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quinta-feira, 16 de março de 2017

CARTA DO PADRE CÍCERO A LUIZ CARLOS PRESTES

Do acervo do pesquisador Antonio Corrêa Sobrinho

Carta do padre Cícero Romão Baptista aos revolucionários comandados pelo comunista Luiz Carlos Prestes, a qual faz parte do discurso proferido, na Câmara Federal, em agosto de 1926, pelo deputado Baptista Luzardo. 

Luiz Carlos Prestes

Segundo o qual, uma tentativa de Padre Cícero de encaminhar junto a Carlos Prestes, um dos chefes da coluna de revolucionários, um entendimento que resultasse na pacificação, talvez, do Brasil. Luzardo ainda assevera que Cícero fez ver a Prestes os seus intuitos, pondo-se a serviço de uma nova, altiva e, por que não dizer, patriótica iniciativa de conseguir o apaziguamento do Brasil, pelo congraçamento generalizado, manifestando-se nos poderes públicos pela votação, pelo Congresso Nacional, de medida de alta política e significação social, de uma anistia ampla. Carta que não chegou às mãos de Carlos Prestes, embora amplamente noticiada pela imprensa. 

“CAROS PATRÍCIOS

Venho-vos convidar à rendição. Faço-o firmado na convicção de que presto serviço à Pátria, por cuja grandeza também devem palpitar os vossos corações de patriotas. Acredito que já não nutria esperanças na vitória da causa pela qual, há tanto tempo, pelejais, com excepcional bravura. É tempo, portanto, de retrocederdes no árduo caminho por que seguis e que, agora tudo está a indicar, vos vai conduzindo a inevitável abismo. Isto, sinceramente, enche-me a alma de sacerdote católico e brasileiro de intraduzíveis apreensões, dominando a de indefinível tristeza. Reflexo do meu grande amor ao Brasil, esta tristeza assevero-vos firmemente, é uma resultante do conhecimento que tenho dos inauditos sacrifícios que estais impondo à Nação, entre os quais incluo, com notável relevo, o vosso próprio sacrifício e dos muitos companheiros que são vossos aliados, na expectativa de resultados, hoje provadamente impossíveis. Confrange-me o coração e atormenta-me, incessantemente, o espírito esse inominável espetáculo de estar observando brasileiros contra brasileiros, em uma luta fratricida e exterminadora, que tanto nos prejudica vitais interesses no interior, quanto nos humilha e deprime perante o estrangeiro. Acresce que para uma nação jovem e despovoada como é a nossa, as atividades constantes de cada cidadão representam um valor inestimável no impulsionamento do seu progresso. De modo que, para se fazer obra de impatriotismo, basta contribuir-se para a paralisação dessas atividades ou para o desvio da sua aplicação construtora. É o que estais fazendo involuntariamente, talvez. 

Assim sendo, é claro que se outros vultosos males não acarretassem ao país a campanha que contra ele sustentais, bastaria atentardes nesta importante razão, para vos demoverdes dos propósitos de luta em que persistis. Entretanto, deveis refletir ainda na viuvez e na orfandade que com penalisadora abundância, se espalham por toda parte, na fome e na miséria que acompanham os vossos passos, cobrindo-vos das maldições dos vossos patrícios, que não sabem compreender os motivos da vossa tormentosa derrota, através do nosso grandioso Hinterland. É, pois, em nome destes motivos superiores e porque, reconhecendo o valor pessoal de muitos dos moços que dirigem esta malfadada revolução, que ouso vos convidar e a todos os vossos companheiros a depordes as armas. Prometo-vos, em retribuição à atenção que deste a este meu convite, toda as garantias legais e bem assim me comprometo a ser advogado das vossas pessoas perante os poderes constitucionais da Republica, em cuja patriótica complacência muito confio e deveis confiar também. Deus queira inspirar à vossa resolução, que aguardo com ansiedade e confiança.

Deus e o amor da Pátria sejam vossos orientadores, neste momento decisivo da vossa sorte, cujos horizontes me parecem toldados de sombrias nuvens. Outrossim, é meu principal desejo vos salvar da ruina moral em que insensivelmente, vos estais embrenhando, com os feios atos e desregramentos consequentes da revolução e que certamente, vos conduzirão a uma inevitável ruina material. Lembrai-vos de que sois moços educados valentes soldados do Brasil impulsionados neste vosso corajoso tentâmen por um ideal, irrefletido, embora, e que, entretanto, estais passando, perante a maioria dos vossos compatriotas que celerados comuns, já se vos tendo comparado, na imprensa das capitais, aos mais perigosos facínoras do Nordeste. Isto é profundamente entristecedor. Deixai, portanto, a luta e voltai à paz: – paz que será abençoado por Deus, bendita pela Pátria e aclamada pelos vossos concidadãos, e, pois, só vos poderá conduzir à felicidade. Deus e a pátria assim o querem e eu espero que assim o fareis. Com toda atenção subscrevo-me, vosso patrício muito grato. – Padre Cícero Romão Baptista.

(Reconheço ser verdadeira a firma supra do Padre Cícero Romão Baptista. Dou fé. Em testemunho (estava o sinal público) da verdade. Juazeiro, 20 de fevereiro de 1926. – O 2º tabelião público, Luiz Teófilo Machado.”

FONTE: Jornal o GLOBO, de 13/08/1926
Imagens: Cícero Romão e Carlos Prestes

Facebook: Antonio Corrêa Sobrinho

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