget; a segunda sob o comando do general Silva
Barbosa. Tal expedição contava com batalhões de 11 estados da Federação.
Depois de
obstinada resistência, tanto do lado do Exército, como do lado dos sertanejos,
Canudos, finalmente, é derrotada. Foi quase um ano de resistência. Tombou por
completo no dia 5 de outubro de 1897. Antônio Conselheiro morreu no dia 22 de
setembro. No dia 06 de outubro seu corpo foi exumado, decapitado e seu crânio
levado a Salvador, a fim de ser cientificamente examinado.
Euclides da
Cunha, jornalista que acompanhou o desenrolar da quarta expedição, escreveu no
final d'Os sertões”, o seu livro vingador: “Canudos não se rendeu. Exemplo
único em toda história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a
palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5 ao entardecer, quando
caíram os seus últimos defensores que todos morreram. Eram quatro apenas: um
velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam
raivosamente cinco mil soldados”.
Poeta e
cronista
jotagoncalves_66@yahoo.com.br
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