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sexta-feira, 17 de março de 2017

AS MANDALAS E A ARTE DO CHAPÉU DE COURO

Por Geziel Moura

Recentemente, participei na qualidade de ouvinte, de palestra proferida na Universidade Federal do Pará, pelo Prof.Dr. Amilcar Martins, pesquisador da Universidade Aberta de Lisboa, e especialista em "Mandalas", assunto que foi tema principal de sua conferência. No final da fala do professor, mostrei a ele, algumas imagens dos florais que ornamentaram, as indumentárias dos cangaceiros, principalmente os chapéus, e perguntei se era possível considerar, tais elementos artísticos, como "Mandalas", no que de pronto me respondeu "Possui elementos de "Mandalas", mas não se caracterizam como elas".


Minha pergunta, não tinha como objetivo, encontrar pontos de semelhanças entre uma produção artística, proveniente da China e do Japão, para encontrar origem e/ou justificar aquelas que foram fabricadas pelos cangaceiros nordestino, tenho ciência, que o fenômeno do cangaço e suas formas estéticas, não segue uma continuidade de culturas, diferentes ou estranhas, daquelas que os próprios cangaceiros experimentaram e estavam inseridos, ou seja, a cultura nordestina, em última análise. Porém o que eu queria, com a pergunta, pensar pontos de "avizinhamentos", daquela cultura asiática com a cultura do cangaço, sem ter a pretensão, como disse anteriormente, de estabelecer condições, do aparecimento de uma, em função da outra, isto de fato, não existe.


As "Mandalas" assim como os símbolos florais dos cangaceiros, foram/são produzidos a partir de um circulo, e no interior deste aparecem a complexidade de diversas figuras geometricamente exatas, e há certo caráter de expressão artística e religiosa, no intuito de sua fabricação.


Temos, portanto, dois elementos a pensar sobre as "Mandalas" e os elementos florais dos cangaceiros: O primeiro é a presença do círculo, em ambas expressões artísticas, que para a cultura asiática significa, concentração de energia e a segunda são as formas geométricas dentro daquele círculo, sendo que na arte dos cangaceiros, tais figuras são mais simples, que nas "Mandalas".


O pesquisador Frederico Pernambucano de Mello que grande contribuição deu para a historiografia do cangaço e a arte dos cangaceiros, manifestou em seu livro "Estrelas de Couros : A Estética do Cangaço, que os símbolos estilizados, nos equipamentos dos cangaceiros, tinham funções ornamentais e principalmente espirituais, que ajudavam na proteção, daí serem colocados na parte frontal e traseira do chapéu, defendendo os males que vem pela frente e pela retaguarda.


Parece-me razoável pensar, que tais símbolos, sempre existiram no cotidiano dos sertanejos, surgem nas fachadas das igrejas, casas e cemitérios, a novidade é que tais símbolos, deixaram a arquitetura e passaram a compor o vestuário do cangaceiro, produzindo a estética do cangaço e do nordeste.

Fotos: Estrela de Couro: A Estética do Cangaço
Fotos: Geziel Moura

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