Por Geraldo Maia do Nascimento
Mossoró
nasceu ao redor da capela de Santa Luzia. Um pequeno agrupamento humano foi
surgindo, lento mas progressivamente, até formar o Arraial. Em meados do ano de
1838, iniciou-se a luta pela criação da Freguesia, pois esse era o caminho natural
para se tornar município. Nas palavras do mestre Câmara Cascudo, \"elevar
a pequenina capela ao predicativo de Matriz era o desejo de todos\". E a
Matriz foi instalada em 1842. Segundo o costume da época, o poder espiritual
deveria chegar antes, para preparar o terreno para o poder temporal. A primeira
batalha estava vencida, mas muito ainda restava para ser conquistado. E dez
anos se passara até que em 15 de março de 1852, através da Lei Provincial de nº
246, o povoado passou à categoria de vila. Essa medida estabeleceu a criação da
Câmara, desvinculando-se politicamente da cidade de Açu.
Surgia,
todavia, um problema: como a emancipação foi um ato político e não econômico,
já que Mossoró não era dotada de nenhuma atividade econômica que propiciasse a
necessidade da autonomia, gerou uma série de atritos para definir quem
assumiria o poder da vila. E a população partiu para sua primeira eleição, que
seria para a Câmara e Juiz de Paz.
Para
essa primeira eleição, dois partidos concorriam: Nortistas e Sulistas, também
chamados de Liberais e Conservadores. Os Liberais eram chefiados por Irineu
Soter Caio Wanderley e os Conservadores pelo vigário Antônio Joaquim. Venceram
os Conservadores, numa eleição bastante conturbada, na qual elegeram o padre
Antônio Freire de Carvalho, que assumiu a frente da primeira Câmara, no dia 24
de janeiro de 1853. Segundo o historiador Luís da Câmara Cascudo, \"com a
posse dos eleitos, um grupo de cidadãos recrutados no seio das mais
tradicionais famílias de Mossoró, instalou-se, oficialmente, a administração
autônoma do Município de Mossoró\".
Acontece
que os Conservadores procederam à eleição na Igreja Matriz de Santa Luzia. Os
Liberais, no entanto, reuniram-se em uma casa próxima e passaram a tramar
contra a eleição que estava acontecendo. Dessa forma, mandaram os irmãos José e
David do Rosário tomar o livro das atas das mãos dos Conservadores. Os mesmos
assim fizeram, sendo, porém, o referido livro, retomado mais tarde pelos
Conservadores. Os Liberais, despeitados com o fracasso, fizeram disparar suas
armas para o lado da igreja, sem causar vítimas. E resolveram montar também uma
outra eleição, para tumultuar o processo. As atas das duas eleições foram
enviadas a Natal, sendo que a dos Conservadores foi a aprovada. Pela duplicação
da eleição, o presidente da Província multara os Juízes da Paz Liberais que
eram os senhores Manuel de Souza Nogueira e Irineu Soter Caio Wanderley em
duzentos mil réis cada um.
A
chapa eleita pelos Conservadores para o quatriênio 1853-1856, constava: como
presidente, o padre Antônio Freire de Carvalho, como vice João Batista de Souza
e como vereadores o tenente-coronel Miguel Arcanjo Guilherme de Melo, Vicente
Gomes da Silveira, Florêncio Medeiros Cortês, alferes Francisco Bertoldo das
Virgens e o professor Luís Carlos da Costa Júnior. Eram suplentes de vereador:
Sebastião de Freitas Costa, Simão Balbino Guilherme de Melo, João Lopes de
Oliveira Melo, Antônio Afonso da Silva, Antônio Nunes de Medeiros, Silvério
Ciríaco de Souza, Agostinho Lopes Lima, João Martins da Silveira Júnior, João
Francisco dos Santos Costa, Pedro José da Costa, Manoel João da Costa, Gil de
Freitas Costa, Raimundo Nonato de Freitas, Targino Lopes de Medeiros, João
Batista de Oliveira, Gonçalo Soares de Freitas, Manoel Nunes de Medeiros,
Manoel João da Silva, João Florêncio de Oliveira Melo, Gonçalo Lopes de
Oliveira e Manuel Januário Lopes de Oliveira.
Tudo
isso foi registrado na primeira Ata da Câmara Municipal de Mossoró. Este
documento é tido como marco inicial da sua administração autônoma, pois com ele
começava a história do governo de Mossoró.
Geraldo
Maia do Nascimento
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